Dinheiro público, assalto e pergunta inoportuna     

“Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas não se dizem violentas as margens que o oprime” (Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão, 1898-1956).

– Você não está pensando em me assaltar, está?

– Não estava, mas é uma boa ideia.

Ato contínuo, o meliante aboletou-se ao pescoço da mulher, arrancou-lhe a corrente de ouro com pingente e escafedeu-se em meio à multidão.

Esse inusitado diálogo aconteceu no Rio de Janeiro e era contado pelo jornalista e escritor mineiro Fernando Sabino (1923-2004).

Vítima e assaltante estavam lado a lado, esperando o semáforo abrir para atravessarem a rua e a mulher notou que o homem não tirava o olho de seu pescoço.

Daí a pergunta incomum, inusitada, inoportuna.

Em seguida, a vítima comentou com outra mulher, que também estava ao seu lado:

– Também, eu fui perguntar!

Portanto, não perguntemos a nossas autoridades se elas estão pensando em nos assaltar. Sempre estão.

O complô político-eleitoral que Lula da Silva e o outrora conservador e ex-governador paulista Geraldo Alckmin estão fazendo, não deixa dúvida: vem assalto por aí.

A explicação é simples: se, antes, Geraldo Alckmin dizia que Lula é amigo do alheio e pretendia “voltar à cena do crime” e, agora, ele se aliou ao ex-presidente, então se presume que Lula vai continuar com a prática delituosa, se é que praticou alguma vez. Alckmin, por sua vez, de crítico feroz e adversário de Lula, passou a ser seu cúmplice.

Mudando de assunto – e ficando no mesmo assunto, que é assalto – a imprensa noticiou fartamente que nossas Forças Armadas gastaram uma fortuna com a compra de viagra, prótese peniana, botox e outras coisas mais, que custaram milhões de reais aos cofres públicos. 

Das duas, uma: ou nossos valorosos militares estão frequentando mais as camas do que os quartéis ou a história está mal contada.

Do alto de minha ignorância – ainda tenho muito o que aprender – eu pensava que nossas Forças Armadas estavam cuidando da Pátria e não desses assuntos que qualquer civil entende.

A ISTOÉ, dentre outros órgãos de imprensa, publicou que as Forças Armadas compraram 35.320 comprimidos de viagra e gastou R$ 3,5 milhões em prótese peniana.

A lista de compras inclui botox e remédio para calvície que, como se sabe, são produtos usados em procedimentos estéticos e não em operações militares.

O combativo general Mourão, vice-presidente da República, disse que há cem mil velhinhos militares que precisam de remédio para disfunção sexual e, logo, em sua avaliação, não é muita coisa essa quantidade de medicamentos comprados.

Mas o vice-presidente de nossa combalida República não explicou se é obrigação legal dos pagadores de impostos, aos quais me incluo, cuidarem da vida sexual dos militares, sejam eles viris soldados ou velhos vaidosos e assanhados.

De qualquer modo, parece que os brasileiros estão sendo assaltados de todos os lados. Sorrateiramente.

O desperdício acintoso de dinheiro público é uma violência que nos oprime e nos constrange, enquanto milhões de brasileiros passam fome e outras privações.

Portanto, não devemos perguntar aos nossos respeitáveis agentes públicos que nos governam:

– Você não está pensando em me assaltar, está? 

A autoridade perguntada pode achar uma boa ideia.

araujo-costa@uol.com.br

Uma consideração sobre “Dinheiro público, assalto e pergunta inoportuna     ”

  1. Fale das motociatas bancadas com dinheiro público, do escândalo no MEC promovido entre o Presidente e diversos pastores, dos ônibus escolares superfaturados, dos decretos de sigilo por 100 anos efetuados pelo Presidente da República. O Presidente da República é corrupto também, mas está sendo poupado. Não entendo.

    Curtir

Deixar mensagem para Dijalma de Assis Santana Cancelar resposta