
Antonio Tomaz Rodrigues da Silva vem de uma ascendência que ajudou na construção do lastro cultural de Curaçá e o sustentou durante décadas.
A descendência segurou o bastão e mantém o esteio dessa nossa e rica cultura sanfranciscana.
É neto da lendária Sérgia Maria da Conceição (Mãe Sérgia), a parteira mais conhecida de Curaçá durante seguidas gerações e, convenhamos, a mais famosa.
Nascido em 22/05/1937, é filho de Júlia Maria da Conceição e de Júlio Tomaz Rodrigues da Silva. Aposentou-sem em 1984.
Dez entre dez curaçaenses sabem quem foi Mãe Sérgia.
Em abalizado e esclarecedor texto, o professor e jornalista Lugori, registra que Mãe Sérgia era “descendente de escravos, provavelmente, aos que pertenciam a Dona Feliciana, fundadora da cidade; seu esposo, Seu Saturnino, um dos maiores mantenedores da Marujada, foi por muitos anos o “orientador” dos marujos. Sucedeu seus pais na guarda da bandeira de São Benedito; E Mãe Sérgia, como ficou conhecida, foi a parteira responsável pelo nascimento de vários curaçaenses” (Acervo Curaçaense, 23/03/2014).
Ocupo-me aqui em rememorar essa página dispersa no tempo e, embora apoucado, me atrevo a falar de Antonio Tomaz Rodrigues da Silva, criatura das mais nobres que conheci nesse caminho de tropeços.
Convivi com Antonio Tomaz na época em que trabalhei na Prefeitura de Curaçá, primeira administração de Theodomiro Mendes da Silva. Eu morava e estudava em Chorrochó. Um dia encontrei-me com Theodomiro em Patamuté e ele me convidou, de supetão, para assessorá-lo em Curaçá. Fui.
Impressionantemente humilde, Antonio Tomaz tem uma qualidade de sábio: ouve mais do que fala. E quando, às vezes, precisava contemporizar em algumas situações o fazia com um sorriso tímido, mas encantador.
Admirava-o, como ainda hoje, pela forma respeitosa com que tratava todos ao seu redor. Sempre prestativo, educado, atencioso, afável.
Os grandes homens não precisam gritar para sustentar suas opiniões. A razão se sustenta na lhaneza, no saber argumentar.
Antonio Tomaz sempre soube construir amizades tais que, como eu, guardam boas e inesquecíveis lembranças de sua simpática convivência.
Em dissertação de mestrado na Universidade Regional do Cariri (URCA) apresentada em 2020, Eliane dos Santos Souza e Silva discorre sobre a Marujada de Curaçá, objetivo daquele alentado trabalho, o que faz com robustez de conhecimento e admirável riqueza de detalhes.
Aquele retro aludido trabalho de pós-graduação evidencia, com esmero, a cultura curaçaense e acresce em todos nós mais conhecimento de nossas raízes.
Lá se vê, com clareza, o papel que Antonio Tomaz desempenha na sustentação da tradição e da maior manifestação da cultura de Curaçá, salvo melhor juízo: a Marujada e a festa de São Benedito e Bom Jesus da Boa Morte.
Entretanto, o que me traz aqui a este espaço é a admiração que tenho por Antonio Tomaz Rodrigues da Silva, o querido Toinho Soldado, personagem indispensável quando se fala de amizade e da história da cultura de Curaçá.
A saudade também contribuiu.
araujo-costa@uol.com.br
Justa e bela homenagem. Toinho Soldado ou simplesmente Toinho de Mãe Sergia, era essa figura simples e nobre do seu relato. Conheci-o de perto e desfrutei da sua amizade cincera, da mesma forma que participei do sepultamento de Mãe Sergia, numa bela homenagem pelas crianças da terra, depositando uma flor em sua urna, em procissão solene na Igreja Matriz, naquele final de tarde inesquecível, onde se misturavam a
inocência das crianças, ás águas do Velho Chico, retratando com esmero o Por do Sol Sertanejo. Parabéns, Walter.
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