Em Patamuté, uma imagem de desolação e desamparo

Igreja de Patamuté/crédito: José Valberto Matos Leite

Nesta quadra do tempo, como dantes, a Igreja Católica Apostólica Romana cada vez mais se mantém distante de seu rebanho.

Mater et Magistra, mãe e professora,  a Igreja Católica vem perdendo fiéis, ao longo dos anos. Assim atestam as estatísticas e as razões estão aí claras, cristalinas, palpáveis: a indiferença em relação aos fiéis.

A Igreja vem se descuidando de seu rebanho e, em razão disto, principalmente, dá-se o êxodo de católicos para outras denominações cristãs, mormente evangélicas.

Isto não significa dizer que a opção por outras religiões seja ruim. Ao contrário, Deus é único e onipresente, mas a Igreja Católica tem-se mostrado incapaz de manter em seu rebanho as pessoas que batizou.

Em consequência, surgem agnósticos, trânsfugas e céticos de toda ordem.

A explicação é simples: o gritante e acentuado distanciamento entre bispos, padres, missionários e dirigentes da Igreja em relação aos distantes rincões que os separam de suas zonas de conforto, as sedes das dioceses e das paróquias.

A escassa participação dos jovens nas atividades paroquiais e, sobretudo, a falta de interesse relativamente ao sacerdócio são, basicamente, falhas sustentadas no imobilismo da Igreja.

Em 15/11/2021, a população de Patamuté sentiu-se estarrecida com este episódio, de todo injustificável: a Igreja não abriu as portas para que parentes e amigos fizessem as derradeiras orações diante do corpo de D. Domingas de Jesus e, portanto, antes do enterro (peço desculpas se o nome não estiver correto).

Ou seja: a Igreja estava fechada e assim se manteve. O féretro não pode entrar, os fiéis não puderam entrar.

Pior: ninguém da igreja local se dignou a informar à família da falecida, aos amigos e circunstantes a razão de tão inexplicável menosprezo e desamparo.

Se, por ordem superior, havia impedimento para abrir a Igreja, razoável que pelo menos se tivesse afixado um aviso na porta ou comunicado a população através das redes sociais tão comuns nos dias de hoje, inclusive em Patamuté.

Moradores de Patamuté dizem que este não é o primeiro caso, mas a população não se vê em condições de entender o descaso ainda, vez que a Igreja costuma abrir as portas para atividades religiosas, inclusive nesse tempo de pandemia.

A Igreja já foi mais presente em Patamuté.

Voltando ao caso do cortejo fúnebre de D. Domingas, a Diocese de Juazeiro e, por extensão, a Paróquia Bom Jesus da Boa Morte e São Benedito, de Curaçá, precisam explicar à população de Patamuté o que de fato impediu a abertura da Igreja. As regras devem ser conhecidas da população e não foram.

Este é o papel da Igreja, dentre outros: o diálogo com seus fiéis. Diálogo permanente e não somente em ocasiões de festividades locais, quando padres e bispo se fazem presentes.

A indiferença, o descaso e a desorganização são incompatíveis com o papel evangelizador da Igreja.

A Diocese e a Paróquia precisam conversar amiúde com a população de Patamuté, definir parâmetros segundo os quais as regras para abertura do templo sejam iguais, quer para celebrações, quer para orações aos fiéis defuntos, em seu interior.

Ou a Igreja abre suas portas para todos indistintamente ou as fecha também para todos.

As exceções são intoleráveis, inadmissíveis, inexplicáveis, injustificáveis.

Se a Igreja não acolhe seus mortos, quem os pode acolher?

araujo-costa@uol.com.br

Post scriptum (para os leitores de Patamuté que não me conhecem):

Fui batizado em junho de 1952 nesta mesma Igreja de Santo Antonio, de Patamuté.

Meus padrinhos de batismo foram Marieta Matos e Osmário Matos Torres, ambos filhos de Otaviano Matos.

Meu padrinho de crisma é Joãozinho Menezes.

Sou católico tradicional e um tanto conservador. Sou do tempo em que padre usava batina e do tempo em que padre não participava de “balada” regada à bebida alcóolica.

Aprendi a admirar grandes nomes do catolicismo de minha época. Conheci D. Thomas Guilherme Murphy, primeiro bispo da Diocese de Juazeiro, D. José Rodrigues de Souza, da Congregação do Santíssimo Redentor e fui amigo pessoal do padre Adolfo Antunes da Silva, que foi vigário da Paróquia de Curaçá. Com ele aprendi muito do que sou. E com D. Rodrigues, uma espécie de meu anjo da guarda.

Beirando a idade septuagenária, não abdico de minhas convicções católicas, mas não abro mão do direito de criticar minha Igreja, quando ela se desvia do seu mister. E como se tem desviado!

araujo-costa@uol.com.br

Uma consideração sobre “Em Patamuté, uma imagem de desolação e desamparo”

  1. Ótima matéria. Concordo em tudo que foi relatado. E notável e desleixo dos representantes da igreja naquela localidade tão importante .

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