O mapa que as urnas desenharam

“Acima da Pátria, ainda há alguma coisa: a liberdade” (Ruy Barbosa, 1849-1923)

As urnas de 2020 começaram a impor limites à esquerda e ao bolsonarismo exacerbado e, por extensão, ao extremismo político-ideológico.

Esquerda e direita saíram das urnas fragorosamente derrotadas. A liberdade indevassável do eleitor falou mais alto.

As urnas acomodaram políticos mais alinhados ao centro, embora já conhecidos.

A retumbância mais notada foi a incapacidade do ex-presidente Lula da Silva de ajudar eleitoralmente seus aliados. Lula é experiente e esperto, mas eticamente atrapalhado, o que não é nenhuma novidade.

Em Recife, Lula apostou todas as fichas em Marília Arraes e abandonou o filho de Eduardo Campos. Eduardo Campos foi seu elogiado ministro de Ciência e Tecnologia.

João Campos (PSB) ganhou a eleição, apesar de Lula e graças a Lula. A lógica e a ética recomendam que Lula devia, no mínimo, ter ficado neutro na disputa, mas ele caminhou em sentido inverso e até prometeu ir à posse de Marília Arraes.

Lula amargou derrota pessoal no Recife e o PT amargou em todas as demais capitais e em alguns municípios de grande porte, o que já se esperava.

Todavia, nada acontecerá de extraordinário no Recife, apesar disto. Vitorioso e derrotada são da mesma tradicional família Arraes e agora, certamente, voltarão a frequentar o mesmo seio familiar, as mesmas cozinhas.

No mapa que as urnas desenharam em todo o Brasil ficou clara a rejeição aos candidatos da esquerda e aos candidatos apoiados pelo presidente da República.

Bolsonaro parece ter notado que atrapalhava mais do que ajudava e ficou um tanto quieto durante a campanha eleitoral, com algumas exceções pouco notadas.

As urnas trouxeram outras novidades.

Na Bahia, feudo do PT, o querido governador dos baianos Rui Costa perdeu nos grandes municípios, a exemplo de Salvador, Juazeiro, Feira de Santana e Vitória da Conquista, dentre outros.

Em São Paulo, o invasor de propriedades Guilherme Boulos (PSOL) deu uma rasteira nos petistas já no primeiro turno e abocanhou votação estrondosa, mas insuficiente para ganhar a Prefeitura, que continua com o PSDB.

O governador-pavão João Dória se encarregará de enterrar o partido. É só esperar.

Os petistas vêm olhando diferente para Boulos desde o primeiro turno. Boulos goza da admiração de Lula da Silva e muitos petistas têm ciúme. Lula também tem predileção por Manuela D`Avila (PCdoB) do Rio Grande do Sul, que saiu derrotada nas urnas, embora esquerdistas dessem a vitória como favas contadas. 

A ultra esquerdista jornalista e comentarista Natuza Nery, da Globo News, fez impressionante contorcionismo para tentar demonstrar que, apesar da vontade contrária das urnas, o PT e Guilherme Boulos saíram vitoriosos nessas eleições.

Não conseguiu. Trampolinagem intelectual desnecessária.

Faltou o célebre mestre da Escolinha do Professor Raimundo para ponderar: menos Natuza, menos, menos…

Entretanto, o que vale mesmo é o mapa que as urnas desenharam.

A liberdade está acima da Pátria e parece estar curando a cegueira popular, afastando a ridícula polarização esquerda-direita e substituindo-a pela sensatez.

É um bom sinal. Aguardemos 2022.

araujo-costa@uol.com.br

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