
Lembro, como se fosse hoje, o dia em que lhe conheci. Faz tanto tempo!
Bairro Santa Terezinha, em São Bernardo do Campo. Eu e minhas filhas fomos lhe buscar.
Hoje, em minha solidão, passei por lá, logo cedo, para lembrar de você e aumentar a saudade. E chorar, chorar muito, sozinho, sem ninguém ver.
Naquele momento, você estava sendo adotada por nossa família, depois de um período de sofrimento nas ruas de São Bernardo do Campo, nos bairros de São Bernardo, nas incertezas, nos medos e nos desamparos de São Bernardo.
Imagino o que você sofreu antes de nos conhecer.
Polly, você fez parte de nossa família. Não havia distinção entre você e as pessoas da família.
Você dormia com todos nós, até escolhia onde e com quem queria dormir. E achávamos isso muito lindo, lindo como se a sua vida fosse a bondade em si. E era.
Você escolhia o que comer e até as músicas que lhe embalava o sono.
Quando, algumas vezes, você ficou doente, cuidamos de você, com muito carinho, sofríamos juntos. Você era levada aos médicos. Talvez você não entendesse, mas era o melhor que podíamos fazer por você.
Você cuidou da casa. Cuidou de suas amigas que adotamos: Hanna, Belinha, Lara. Cuidou de todos nós, cuidou da casa, cuidou do zelo da casa. Cuidou de nossa vida, do portão, avisava a presença dos intrusos, das pessoas indesejáveis.
Impossível esquecer de você, Polly.
Onde estão suas travessuras, Polly? Cadê o chão, que você cavava e jogava a terra no quintal? Cadê os passarinhos que você espantava?
Cadê sua presença, Polly?
Cadê sua presença ao me receber todos os dias no portão?
Você se foi ontem. Sofreu muito, antes de partir.
A gente sabia que seu sofrimento era insuportável. As dores que você sentiu, a gente sentiu junto, mas não podíamos evitar.
Chegou seu dia, Polly. Assim acontece ou acontecerá com todos nós.
Thábata era sua dona. Você sabia disto. Mas todos nós éramos seus amigos e você também sabia disto.
Sua ida deixou-nos um vazio enorme, Polly.
Eu, Thábata, Thamara, Thássia, Bruno, Otávio e Thales estamos tristes.
Às vezes choramos escondidos, mas choramos. E choramos muito.
Você foi fiel, Polly.
Enquanto idiotas e imbecis traem, você nunca traiu. Como Anaxágoras, filósofo grego, você certamente acreditava que “deve haver uma natureza transcendental organizadora de todas as coisas”, que é Deus. E Deus vê tudo, inclusive que todos nós continuamos a lhe amar.
Vá em paz, Polly
araujo-costa@uol.com.br
Para sempre te amaremos, Polly!
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