A fazenda do ministro Rui Costa

Ministro Rui Costa/Crédito: Casa Civil da Presidência da República

Essa turma do Partido dos Trabalhadores (PT) tem muita sorte. Começa nos sindicatos, microfone em punho, fazendo greve em cima de caminhões e termina em nababescos palácios, impressionantemente afortunados.

Lula da Silva foi assim em São Bernardo do Campo, o senador Jaques Wagner e Rui Costa, da Bahia, também, dentre outros sortudos petistas .

Rui Costa agora é ministro-chefe da Casa Civil de Lula. Começou a carreira no Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia.   

Rui Costa entrou na política tradicional, foi vereador de Salvador, secretário de Relações Institucionais da Bahia (2007-2010), deputado federal e terminou governador da Bahia por dois mandatos.

Ele ajudou a transformar a Bahia num feudo do PT, mérito que não se lhe pode negar.

O PT diz que “Wagner e Rui tiraram a Bahia do passado e cuidaram dos que mais precisam”. O PT diz mais: que é “orgulho para a Bahia e exemplo para o Brasil”. Está no site do PT-Bahia sob a rubrica “nosso legado”.

Como “as águas só correm pro mar” – e o PT gosta de tirar as pessoas da pobreza – em 08/03/2023, a Assembléia Legislativa da Bahia elegeu para o Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM-BA) a enfermeira Aline Peixoto, esposa de Rui Costa, para o honroso cargo de conselheira do Tribunal, com salário inicial de R$ 37,5 mil, além das mordomias e penduricalhos de estilo. O cargo é vitalício.

Rui Costa abocanhou 40 dos 63 votos da Assembleia Legislativa, em favor da mulher.

Em 2018, por força da legislação eleitoral, Rui Costa declarou bens no valor de R$ 674 mil.

Anos depois – e como o PT gosta de tirar as pessoas da pobreza – Rui Costa comprou um apartamento por R$ 2,5 milhões, parte financiada, em área nobre de Salvador (Bairro da Graça) e, ao terminar o governo da Bahia, comprou uma fazenda no município de Itagibá avaliada em R$ 1,5 milhão.  

A Bahia deve estar em êxtase, rindo à toa com o reinado petista.

O ensino público vai muito bem, a segurança pública melhor ainda, de modo que não há problemas na Bahia, só para citar dois exemplos da “eficiência” dos governos petistas.

Um exemplo gritante de descaso: Em Patamuté, distrito de Curaçá, município do sertão, o Estado – ou quem fez as suas vezes – mandou demolir o prédio histórico onde funcionou, durante décadas, a Escola Estadual do lugar e nunca se dignou a reconstruí-lo. Mas o governador Jerônimo Rodrigues (PT) já andou no município dando tapinha nas costas dos incautos.

Por óbvio, não é proibido ser rico. Nem há senões para quem, por coincidência, enriquece durante o exercício de cargo público.  

Entretanto, o homem público não deve permitir supostos fatos obscuros em sua vida para evitar ilações e até, em certos casos, manchar sua história.

Não creio ser este o caso do ministro Rui Costa, um sujeito íntegro, salvo prova em contrário.

O UOL buscou, in loco. Foi até à fazenda de Rui Costa, certificou-se da existência da propriedade do ministro, confirmou com um funcionário e com o prefeito de Itagibá e detalhou algumas informações.

O imóvel é estimado em dezenas de hectares, “equivalente a cem campos de futebol”, está em nome de uma aliada de Rui Costa, mas o ministro está fazendo construções no imóvel e plantando mudas de cacau.

O prefeito de Itagibá, que é do PCdo B e aliado de Rui Costa, disse ao UOL que já visitou o ministro na fazenda e que “o município tem orgulho de ter um ministro como morador e produtor rural. Chega dia de domingo e ele tá lá com a bota dele, tirando mato”.

Coincidências:

“Atualmente, estão em andamento obras de pavimentação na rodovia estadual que dá acesso à fazenda de Rui Costa, executadas pelo governo da Bahia, com valor previsto de R$ 11 milhões”, segundo a reportagem.

Em junho de 2023, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e Rui Costa estiveram em Ipiaú, município vizinho, anunciando a obra.

“A região foi recentemente contemplada com verba de R$ 42 milhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) coordenado por ele próprio”, ainda segundo a reportagem.

Faz lembrar, sem nenhuma maldade, o ministro das Comunicações de Lula da Silva que mandou pavimentar, com dinheiro público de emendas parlamentares, as estradas que dão acesso às fazendas da família dele no Maranhão.

Lula da Silva o mantém “imexível” no cargo de ministro, impecavelmente ministro, honrosamente ministro.

Mas, de tudo, uma coisa bonita na rica fazenda de Rui Costa no município de Itagibá: um pavão azul, estonteantemente bonito, que a reportagem do UOL disse ter visto lá e até o mostrou na reportagem.

Fonte: UOL, 21/08/2024.

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Chorrochó, tempo de Josiel

Josiel e Maria Mattos/Álbum de Alvemira Maria

“Não se morre de saudade. Vive-se de saudades” (Joel Silveira, jornalista sergipano, 1918-2007).

Exemplo de homem público, de dignidade e de caráter irrepreensível, Josiel faleceu em 16/02/2022.

José Calazans Bezerra (Josiel) nasceu em Quijingue, ainda município de Tucano e se mudou jovem para Chorrochó. Elegante, cabelos negros, boa pinta, sorriso fácil, educado e atencioso, logo ganhou a simpatia de todos, ou de quase todos de Chorrochó.

Casou-se com Maria Menezes Mattos Bezerra, de tradicional família de Chorrochó, filha de Anna Mattos de Menezes (Quininha) e João Matos Cardoso e com ela constituiu família decente e honrada, incluídos aí os filhos José Calazans Bezerra Filho, Ana Maria Mattos Bezerra Brandão e Josiel Calazans Menezes Bezerra.

Todavia, isto é assunto longo para quem entende de história e este não é o meu caso. Preocupo-me tão somente com o registro do caminhar das boas pessoas, dos feitos que praticaram e das amizades que construíram.  

A memória esburacada pode produzir o vexame de grafar nomes errados, confundir datas e misturar alhos com bugalhos. Corro o risco de arranhar os fatos e mutilar a história. É melhor deixar a tarefa para os entendidos.

Mas – e sempre há um mas – Josiel entrou na política, impulsionado pelos ventos soprados sobre o ainda jovem município e se elegeu prefeito de Chorrochó com 1.888 votos apoiado pelos deputados estaduais José Bezerra Neto e José Eloy de Carvalho e de duas lideranças nacionais, ícones da política da Bahia, os deputados federais Manoel Cavalcanti Novaes, pernambucano de Floresta e sua esposa, a paulista Necy Novaes.

Município novo à época (1963/1967), Chorrochó vivia um clima saudável com um prefeito jovem, socialmente admirável e impressionantemente dinâmico.

Josiel era mesmo admirável.

Josiel cercou-se de nomes respeitáveis da sociedade chorrochoense, a exemplo de José Pacheco de Menezes (Deca), João Mattos Cardoso e Joviniano Cordeiro.

A Câmara Municipal deu-lhe folgada maioria com os vereadores Sebastião Pereira da Silva (Baião), depois prefeito do município, Aurélio Alves de Barros, Lucas Alventino e Pascoal de Almeida Lima, que também viria ser prefeito. Seu cunhado Vivaldo Cardoso de Menezes também fazia parte da Edilidade.

Vivaldo entendia desde burocracia da fiscalização estadual até política de bastidores de Chorrochó, além de música. Vereador atuante, presidiu a Câmara Municipal  e sustentou, com sabedoria, os altos e baixos da política local.

A administração de Josiel registrou alguns feitos compatíveis com as condições que o município permitia na ocasião: construiu uma barragem para abastecer a sede do município, iniciou a construção do Grupo Escolar Luís Viana Filho e do Posto Médico Francisco Pacheco (terminado na segunda administração de Dorotheu Pacheco de Menezes) e impulsionou o esporte local, além da conservação de estradas, prédios públicos e do campo de aviação.

Já fora da atividade política, Josiel manteve grande carisma junto aos munícipes, incompatível com o ostracismo a que se impôs voluntariamente depois de deixar a vida política.

Juazeiro foi seu refúgio voluntário.

Simpático, atencioso, sensato, entusiasta, indispensável em qualquer reunião de amigos. Afastou-se de disputas eleitorais, embora nunca tenha se afastado de Chorrochó e do apego aos amigos e às tradições locais.

Era assíduo frequentador e participante ativo da principal festa da cidade, a do padroeiro Senhor do Bonfim em janeiro.

Pessoa admirável, Josiel também construiu a história de Chorrochó.

Meu último contato com Josiel deu-se em 2001, quando este escrevinhador estava às voltas com as pesquisas para o livro Dorotheu: caminhos, lutas e esperanças lançado naquele ano.

Josiel me atendeu com impressionante presteza e passou as informações de que eu precisava. Entretanto, são minhas as lacunas, falhas e omissões sobre seu período à frente da administração de Chorrochó.

É salutar que os órgãos públicos municipais responsáveis pela história de Chorrochó não se esqueçam de evidenciar o nome de Josiel, dando-lhe o destaque merecido que teve na construção da sociedade local.

Post scriptum:

Este artigo foi publicado em duas ocasiões: 22/08/2019 e 16/02/2022. Hoje edito-o mais uma vez.

araujo-costa@uol.com.br

O luxo e o acinte de Lula da Silva

O Palácio do Planalto não explicou.

Não tem o que explicar. Nem a assessoria particular de Lula consegue explicar.

Ao retornar da viagem ao Chile, Lula da Silva ordenou que o avião presidencial e, em consequência, a equipe de segurança, pousassem em São Paulo durante 10 minutos.

Finalidade da ordem de Lula da Silva: dá carona à deslumbrada primeira-dama Janja que estava num salão de beleza na capital paulista fazendo procedimento estético.

Ainda tem quem acredite que Lula da Silva cuida dos pobres.

A Presidência da República não publica, por questão de segurança presidencial, quanto foi gasto de dinheiro público com o avião presidencial e a aeronave da equipe de segurança, para desviar a rota e satisfazer o deslumbramento de Lula da Silva e de sua esposa Janja.  

Essa é a bagunça com o dinheiro público, como tantas outras, que os órgãos de controle não veem.

Os brasileiros que passam fome pagam.

Fonte da notícia: O Estado de S.Paulo, 11/08/2024.

Airbus da Presidência da República/Crédito Wikipédia
Interior do avião presidencial – Escritório do presidente/Crédito Wikipédia
Vista interna de parte do avião presidencial/Crédito Wikipedia
Dormitório do avião presidencial/Crédito Wikipédia

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O Pé-de-Meia de Lula da Silva está furado

Foto: Ministério da Educação/Guia do Estudante

Anunciado com estardalhaço pelo governo, inclusive com discurso do presidente Lula da Silva, o programa Pé-de-Meia já está furado, encolheu e precisa de cerzidura..

Na última semana, Lula da Silva anunciou a ampliação do programa para mais 1,2 milhão de estudantes.

Em seguida – três dias depois – contrariando o que disse,  Lula da Silva mandou o Ministério da Educação bloquear R$ 500 milhões das verbas do Pé-de-Meia, o que ofusca o objetivo que o programa pretende alcançar.

Entretanto, vale o registro: o programa Pé-de-Meia é bom. A expectativa é que deve atingir um universo de 4 milhões de estudantes do ensino médio.

O programa é meritório. Pode significar o caminho para retirar os jovens das ruas, mostrar-lhes a esperança e afastá-los do risco da degenerescência social, apontando o caminho do crescimento interior, da capacitação profissional e, sobretudo, da formação de bom caráter.    

O Pé-de-Meia pretende pagar por ano dez parcelas de R$ 200 para estudantes de baixa renda, como incentivo para não deixarem o ensino médio. Mais um depósito de R$ 1.000 por ano que só pode ser retirado após a conclusão do curso e mais R$ 200 pela participação do aluno no Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM).

Interessante é que Lula da Silva anunciou o Pé-de-Meia e sua ampliação de forma espalhafatosa, mas ficou em silêncio quando mandou bloquear R$ 500 milhões do programa.

Ou seja, Lula da Silva diz somente o que lhe interessa politicamente e quando sua fala tem o condão de carrear votos para o lulopetismo, mormente neste ano de eleições municipais. O PT está claudicando em muitos centros urbanos.

Em São Bernardo do Campo, berço político de Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores está fora do poder há aproximados oito anos. Pelo andar da carruagem, parece certa a derrota do partido e do lulopetismo nas eleições de outubro vindouro.

Em 2016, o filho de Lula da Silva não conseguiu se reeleger vereador de São Bernardo do Campo. Teve 1.504 votos e amargou o 58º lugar na votação para a Câmara Municipal.

Quanto ao Pé-de-Meia, aqui não se questiona o acerto ou a necessidade do bloqueio da verba, em razão de questões orçamentárias e de equilíbrio fiscal das contas públicas, mas a falta de publicidade quando o assunto não enaltece o governo.

Nos governos do PT é assim: quando o assunto beneficia o lulopetismo vira vitrine. Quando não é favorável vira silêncio, para não se transformar em estilingue dos adversários.

araujo-costa@uol.com.br  

Os respiradores de Rui Costa e a Polícia Federal de Lula

Ministro Rui Costa/Ricardo Stuckert, Presidência da República

“Eu quero garantir ao senhor, presidente Lula, esta Polícia Federal, hoje, toda ela, está a serviço de uma única causa, que é a sua causa” (Flávio Dino, então ministro da Justiça e Segurança Pública, Metrópoles, 05.09.2023).

Mais claro do que isto, só isto.

A imprensa publicou exaustivamente esta fala de Flávio Dino, então ministro da Justiça e da Segurança Pública do ainda novel terceiro governo de Lula da Silva.

Estarrecedor. As ditaduras começam assim: aparelhando as instituições.

Contudo, para não ficar muito escancarado e feio, Flavio Dino deu-se conta da revelação e acrescentou que a PF também está a serviço do Brasil e da sociedade, o que, aliás, é atribuição dela e nem precisava ele dizer.  

Estrambólico é a Polícia Federal defender a causa do presidente da República, qualquer que seja ele.

A Polícia Federal é instituição de Estado e não de Governo.

Matéria do jornalista Cláudio Humberto (Diário do Poder, de 02.08.2024) nos remete à fala de Flavio Dino.

Ei-la, entre aspas:

“O ministro da Casa Civil e ex-governador da Bahia Rui Costa não foi incluído entre os 34 mandados de busca e apreensão cumpridos nesta quinta (1º) pela Polícia Federal, na investigação da compra de respiradores durante a pandemia de covid-19.

O governo de Costa, na Bahia, pagou R$ 48 milhões a Hempcare, empresa de derivados de maconha, por 300 respiradores que nunca foram entregues. A negociação se deu com o Consórcio Nordeste, grupo de governadores presidido por Rui Costa.

Bruno Dauster, ex-secretário de governo da Bahia, citou Rui Costa em depoimento à PF, em 2022. Disse que a compra tinha aval do chefe.

A dona da Hempcare, Cristina Costa Taddeo, fez acordo de delação autorizado pelo ministro Og Fernandes (STJ) e também citou Costa.

Cristina até devolveu R$ 10 milhões da gatunagem. No depoimento da delação, ela contou que o intermediário se dizia amigo de Costa”.

Isto não é nenhuma novidade. Este blog, inclusive, já publicou sobejamente sobre o assunto.

Como se vê, Rui Costa, todo poderoso ministro chefe da Casa Civil de Lula da Silva, foi poupado.

Entretanto, a Polícia Federal realizou busca e apreensão contra um advogado que trabalhou – ou trabalha – para um cliente envolvido no escabroso caso dos respiradores de Rui Costa.

Diz, com razão, a Ordem dos Advogados do Brasil, secção da Bahia:

“A interpretação dada aos fatos é extremamente perigosa para a advocacia e para a sociedade, uma vez que confunde o advogado com o cliente e interpreta como um ato de lavagem de dinheiro o simples recebimento de honorários, criminalizando de maneira injustificável o exercício da advocacia” (Correio, 02.08.2024).

Se a moda pega – e a Polícia Federal de Lula da Silva continuar agindo assim – pune-se o advogado, que constitucionalmente defende o cliente e libera-se o delinquente, o que não significa dizer que, neste caso, Rui Costa é culpado e o advogado é inocente.

O critério da investigação não condiz com a lógica, nem com o tratado da consequência. Tampouco com o Estado de Direito.

Coisas de autocracia.

araujo-costa@uol.com.br    

Livros: orelha, posfácio e estrada pedregosa

O autor deste blog/Crédito: Sistema Araújo Costa

Cúmplices das madrugadas, a conversa comprida noite a dentro devia se restringir somente a um encontro entre amigos, dentre os muitos arrastados pela boemia, em décadas.  

Mas a conversa esticada resvalou-se para um pedido, feito já ao alvorecer:  ele queria que eu escrevesse a orelha de um livro, ainda no prelo, com o sugestivo título A estrada pedregosa.

Esquivei-me.

Disse-lhe que de estrada, pedras no caminho e tropeços entendo eu e muito bem, quiçá mais do que ele, porque o sofrimento garranchento da vida se fez presente em meu caminhar.

O sofrimento ainda insiste em se fazer presente, inobstante o meu viver continuamente chafurdando neste naufrágio que é a velhice, tentando passar por cima de seus escombros.

Meu amigo não desiste e pergunta: que tal, então, o posfácio?

Conversa vai, conversa vem, o fato é que chegamos a um acordo e escreverei a orelha do livro – ou o posfácio – falando de estradas espinhosas, poeiras, pedras no caminho, quedas e tropeços.

Desconfio que o livro não vai sair, nunca será lançado e, portanto, não haverá orelha, nem posfácio. Talvez uma ilusão etílica da madrugada.

Posso prestar um testemunho. Há algumas décadas – já vai longe no tempo – comecei a escrever um  livro que intitulei Diálogo dos sinos – artigos, crônicas, observações.

É um apanhado de minha vida, sem nenhuma pretensão de registrar quaisquer resquícios ou viés biográficos.

Não consegui construir ao longo do tempo nenhuma importância, tampouco alguma coisa que possa interessar a qualquer pessoa, mesmo em instância póstuma, que espero demorar.

Sou um peregrino insignificante que costuma escrever baboseiras.

O lançamento de Diálogo dos sinos – artigos, crônicas, observações dar-se-ia em 2023. Não aconteceu, nem tem previsão de acontecer tão cedo. Mas estou a caminho, continuo a caminho.

Há horizontes. Sempre há horizontes.  

Em 01/08/2022 até publiquei uma crônica noticiando-o. Ei-la a seguir:

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Professora Neusa, defensora da história de Chorrochó

Neusa Maria Rios Menezes de Menezes/Arquivo da família

A professora Neusa Maria Rios Menezes de Menezes é defensora diuturna da história de Chorrochó, o que faz com absoluta seriedade e competência. Conhece como poucos, os meandros dos fatos que serviram de esteios para a edificação da sociedade chorrochoense.

A professora Neusa vem de um tempo, embora não muito distante, em que as instituições locais sustentavam as referências que indicavam o melhor caminho para a juventude.

Por isto que os jovens persistiam em seus sonhos, muitos deles elasticamente distantes, mas razoavelmente possíveis.

Neste contexto estavam as escolas públicas, bases seguras da formação dos jovens de Chorrochó.

Ninguém constrói fortaleza de caráter se não estiver alicerçado em sustentáculo familiar irrepreensível. Assim entendo.

Neusa tem razões de sobra para orgulhar-se de sua construção moral: o pai Vivaldo Cardoso de Menezes, a mãe Estefânia Rios e uma razoável constelação familiar que, ao seu redor, foi educada sob a batuta de regras claramente voltadas para o bem e sustentada em valores sociais modelares. 

Chamá-la tão somente professora não é defini-la bem. Ela reúne mais do que a nobre função de mestra. Somam-se os misteres de historiadora, pesquisadora, vigilante de seu tempo e apego às tradições da Igreja de Chorrochó.

Nossa geração viveu tempos de efervescência cultural no Colégio Normal São José. Ainda em construção de seus valores, enquanto cidade, Chorrochó recebia jovens do meio rural e circunvizinhanças e os agasalhava nas escolas da sede, mormente nos cursos ginasial e colegial.

Neusa, ainda muito jovem, mas já professora eficiente e dedicada, fazia parte desse enredo cultural.

Tenho a honra de ter sido seu aluno e a alegria do saudável convívio nos tempos de minha mocidade.  

Chorrochó nos seduzia. Éramos irrequietos, mas modestos e sonhadores.

A vida de estudantes nos encantava. E o mundo exigia mudança e participação dos jovens, embalados pelos ventos advindos dos movimentos estudantis de 1968.

Tempo de utopia e mudança de costumes. Os meios de comunicação no sertão eram rudimentares e, em razão disto, contribuímos somente com aquilo que nos foi possível, dentro dos limites de nossa humildade interiorana.

Neusa seguiu adiante, contribuiu mais, continuou contribuindo até hoje, certamente contribuirá muito mais.

Todavia, Chorrochó nunca teve apreço por sua memória. Isto se transformou em obstáculo para quem se entrega à empreitada de realizar pesquisas e estudos para compor o caminho trilhado pelas gerações passadas.

Ainda assim, a professora Neusa tem driblado tudo isto e vem escrevendo, com impressionante dedicação e desenvoltura a história de Chorrochó. É agradável reconhecer esta sua nobre tarefa em benefício do lugar.

Avessa a elogios, a professora Neusa não tem conseguido impedir que seus admiradores – e nestes me incluo – reconheçam-na como dedicada e atenta guardiã da história de Chorrochó.

Uma qualidade que mais se destaca na professora Neusa Menezes é o idealismo, que se traduz no apego às tradições, à cultura, à educação e ao engrandecimento de Chorrochó.

Outra qualidade é a modéstia, admirável modéstia sob a qual ampara seu trabalho persistente e constante voltado para o engrandecimento cultural do município.

Tarefa um tanto difícil, tendo em vista que os valores do lugar têm sido espezinhados de tal forma que até nomes de antepassados são omitidos em seguidas administrações municipais, até mesmo em solenidades cívicas.

Dentre sua vasta produção cultural, a professora Neusa Menezes publicou em 2015 o livro História de Chorrochó em coautoria com o Dr. Francisco Afonso de Menezes, ambos abalizados conhecedores da história do lugar.

A professora Neusa Maria Rios Menezes de Menezes é atenta às coisas de Chorrochó. Seu idealismo tem sido de grande valor para a história do município.

Post escriptum

Este artigo foi publicado em 03/10/2015, quando este blog estava no UOL. Agora editado, reproduzo-o aqui, com pequenas alterações exigidas pela passagem do tempo nesses nove anos da primeira publicação.

araujo-costa@uol.com.br

Chorrochó, tempo de lembrar: Maria Joselita de Menezes.

Família de Antonio Pacheco de Menezes. Em pé, da esquerda para a direita, Maria Joselita de Menezes/Arquivo de Maria Ita de Menezes

O cronista costuma enveredar por caminhos aparentemente desnecessários.

Isto pode significar prolixidade na construção dos meandros de sua escrita ou, quase sempre, desvio estratégico do caminho.

Esse desvio dá-lhe segurança para seguir em frente rumo ao que pretende dizer. E o dizer nem sempre é fácil dizer.

Por conseguinte, o cronista acaba se transformando involuntariamente em memorialista, outras vezes em historiador arrevesado, noutras tantas em narrador ocasional. É o caso deste escrevinhador incapaz e titubeante, mas persistente e até, em certos casos, petulante com as coisas da escrita.

Mesmo assim, vamos lá. Antigamente, embora não muito antigamente, havia o curso primário, sequenciado pelo ginasial e, em seguida, vinha o colegial. Mais tarde, o ginásio e o primário se uniram dando lugar ao formato tal como existe hoje, salvo engano.

Entre primário e ginásio espremia-se o curso de admissão ao ginásio, que correspondia ao quinto ano primário, uma espécie de preparatório para ingresso no curso ginasial.

Faço esta digressão, aparentemente desnecessária – e quiçá errada – para dizer que no Colégio Normal São José, em Chorrochó, dentre as outras disciplinas, havia ensino da Língua Francesa, que mais tarde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação aboliu, extirpando-a da grade curricular.

Estudávamos também educação moral e cívica e organização social e política, além das conhecidas disciplinas de praxe.

Um parêntese: a turma da esquerda radical do Brasil faltou a todas as aulas de educação moral e cívica. Se as tivesse frequentado, hoje o Brasil não estaria olhando pelo retrovisor da História, repetindo os mesmos erros barulhentos do passado. Mas esta é outra história. Deixa pra lá.

Município novo, nesse tempo Chorrochó ainda vivia às voltas com a construção de suas estruturas, fincando os esteios das instituições locais. E o São José nascia auspicioso e altaneiro, orgulho da sociedade local, de professores e estudantes.

Construía-se também o caminho de uma juventude esperançosa, alegre e sonhadora.

O Colégio São José teve como embrião o Ginásio Municipal Oliveira Brito, fundado pelo líder Dorotheu Pacheco de Menezes em 08 de fevereiro de 1963.

Já se vão, por aí, mais de seis décadas, suficientes para que as autoridades que cuidam da cultura e da história de Chorrochó tenham esquecido o nome de Dorotheu. 

Naquele mês de fevereiro aconteceu o primeiro exame de admissão ao ginásio, que acolheu os alunos oriundos do curso primário, formou-se o pioneirismo e deram-se passos seguros em direção à solidez da educação de Chorrochó. 

A primeira turma do São José compunha-se de 13 alunos: Antonio Ribeiro da Silva, Cleonice Félix dos Santos, Creuza Félix dos Santos, Etevaldo Barbosa Ribeiro, Elza Maria de Menezes, Helena Barbosa Ribeiro, Isabel Barbosa de Carvalho, João Bosco de Menezes, João Pacheco de Menezes, José Evaldo de Menezes, Maria Edite Soares, Maria Eloiza Ribeiro e Oneide Carvalho Santos.

Ainda estão por aí, vivos, graças a Deus, alunos daquela primeira turma, para não deixarem este cronista se perder na memória e escrever besteiras. Por exemplo, Elza Maria de Menezes.

A professora titular da cadeira de francês numa ocasião era Maria Joselita de Menezes, que mais tarde ingressou no Ministério Público da Bahia – aposentou-se em 1991 – e vinha de uma rica história de contribuição à causa de Chorrochó, inclusive na Câmara Municipal.

Maria Joselita de Menezes ensinava francês, equilibrando-se entre seu dever de ensinar e a compreensão de que nós, seus alunos, muitos oriundos da zona rural, não tínhamos pendor para aprender a língua de Voltaire, o perspicaz defensor das liberdades civis de seu tempo.

De minha parte, caatingueiro de Patamuté, ainda hoje não aprendi a pronunciar qu’est-ce que c’est, mas não atribuo nenhuma culpa à diligente e rigorosa professora Maria Joselita de Menezes, que todos os ginasianos admiravam.    

O certo é que a professora Maria Joselita de Menezes exerceu dignamente seu mister de mestra de francês e de outras disciplinas e ajudou a escrever a história do Colégio São José, que veio se estadualizar somente em fevereiro de 2002.

O progresso e a falta de criatividade derrubaram os históricos alicerces físicos do Colégio, mas permanecem intactos os esteios de suas bases culturais.

A referência à insigne mestra Maria Joselita de Menezes será sempre oportuna para atapetar a história daquele tempo.

Foi lá que o Colégio São José direcionou os sonhos de grande parte da juventude daquela época rumo ao futuro.

araujo-costa@uol.com.br

Escárnio e acinte da elite

“Nos primeiros cinco meses deste ano 781 procuradores do Estado de São Paulo em atividade receberam rendimentos líquidos acima do teto constitucional pelo menos uma vez”. (O Estado de S.Paulo, 18/07/2024)

O teto constitucional é R$ 44 mil.

Um procurador chegou a receber R$ 115,7 mil no mês. 

Outros exemplos:

“Com a gratificação natalina e pagamentos retroativos, os subsídios dos juízes e desembargadores paraenses ultrapassaram a marca de 800 mil reais em valores brutos”. (O Antagonista, 17/01/2024).

“O Tribunal de Justiça de Rondônia fez pagamentos milionários a seus magistrados no último mês de fevereiro. Um grupo de 46 magistrados recebeu, cada um, mais de R$ 1 milhão – de um deles, o contracheque bateu em R$ 1,6 milhão brutos. Dez receberam R$ 1 milhão líquidos na conta”. (UOL, 03/05/2024/Estadão Conteúdo,02/05/2024).

“O pagamento de indenização de férias levou a juíza aposentada Maria Izabel Pena Pieranti, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), a receber mais de R$ 1 milhão em novembro passado. O holerite da magistrada foi turbinado com R$ 791.367,33 cedidos como “reparação por férias não gozadas”. Outros R$ 286.474,97 estão ligados à venda de dias de repouso remunerado não usufruídos a que tem direito o magistrado por plantão realizado”. (UOL/05/01/2024/Estadão Conteúdo, 05/01/2024).

No Paraná, “um desembargador recebeu no ano passado R$ 1,012 milhão”. (Plural Curitiba, 16/07/2024).   

O Tribunal de Justiça do Paraná justificou em nota “que sempre honrou a missão de bem servir ao povo paranaense, cumprindo e fazendo cumprir a Constituição e as Leis do País”. (Plural Curitiba, 16/07/2024).

Então tá.

Em 2022, “o IBGE mostrou que 67,19% dos trabalhadores ocupados recebiam até R$ 2.424 por mês, totalizando 65,565 milhões de pessoas. Ou seja, boa parte da população sobrevive com renda que não chega a dois salários mínimos”. 

“Além disso, segundo a pesquisa, aproximadamente: 35,63% da população brasileira recebia até 1 salário mínimo (R$ 1.212, valor da época da pesquisa) – o que corresponde a cerca de 34,766 milhões de pessoas”. (toro investimentos, 10/06/2024).

Como se vê, os vencimentos estratosféricos recebidos por magistrados e procuradores em diversas partes do Brasil são um escárnio e um acinte aos brasileiros que não têm o que comer.

Aqui são apenas alguns poucos exemplos.

É uma ofensa aos demais brasileiros.

araujo-costa@uol.com.br

A política de Curaçá e a arte de subir e descer montanhas

“Os hipócritas, como as setas das encruzilhadas, indicam o caminho que eles não seguem” (Thomas Moore, escritor irlandês, 1779-1852)

Prefeitura de Curaçá/Google (A imagem não é recente)

O que mais se vê na política de Curaçá é vaidade, muita vaidade, chega a ser um quê de prepotência. Nessa pré-campanha para lastrear as eleições municipais de outubro pululam os exageros.

O atual prefeito do município está no tempo de descer a montanha, se preparando para apear-se do poder e, logo, é mais livre para deixar para trás as promessas que não quis ou não conseguiu cumprir.

Seu vice e secretário, candidato à sucessão, está tentando subir a montanha e, por isto, encontra dificuldades, sobretudo por lhe faltar estrutura política de dizer o que pensa, mostrar ao que veio ou ao que virá, apresentar novas ideias, novos caminhos.

O vice parece restrito às amarras delineadas pelo prefeito, mormente a defesa de seu governo e a lembrança de suas realizações que –  parece – não foram tantas assim.

O lado atrelado ao prefeito enaltece seus feitos, que foram muitos, segundo propalam nas redes sociais, o que não duvido.

Há muita hipocrisia – e este não é somente o caso de Curaçá, mas de todos os municípios. É que os candidatos estão em franca campanha, mas a legislação eleitoral, que também é hipócrita, diz que não se trata de campanha, mas de pré-campanha.

Daí porque os candidatos não podem pedir votos, o que caracterizaria campanha antecipada.

Agride a lógica e a inteligência de qualquer um, dizer que comícios, reuniões, discursos políticos e a presença de pré-candidatos em festas de distritos, povoados, arruamentos e fazendas, carregando a tiracolo um séquito de cabos eleitorais e admiradores, não significa pedir votos.  

Nenhum pré-candidato comparece a esses eventos para participar de desfile de moda ou mostrar sua beleza, mas para angariar votos, mesmo que sutilmente, de forma subliminar.

Por que não o fazem em anos não eleitorais?

De onde vêm os recursos para os deslocamentos e regabofes festivos desses bem intencionados pré-candidatos?

O fato indubitável é que não se faz pré-campanha sem recursos financeiros. Em quadro assim, é razoável duvidar que os partidos políticos, por antecipação, estejam despejando dinheiro no bolso de pretensos candidatos tão longe das eleições, quando sequer se realizaram as convenções partidárias e tenham sido delineados os candidatos que enfrentarão as urnas.

Entretanto, há formas legais que possibilitam os pré-candidatos angariarem meios de sustentar suas pré-campanhas. Mas daí a dizer que eles não fazem campanha, mas pré-campanha, vai uma monumental e ingênua distância.   

Contudo, a arte de fazer política convence até que cobra usa suspensório.

De outro lado, o candidato adversário do prefeito já está fazendo as vezes de futuro alcaide do município, coadjuvado por munícipes deslumbrados com a possível eleição do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) que parece ser um sujeito humilde e decente, atributos fundamentais para administrar o município.  

Entretanto, está faltando cautela e sobrando vaidade aos apoiadores do petista.

Considerando que a Bahia é um feudo do PT, é razoável presumir que a eleição de Curaçá tende a ser definida a favor do candidato petista, embora cedo para se firmarem quaisquer elementos de certeza.

Mas – devagar – barulho de apoiadores não ganha eleição. O que conta é parcimônia, respeito ao adversário e, sobretudo, propostas viáveis e civilidade ao lidar com os antagonistas.

Quem tem mandato, ou já teve – caso do prefeito – está indicando o caminho que não seguiu, enquanto podia escolher as prioridades e o melhor destino para o município.

Quem não tem mandato – caso do candidato adversário – está na expectativa de ser ungido pela vontade das urnas e indicando um caminho que melhor lhe convém indicar.

Dificilmente o seguirá, se eleito.

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