
“Sua mania de se informar fez dele uma espécie de arquivista – da própria vida e, sobretudo, da alheia” (Marcos Sá Correia, in Política é Paixão, Editora Revan, Rio de Janeiro, 1995).
Jornalistas experientes do seu tempo o chamavam “arquivista”.
Refiro-me a jornalistas decentes e não a arremedos de jornalistas. Estes estão à margem do bom jornalismo.
Refiro-me a jornalistas e não a ativistas políticos, ridiculamente tendenciosos e vergonhosamente dispensáveis sob o ponto de vista da seriedade jornalística.
Antonio Carlos Magalhães arquivava na memória nomes, fatos, versões, circunstâncias, verdades, mentiras e, mais do que isto: a vivência política.
Em décadas de vida pública, ACM foi o político mais consultado por todos os governos da República. E o mais poderoso dentre todos, mesmo em interregnos que não se sustentavam em mandados eletivos.
Controverso, visitava até inimigos na prisão.
Quando governador da Bahia, visitou na prisão o ícone do comunismo baiano, Jacob Gorender, jornalista, historiador e ativista, preso na Casa de Detenção de Salvador.
Levou até presentes para os presos, embora politicamente de lado oposto.
ACM estava politicamente aliado à ditadura militar, que mandou prender Gorender. Mas não misturou ideologia com seriedade política.
De outro turno, os militares estavam irredutíveis na disposição de cassar o mandato do deputado federal Oliveira Brito, baiano de Ribeira do Pombal, que havia sido ministro das Minas e Energia (1963-1964) do presidente deposto João Goulart.
ACM intercedeu junto ao marechal-presidente Costa e Silva para evitar a cassação. E evitou.
Curiosidade. Oliveira Brito foi cassado, mais tarde, pela Junta Militar, que substituiu Costa e Silva, em razão da enfermidade do presidente, mas o pedido inicial de ACM foi atendido.
O Brasil está precisando de arquivistas como ACM.
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