Em Curaçá, o vício do vice-prefeito

“Os vices são como os ciprestes. Crescem à beira do túmulo” (Sebastião Nery).

Em Curaçá, graças a Deus, o vice-prefeito do município não conseguiu emplacar a máxima comum aos vices e, portanto, não cresceu.

Longa vida e saúde ao prefeito Pedro Oliveira (PSC) e ao seu vice-prefeito também.

Conforme a legislação pátria, a possível assunção do vice, em qualquer esfera de poder – municipal, estadual e federal – é sempre uma expectativa de direito. E só.

Por óbvio, a substituição, pelo vice, nos impedimentos e demais casos previstos em lei, ocorre sob os escombros do titular.

Em Curaçá não é diferente, não pode ser diferente.

Entretanto, a imprensa noticiou que o vice-prefeito do simpático município sanfranciscano está um tanto magoado com o titular porque, segundo publicado, o vice sente-se tolhido, inclusive no que tange à estrutura física que lhe foi negada pelo prefeito, gabinete, por exemplo, que entende ser direito seu.

Diz o vice: “Eu não tive direito nem ao meu gabinete”. Este escrevinhador pergunta: e tem?

Parece razoável entender que vice-prefeito é uma função política. Ele deve sustentar-se por si só, independentemente de estrutura custeada pela Prefeitura.

Excetua-se a hipótese de o vice ser nomeado para uma secretaria, por exemplo, ou qualquer outro cargo na estrutura da municipalidade, o que a lei não proíbe.

Mas daí, exigir estrutura – gabinete, por exemplo – parece uma infantilidade, mesmo que a lei permita.

O vice-prefeito desempenha função política móvel e permanente. Pode fazer política em qualquer tempo e lugar, independentemente de ter gabinete fixo ou concordância do prefeito.

O vice de Curaçá aduz, ainda: “foram dez meses tentando diálogo com o prefeito”.

Tirante os exageros, convenhamos que o prefeito de Curaçá não é tão importante assim a ponto de não ter conseguido, em sua agenda, em “dez meses”, sequer uma brecha para atender o seu vice-prefeito e dar-lhe um abraço, mesmo que de urso.

A cidade de Curaçá é pequena. As pessoas tropeçam-se entre si, inclusive prefeito e vice.

O vice-prefeito de Curaçá, que não conheço, parece magoado pela indiferença do alcaide-mor.

O vice está se apequenando: ele existe, por si só, independentemente dos afagos do prefeito. O vice é vice e não depende do titular. A voz das urnas credenciaram-no assim.

O prefeito Pedro Oliveira, que também não conheço, parece mal assessorado, neste particular. Por que não atender o vice?

Todavia, o prefeito deve ter suas razões para não atender o vice, se é que procede esse lenga-lenga, mas política é a arte de conviver com os contrários. Cadê a assessoria política do prefeito?

Este escrevinhador andou telefonando para algumas fontes de Curaçá, tendo em vista o lamento do vice. Todas são unânimes em dizer que “em época de eleição é assim mesmo, todo mundo quer aparecer”. A carapuça parece ter-se adequado ao vice-prefeito.

Há muito chão para pisar até as eleições municipais de 2020. Haverá de tudo em Curaçá, menos grandeza política.

O vício do vice, em Curaçá ou qualquer lugar, é achar que tem as mesmas prerrogativas do titular. Não tem.

araaujo-costa@uol.com.br

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