
Lídio Manoel dos Santos, senhor de boa linhagem e reputação exemplar, era comerciante em Patamuté.
Lá por volta 1930 comprou uma bodega de Eduardo Gomes dos Reis (Dudu), pai do escritor Silobaldo Gomes dos Reis e a manteve durante décadas, espécie de referência do acanhado comércio de Patamuté.
Homem de hábitos simples, Lídio se ocupava com suas tarefas modestas de comerciante e, eventualmente, criava caprinos.
Tinha uma clientela fiel constituída de pequenos lavradores e pecuaristas das cercanias de Patamuté que se amontoavam ao redor do balcão de sua venda, aos sábados, bebendo, conversando, contando “causos” da vida difícil e pacata das fazendas, entre uma talagada e outra.
Lídio era austero, equilibrado, caráter irrepreensível, respeitador, cumpridor de seus deveres. Falava muito bem, acomodando as palavras nos lugares certos, articulando-as adequadamente.
O folclore de Patamuté dizia que ninguém sabia a idade de Lídio – nem ele dizia – mas a história registra que nasceu em 1.906, mesmo ano de início da construção da Igreja de Santo Antonio.
Lídio casou-se com D.Laura Prado (Lalu), senhora distinta e prestativa de estirpe tradicional. D. Lalu faleceu em fevereiro de 2011. Com ela constituiu família numerosa, que se espalhou por aí, de Patamuté a São Paulo, cavando a vida.
Minha esburacada memória ainda retém os nomes de Edelzuíta, Glorinha, Aderlinda, Carmelita, Nidinho, Edinho, Nilzanete, Elizabete e Jackson, todos filhos desse casal tradicional, que também construiu a história de Patamuté.
Eventuais omissões de nomes ou grafia errada ficam por conta de minha juventude distante. Foi lá, bem distante no tempo, que os conheci em Patamuté, jovens, espirituosos e alegres.
Comecei esta crônica citando o nome de Silobaldo Gomes dos Reis, que saiu de Patamuté em junho de 1944 com 14 anos de idade.
Quase cinco décadas depois, em 1991, Silobaldo me contou em São Paulo, que era muito grato a Lídio Manoel dos Santos, porque lhe deu o primeiro emprego em sua bodega em Patamuté e também uma carta de referência, quando saiu de lá. Uma carta de referência significava muito na época.
Estes fragmentos da memória de Patamuté nos lembram as características de alguns de seus filhos que já se foram. Cada um, a seu modo, ajudou a construir a história do lugar.
Lídio Manoel dos Santos também o fez, quer dando exemplo de caráter, quer ostentando sua ilibada reputação. Conheci-o assim, circunspecto e respeitador. Patamuté deve muito a ele.
Silobaldo Gomes dos Reis, já falecido, filho de Eduardo Gomes dos Reis e Tertuliana de Alcântara Reis nasceu em Patamuté em 1930.
Eduardo e Tertuliana, além de Silobaldo, tiveram os filhos Osmar Gomes dos Reis, Lourival Gomes dos Reis, Maria José Gomes dos Reis e Antonia Gomes dos Reis Palmejani.
Ilustre filho de Patamuté das famílias Gomes e Reis mudou-se para São Paulo, depois de trabalhar na bodega de Lídio Manoel dos Santos.
Em São Paulo, trabalhou e constituiu família. Escreveu dois livros: “Eu (baiano) venci em S.Paulo”, lançado em 1988 e “Peripécias e Alegrias de um Turista Baiano” lançado anos mais tarde.
Sobre o primeiro livro, Silobaldo me disse em 25/06/1991: “é uma mensagem de otimismo para nossos conterrâneos que às vezes recuam no primeiro tropeço de vida e desanimam”.
Silobaldo era casado com Maria Nazareth dos Reis com quem teve as filhas Carmen Gomes dos Reis e Marta dos Reis Marioni.
Em 1988 chegou a participar da Bienal do Livro de São Paulo.
Silobaldo, conhecido entre os amigos mais próximos como “Silô”, viveu as últimas décadas no Jardim São Paulo, elegante bairro da capital paulista, mas sua paixão era a Vila Nova Mazzei, local que se instalou quando chegou da Bahia, segundo ele “fugindo da seca” de Patamuté.
Lídio e Silobaldo fazem parte da história de nosso distrito.
Post scriptum:
Deixo de colocar a foto de Silobaldo Gomes dos Reis, por razões técnicas.
araujo-costa@uol.com.br