“Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição.” (Mário de Andrade, poeta e romancista paulista, 1893-1945)

As urnas de Chorrochó elegeram Dilãn Oliveira com votação expressiva: 80,23% dos votos válidos que, em 2024, foram 7.243 no universo eleitoral do município.
Em quadro assim, parece razoável entender que a maioria dos eleitores entregou ao prefeito eleito a esperança em novos horizontes para Chorrochó, a partir de 01/01/2025 e, sequencialmente, nos próximos quatro anos, embora o novo alcaide integre o mesmo grupo político que, no poder, não conseguiu colocar o município em trilhos razoáveis que os levassem a desembocar em melhores dias para a população.
Neste cenário, também é razoável conjecturar que, sendo Dilãn Oliveira integrante do mesmo grupo político do prefeito Humberto Gomes Ramos, a responsabilidade pelos erros, deficiências, equívocos e acertos das gestões das quais fez e faz parte é solidária e não se dilui estritamente na figura do prefeito atual.
Este um senão a ser considerado e que pode orientar e sustentar uma correção de rumos na gestão do novo prefeito. Correção para melhor, por óbvio.
Chorrochó se deve perguntar por que, em aproximadas duas décadas, não saiu do mesmo lugar sob o ponto de vista do desenvolvimento.
Chorrochó não soube escolher? E se não soube, por que a persistência nas escolhas?
A impressão que se tem é que Chorrochó amargou uma quadra do tempo angustiada e desesperançosa, com percalços no caminho que ofuscaram os sonhos da população.
O marasmo não se deve à falta de recursos do município que são generosos, segundo os registros oficiais, mas em razão da ausência de capacidade de priorizar demandas.
Talvez um estilo de governar capenga, acomodado, opaco, ocioso.
O prefeito eleito Dilãn Oliveira é descendente de família bem estruturada: filho de Antonia Possidônio e Antonio Bosco de Oliveira.
Lá para trás, já se vão algumas décadas, conheci Bosco ainda um tanto jovem. Frequentávamos, por vezes, os mesmos ambientes.
Bosco era responsável, sempre ocupado com seus afazeres, aparecia de repente, conversava pouco, contava alguma coisa de sua luta e ia-se embora.
Bosco não era de “alisar banco”, como se diz no Nordeste, demorar-se muito, mas se revelava cordial e atento a tudo que acontecia em Chorrochó. Respeitoso e respeitado, era observador, atento, reflexivo.
Bosco constituiu família honrada e decente.
O prefeito Dilãn certamente tem alguns traços do caráter do pai. Talvez aí resida a esperança de Chorrochó: as boas referências da família ilustre.
Dilãn Oliveira é uma das boas revelações políticas que Chorrochó produziu.
Em Chorrochó, estamos atrasadíssimos no que tange às exigências da administração pública e naquilo que se espera da atuação do Executivo com vistas aos anseios da população.
Mas o município tem uma característica louvável: o convívio entre a situação e a oposição, embora sempre pífia, tornou a campanha eleitoral deste pleito civilizada. Não houve destrambelho, disparate, exageros.
A vitória do prefeito Dilãn Oliveira é alcançada sobre alicerces políticos bem conhecidos, mas isto não significa prova de não desmoronamentos.
A campanha eleitoral acabou. Chorrochó volta à normalidade e dissipa os atropelos, as críticas normais da campanha. Surgem as expectativas, o olhar para o futuro, a esperança de um prefeito dinâmico, trabalhador, voltado para à causa dos mais necessitados, principalmente.
Ao prefeito Dilãn Oliveira não cabe acumular equívocos e erros em sua administração, que todos desejamos profícua e exitosa.
O histórico de apatia que Chorrochó tem experimentado nos últimos anos não pode persistir. Um disparate, se continuar.
Cabe-lhe respeitar os 80,23% dos votos, aproximar-se de todas os grupos sociais do município e saber conviver com os antagonismos. Mais do que isto: governar com sabedoria e ficar atento às necessidades da população.
Ou servir de lição para as novas administrações de Chorrochó.
Post scriptum:
Deixo reverência elogiosa a Eloy Pacheco de Menezes Netto que deu o primeiro passo em direção a novos rumos para Chorrochó.
A surpresa desta eleição de Chorrochó é a não reeleição do vereador petista Luiz Alberto de Menezes (Beto de Arnóbio), político reconhecidamente atuante em diversos mandatos na Câmara Municipal.
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