O coronelismo dará vitória a Lula no Nordeste

ACM e o neto, candidato ao governo da Bahia em 2022/Foto Google

Em entrevista ao Jornal do Brasil em 07 de setembro de 1986, o poderoso líder político Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), ex-tudo da Bahia e quase ex-tudo do Brasil, delineou, com extrema agudez e sagacidade, o que é coronelismo nordestino.

O jornalista Ricardo Noblat, à época no JB, quis saber de ACM, como ele tinha conseguido eleger João Durval governador da Bahia, em tão pouco tempo de campanha, embora politicamente inexpressivo e desconhecido da maioria dos baianos.

– “Com o chicote numa mão e o dinheiro na outra”, respondeu Antonio Carlos Magalhães.

Ricardo Noblat conta a história e também está no livro Memórias das Trevas, do jornalista baiano João Carlos Teixeira Gomes (1936-2020), honra e glória do Jornal da Bahia e membro da Academia de Letras da Bahia.

ACM era tão poderoso que em 13 de outubro de 1982 disse ao repórter Armando Rollemberg, da IstoÉ: “Se eu quisesse, faria você governador da Bahia”.

João Durval Carneiro, obscuro ex-vereador e ex-prefeito de Feira de Santana se elegeu governador para o período de 1983-1987 sob as bênçãos de Antonio Carlos Magalhães.

O candidato de ACM era Clériston Andrade (1925-1982), pastor da Igreja Batista que, em campanha eleitoral, faleceu pouco mais de um mês antes das eleições de 1982, em acidente de helicóptero lá para as bandas de Caatiba.

Às pressas, ACM foi buscar João Durval Carneiro e o elegeu governador com 53,3% dos votos.

Nada mudou na Bahia e no Nordeste por inteiro.

O voto ainda é de cabresto, embora os cientistas políticos neguem e nós nordestinos não admitimos.

O eleitor ainda se apega e vota nos candidatos indicados pelos chefes políticos locais, os “coronéis” donos de muito dinheiro e prestígio político, com exceção de pouquíssimas lideranças que foram surgindo ao longo do tempo, mas são efêmeras e logo se dissiparão como cinzas ao vento.

O que menos conta na hora de votar é a convicção ideológica, o discernimento político.

Há exemplos claros, inegáveis e indubitáveis desses “coronéis”, para ficar somente em alguns nomes: os Calheiros, em Alagoas; os Ferreira Gomes, no Ceará; os Coelho, em Petrolina.

Essas famílias poderosas comandam e direcionam o voto há décadas e indicam o caminho para o eleitor desinformado e pouco interessado com os meandros da política.

Lula da Silva, “malandro moderno” e experiente, forjado nos sindicatos e nas greves do ABC Paulista e negociador hábil, aliou-se aos “coronéis” do Nordeste e com eles ganhará os votos da maioria dos nordestinos na eleição presidencial de 2022.

Os indicadores apontam para isto. Lula escorrega para o lado mais favorável, mais propriamente, para o lado que tem dinheiro. E o dinheiro está com os “coronéis” inescrupulosos e corruptos.

Eleitores nordestinos têm medo de represálias e perseguição dos chefes políticos locais e, alguns poucos, se manifestam timidamente sobre a atuação desses políticos, mais por fanatismo do que por convicção. É o que se vê nas redes sociais. O fanatismo está atrelado aos favores que recebem.

Tristemente, no Nordeste, as pessoas ainda elogiam prefeitos, vereadores e governadores, como se fossem seus protetores e a eles devessem favor.

A limpeza de uma barragem ali, a viabilidade de máquina para consertar uma estrada vicinal acolá, um emprego para um parente ou amigo, o transporte de um doente, uma banda de música de gosto duvidoso para a festa local e por aí vai.

Tudo é visto pelo eleitor como se fosse favor do governante e não obrigação realizada com dinheiro público.

Pior: os políticos inescrupulosos cobram isto do eleitor através do voto.  

Como no tempo de ACM, “o chicote numa mão e o dinheiro na outra” ainda decidem as eleições. Continuarão decidindo.

No Nordeste, Lula da Silva está feliz como pinto no lixo. E vai levar, além dos votos, muitos xingamentos dos adversários.

araujo-costa@uol.com.br   

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