José Amâncio Filho (Meu Mano) e o luar

Reprodução de arquivo de Valdomiro Nascimento

O luar tem muitas nuances. Até permite o surgimento de clássicos como a música Luar do Sertãodo maranhense Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), que um colega meu dos tempos da faculdade insistia em dizer que era cearense.

Nunca consegui convencê-lo de que Catulo era natural do Maranhão. Composta em 1914, já se vão, por aí, 104 anos e ainda hoje continua sendo cantada por jovens e velhos.

A turma do politicamente correto certamente vai me repreender e dizer que a música não é cantada por velhos, mas por idosos. Deixa pra lá.

Catulo sustentava ser o autor de Luar do Sertão, mas a história registra uma controvérsia: o autor seria João Pernambuco (1883-1947), contemporâneo de Catulo.

Aliás, em minha baiana cidade – Curaçá – havia um bar no chamado centro histórico, onde se lia no frontispício, talhadas com esmero, as palavras Luar do Sertão.

Não sei se ainda estão lá o bar e as letras. Se não continuam lá, é porque extirparam um pouco da história da cidade, coisa comum nos dias de hoje, em qualquer lugar.

O luar sempre foi inspirador das serestas, do amor desejado e da vida noturna no interior. Até as casas de chá nele se inspiravam para romantizar seus ambientes.

Lembro um baile intitulado “uma casa de chá ao luar de outubro”, para o qual fui convidado na década de 1970, mês de dezembro, numa cidade do interior da Bahia.

Como sempre me interessei em saber a origem das coisas, achei aquilo muito interessante: o luar era de outubro, mas o baile foi em dezembro. Continuo não sabendo até hoje.

O cantor e compositor José Amâncio Filho (Meu Mano), que nasceu nos domínios de Curaçá, mas se notabilizou em Abaré, inspirou-se no luar para compor algumas de suas canções. Uma curiosidade: o pai de Catulo chamava-se Amâncio José.

Nascido na Fazenda Malhada de Pedra, em 1894, quando Abaré ainda pertencia ao município de Capim Grosso, hoje Curaçá, Meu Mano cresceu vendo o luar do sertão.

Quando eu morava em Patamuté, um amigo de Meu Mano contou um “causo” curioso. Ambos estavam numa bodega, à boca da noite, já à luz do candeeiro, em tempo de lua cheia e o amigo lhe convidou para beber alguma coisa. Meu Mano ponderou: “certo, mas vamos esperar a lua sair”.

O escritor pernambucano Geraldo Granja Falcão escreveu sobre Meu Mano, dentre outras coisas, que “tinha uma vida boêmia, nômade, comunicativa, movimentadora de tantos pedaços de sertões e de gente, fiel às melhores tradições culturais da região”.

E ainda fez história que enriqueceu Curaçá, Abaré e região.

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O acaso, um amigo, um encontro

“O homem é um ser entre o nada e o túmulo” (Pedro Gomes de Camargo, padre português).

A cidade grande tem suas coincidências e permite encontros casuais, às vezes dilacerantes, outra vezes difíceis de explicar.

Em São Bernardo do Campo, cidade encravada no chamado ABC paulista, há uma avenida com o nome de Senador Vergueiro, grande e movimentada, que serpenteia do centro da cidade até as proximidades das divisas com Santo André e São Caetano do Sul, cidades também bonitas e acolhedoras.

Tenho um amigo, já octogenário, que não via há anos, por uma série de razões, dentre elas um grande defeito que carrego: sou sobremaneira relapso e desatencioso com os amigos, embora eles entendam, exatamente por serem amigos. E só por isto.

Um dia, na correria de São Paulo, encontrei-o frágil, amparado por uma bengala, olhar humilde e expressão inocente, caminhando com dificuldade por aquela avenida enorme, seca, barulhenta, poluída, perigosa.

Ali mesmo na calçada, conversamos por alguns razoáveis minutos. Eu às voltas com o tempo curto e compromissos agendados e ele, emocionado com o encontro, parecia um tanto desconexo para enfrentar os imperativos e asperezas da cidade grande, que tanto conhece.

Fiz-lhe algumas perguntas protocolares, como é praxe nesses encontros casuais: por onde tinha andado, o que fazia, família, et cetera. Expressão humilde, ele disse, cheio de reticências:

– “Veja. Eu me perdi. Tem uma rua ali…aquela onde moro….você sabe…diabo, pareço velho”. E apontava para um lado e para outro, braço levantado, gestos largos, raciocínio confuso, memória esburacada, a bengala a denunciar seu estado de fragilidade.

Fiquei preocupado. O tempo e o relógio cruéis me atrapalhando, confrontando-me com o dever de ser-lhe útil e solidário naquele momento. A lembrança fulminante do passado me cutucou. E saímos conversando amenidades, afastando a ferrugem da memória e até rindo do seu estado de senectude.

Deixei-o nas proximidades de sua casa e me despedi mais frágil do que ele, refletindo sobre sua situação de desamparo diante da certeza da velhice. Desamparo que só o desamparado sabe avaliar.

Chorar nesses momentos é muito fácil. Minha fortaleza e arrogância se desmoronaram ali, vendo-o incapaz de determinar-se por si mesmo. Como um amigo é fundamental nesses momentos!

Foi muito difícil ver o seu estado de fragilidade, a lucidez falhando, os passos trôpegos, a visão titubeante diante de um ponto imaginário.

Depois do adeus angustiado, fui relembrando nossa amizade, nossas conversas de décadas atrás, a alegria dos encontros, o bate-papo desinteressado, livre, descompromissado, o violão que ele tanto sabia tocar.

Meu amigo está frágil e diminuído.  Isto me deixa certo de que a vida é a medida exata de nossas fraquezas. E me veio à lembrança a frase do padre português Pedro Gomes de Camargo nos funerais do também padre Diogo Antonio Feijó: “O homem é um ser entre o nada e o túmulo”.

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A oposição na Bahia está com anemia

Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) costumava dizer que “são as brigas que tornam a vida pública realmente pública”.

Brigas de ideias, evidentemente, embora ele também gostasse de enfrentar outros tipos de briga.

Antonio Carlos Magalhães tinha um adversário histórico: Waldir Pires. Exilado, Waldir cutucava ACM, que se aboletou no poder arraigadamente, adquiriu prestígio monumental na Bahia e fora dela e aliou-se ao regime militar, que havia forçado o exílio de Waldir.

Todavia, ACM gostava das polidas, mas firmes provocações de Waldir, para alimentar a imprensa e virar notícia. Ambos foram amigos na juventude, contudo tornaram-se adversários, Waldir à esquerda, de princípios socialistas e ACM voltado para a direita.

De volta do exílio, o destino permitiu que Waldir impusesse retumbante derrota ao candidato de ACM ao governo da Bahia, professor Josapha Marinho e inverteram-se os lados da oposição e da situação.

Hoje a oposição na Bahia está anêmica. Corre o risco de evoluir para a morte e passar para o estado de decomposição.

Esfacelados e vazios de ideias, os principais partidos de oposição ao atual governador Rui Costa lançaram o nome do insosso José Ronaldo (DEM), prefeito de Feira de Santana, para disputar o governo do estado. Um desastre, uma vergonha, um vexame.

ACM Neto tentou imitar o avô. Em 1982, Antonio Carlos Magalhães foi buscar às pressas, em Feira de Santana, o ex-prefeito João Durval Carneiro e o ungiu governador da Bahia.

O candidato de ACM, já em campanha, era o pastor protestante Clériston Andrade, que faleceu em acidente aéreo poucos dias antes da eleição lá para as bandas de Caatiba.

O prefeito ACM Neto faz parte de uma oposição desfalcada, fraca, sem poder de convencimento e sem estratégica para enfrentar o feudo petista instalado no estado.

O PSDB de Antonio Imbassahy e nada é a mesma coisa; e o DEM comandado pelo próprio ACM Neto não reúne o prestígio deixado pelo espólio do PFL de ACM. Faltam-lhe carisma, experiência, lastro eleitoral.

As demais lideranças que compuseram a base da oposição nas eleições de 2018 nada tiveram para contribuir eleitoralmente.

O desastre se materializou nas urnas com míseros 22,26% dos votos atribuídos a José Ronaldo, salvo engano.

Na verdade, a Bahia empobreceu-se politicamente. Um exemplo é o MDB da família Vieira Lima – Geddel, Lucio, etc – que caiu em desgraça e ficou mais próximo dos presídios do que das urnas. Evaporou-se.

Ainda sobre Antonio Carlos Magalhães, dentre outros feitos, ele implantou o Centro Administrativo da Bahia (CAB), reformou o casario do Pelourinho, revitalizou a Lagoa do Abaeté, abriu avenidas em Salvador e viabilizou a estrada litorânea até a divisa com Sergipe. Na condição de prefeito de Salvador ou de governador da Bahia, ACM era uma força imbatível na Bahia. E tinha oposição séria, vigilante, atenta.

Nesse tempo, era comum uma cena, que hoje não se vê mais em política: quando ACM notava grande aglomerado de pessoas descia do carro e caía nos braços do povo. Hoje essa cena deslocada para a maioria dos gestores públicos foi substituída por vaias,  empurrões e grande quantidade de seguranças pagos com dinheiro público para afastarem as pessoas dos governantes.

O fato é que, como diz o ditado, “onde não tem onça veado folga”. Não há oposição na Bahia.

O governo da Bahia não tem opositores respeitáveis. Faz o que quer, governa como quer, diverte-se como quer. À custa do povo.

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Fragmentos do tempo

“O mundo é o seu caderno, as páginas em que você faz suas somas” (Richard Bach)

Já se vão, por aí, algumas décadas. E também muitos restos de tempo e solidão. Tempo que sustentava o viver e solidão que amparava as reflexões da juventude.

Em Patamuté, aldeia e sustentáculo de todos os meus sonhos, tudo era muito rudimentar. Os jovens espelhavam-se nos mais velhos, porque estes lhes serviam de modelo de vida.

A experiência dos pais balizava nosso caminhar. Era difícil lutar, mesmo que a luta fosse possível, necessária, exigível.

As elites tendem a estruturar o viver de seus filhos, dando-lhes estudos, formas saudáveis de vida e horizontes profissionais seguros. Mas em Patamuté, não havia elite e todos os jovens da época viviam no mesmo pé de igualdade, excetuados os poucos casos em que, mediante sacrifício, algumas famílias mandavam seus filhos para estudar fora.

O estímulo mais eficiente para o crescimento interior é a travessia das dificuldades. Assim como a memória guarda as lembranças das atrocidades, também retém a lembrança do nascer dos sonhos e da luta com vistas ao soerguimento do sofrimento, o livrar dos tropeços.

Registro aqui uma quadra da vida em que muitas de minhas amizades, que perduram até hoje, nasceram lá nesse ambiente de construção de sonhos, de idealismo e de perspectivas incertas.

Naquele tempo construí as primeiras amizades, muitas delas reluto, até hoje, em perdê-las. São amigos que perduram, ultrapassaram décadas porque se firmaram na sinceridade. E quando é assim, difícil acabar.

Sempre me perguntam quais são meus amigos, se ainda existem nalgum ponto do coração ou se diluíram no tempo e nos lugares por onde passei e morei, que são muitos, vários.

Em alguns desses lugares permanecem amigos ainda firmes. Em Patamuté, inclusive. Esses ficaram, não obstante o tempo passado. Coisas da juventude. Difícil de explicar. O terreno da juventude é propício para a pureza do coração.

Todavia, muitos amigos surgiram bem depois, quando eu não vivia mais lá e não mais encontrava acentuadas dificuldades na vida. E os grandes amigos são aqueles que aparecem nos momentos mais difíceis. Como dizia Walter Winchell, “amigo é aquele que chega quando as outras pessoas estão indo embora”.

Minha formação de vida deu-se numa atmosfera de muitos percalços. Tropecei algumas vezes. Caí, outras tantas. Mas levantei-me. E toda vez que me encontro na encruzilhada do tempo passado e presente, lembro as amizades adquiridas ao longo do caminho. E faço um balanço: valeu a pena tê-las. Vale a pena tê-las.

Lembro uma amiga, Cremilda Gomes de Sá, que me apareceu nessa quadra da vida em Patamuté. Já professora naquela ocasião, amiga indecifrável, porque não há definições completas para pessoas modestas, generosas, inexplicáveis. Assim, Cremilda.

Cremilda é assim e supera qualquer figura que o pensamento possa inventar. Aprendi, com ela, o gosto pela leitura, a curiosidade pelos livros, a fazer os questionamentos que a vida requer e a cutucar as incertezas do dia a dia.

Cremilda é mestra nas coisas da vida, sábia, generosa, fidelíssima. Sabe seguir adiante, sempre, sabe antever horizontes, sabe brigar com as incertezas do cotidiano.

As calçadas de Patamuté, quase sempre vazias, serviam para segurar nossos devaneios de jovens em busca de uma nova estrada para o mundo. Lá discutíamos sobre as injustiças e a ausência de tudo. E nesse tudo incluía-se a falta de perspectivas que nosso olhar utópico tanto insistia em alcançá-las.

Hoje Cremilda e eu convivemos com outros fantasmas, dentre esses a constante tentativa de entendermos os caminhos percorridos. Em alguns deles tivemos que afastar as pedras para que a passagem fosse possível.

Mas fizemos nossas somas, cuidamos do nosso caderno, construímos nosso mundo, juntamos os pedações do possível.

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As unhas de Rui Costa e a deputada desinformada

 “A mentira é a verdade que se esqueceu de acontecer” (Mário Quintana).

Num ato de fazer qualquer ditador corar de vergonha, o governador Rui Costa (PT) montou grande aparato policial para tentar impedir que servidores estaduais protestassem na Assembléia Legislativa da Bahia, contra a aprovação das chamadas reformas propostas pelo governo.

As reformas foram aprovadas, não obstante os protestos.

Parece, aqui, que não é o caso de questionar se as reformas são ou não necessárias. Devem ser. As contas públicas precisam ser ajustadas, mas de forma cautelosa e, sobretudo, transparente.

O que não ficou bem foi o governador, na ânsia de se reeleger, ter escondido o verdadeiro estado de penúria por que passam as finanças da Bahia. Escondeu, deixou passar a eleição e depois revelou. Um embuste desnecessário.

Em quadro assim, é razoável concluir que a reforma já estava pronta só à espera do fechamento das urnas. Uma reforma dessa envergadura exige estudo técnico e jurídico e isto não é feito em poucos dias.

Como Rui Costa tem maioria folgada na Assembléia Legislativa, não foi difícil aprovar tais reformas, simbolicamente.

Os excelentíssimos senhores deputados estaduais da Bahia apenas referendaram a decisão do governador, disseram amém. Nada mais do que isto.

Aliás, dizer amém é o que sabem fazer os deputados estaduais da Bahia, que ganham aproximados R$ 157 mil por mês. Nem precisam rezar, o dinheiro cai na conta de Suas Excelências todos os meses, religiosamente, escandalosamente.

À semelhança de vereadores do interior no início da República, os deputados simplesmente aprovaram o que o governador mandou. É possível que alguns sequer tenham lido o projeto.

Nesse episódio, há de tudo, como convém aos caras de pau.

A deputada Fátima Nunes (PT), lá das bandas de Paripiranga, que se vangloria de ter 40 anos de militância política, petista de primeira hora e, por óbvio, aliada do governador Rui Costa, disse que “não sabe explicar porque as medidas para o ajuste das contas do estado não foram anunciadas durante o período eleitoral” (Bahia Notícias, 12/12/2018).

A deputada não sabe que as finanças da Bahia estão em colapso. Certamente é aliada do governador na plantação de peroba.

Na mesma linha de Rui Costa, a deputada Fátima Nunes adotou como deleite a crítica aos governos anteriores ao PT. Coisa de desocupados. Mais: disse que o “PT tirou a lata d’água da cabeça das mulheres”.

A deputada precisa andar mais pelo interior do Brasil. Ela está sonhando muito. As mulheres continuam carregando lata d’ água na cabeça. Só o PT não vê.

Todavia, em política, o mais comum é mentir. E os políticos inescrupulosos mentem descaradamente. Isto não é privilégio de petistas. Todos – ou quase todos – mentem.

O governador Rui Costa começou a mostrar as unhas. É uma questão de sobrevivência. É necessário, para viabilizar seu governo no segundo mandato.

Se não mostrá-las agora, cairá em desgraça mais à frente, a exemplo de dona Dilma Rousseff. E aí, talvez, não terá mais Jaques Wagner para ampará-lo.

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A Bahia, a família Bolsonaro e outras observações

“Nessa questão de corrupção, que gente nossa fez bobagem está claro” (Jaques Wagner, em entrevista à Folha de S. Paulo, 09/12/2018)

 

A Bahia aos pedaços

O governador da Bahia, Rui Costa, está procurando culpados para justificar o estado de penúria em que se encontram as finanças do estado, que ele ajudou a destruir em 12 anos de governos petista.

Rui Costa recuou 28 anos e ainda foi buscar o ex-governador Antonio Carlos Magalhães no cemitério, para jogar-lhe a culpa pelo fracasso petista. Disse que ACM fez um concurso na década de 1990, não nomeou, há consequências disto, et cetera e tal.

Salvo melhor juízo, o governador já encaminhou à Assembleia Legislativa projeto com o intuito de aumentar a alíquota da contribuição dos servidores de 12% para 14% para, segundo ele, diminuir o déficit da previdência estadual, que só agora, depois de reeleito, ele diz que é astronômico. Coisas do PT.

Todavia, quando se trata de interesses do PT, a história é outra: recentemente o governador liberou R$ 127 mil ao MST para o movimento realizar um encontro em Salvador. Já contratou uma empresa, a Forte Frios, para fornecer alimentação aos petistas festeiros. Serviço de bufê de primeira linha.

Diz o governador Rui Costa que a Bahia está financeiramente quebrada. Então, é tempo de austeridade e não de financiar encontros de movimentos políticos.

A Bahia pensando

O senador eleito e ex-governador Jaques Wagner, diante do óbvio, reconheceu que o PT “fez bobagem”, ou seja, praticou atos de corrupção.

Este escrevinhador sempre disse que Jaques Wagner seria o candidato ideal para disputar a presidência da República em 2018, em substituição a Lula da Silva, que até as moscas sabiam que não podia ser candidato. Wagner é experiente e sabe jogar.

Bem que Lula tentou, mas Jaques Wagner não quis. Deixar o certo – a eleição garantida ao Senado – pelo duvidoso, não parecia sensato para o ex-governador. Deu certo.

Jaques Wagner é o único petista que admitiu os erros do PT, até agora. Os demais figurões do partido, inclusive Lula da Silva e os fanáticos em geral, dizem que nunca houve um partido tão honesto no Brasil.

Se Fernando Haddad, que se destacou como marionete nessa eleição presidencial de 2018, tivesse seguido a linha que Jaques Wagner sempre defendeu e admitido os erros do PT, talvez o resultado da eleição fosse outro. Na campanha do PT faltou humildade e sobraram arrogância e ingenuidade.

O Brasil aguardando

O respeitado jornalista Juca Kfouri, experiente e esquerdista até a alma, adotou uma frase no final de suas entrevistas: “Desesperar jamais!”.

Juca Kfouri tem um estilo sóbrio, ponderado e, sobretudo, cauteloso. Ouve mais do que pergunta. É um dos poucos profissionais da imprensa que sabe escutar.

Há uma fumaça de escândalo no ar: o caso do deputado estadual fluminense e senador eleito, Flávio Bolsonaro (PSL).

A imprensa noticiou que um assessor daquele parlamentar movimentou em sua conta bancária, nada menos do que R$ 1,2 milhão. O assessor também é membro da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Convenhamos, tratando-se de um assessor, essa quantia foge aos padrões de costume, excetuando-se a hipótese, também possível, de que ele tenha robusta vida financeira estranha às atividades política e policial, até porque não é proibido ser rico.

Mais: consta que esse assessor depositou na conta da futura primeira-dama do Brasil, a quantia de R$ 24 mil, que o presidente eleito, pai de Flávio Bolsonaro, apressou-se em dizer que se trata de pagamento de um empréstimo anteriormente feito ao policial-assessor.

Se empréstimo ou não, o caso precisa ser explicado. Embora se trate de operações anteriores à eleição de Jair Bolsonaro, é inquestionável que esse episódio respingou politicamente no presidente eleito. Política é isto.

Os opositores de Jair Bolsonaro já entraram em campo. Independentemente de se tratar de possível caso de corrupção envolvendo a família do novo presidente, os radicais de oposição correm o risco de atraírem para si as chamas do incêndio.

“Quem tem rabo de palha não pode passar perto do fogo”, diz a sabedoria popular.

A senadora e deputada federal eleita Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, já entrou em campo. Espalhafatosamente. Corre o risco de pegar fogo e levar o marido junto à fogueira: ambos estão enrolados até o pescoço em casos de corrupção. Há processos tramitando na Justiça sobre isto.

O governo a ser empossado em janeiro está abarrotado de neófitos, mas como diz Juca Kfouri, “desesperar jamais!

O Brasil segue em frente.

araujo-costa@uol.com.br

Em Chorrochó, os destaques de 2018

O Blog Chorrochoonline, tendo à frente o dinamismo de Edimar Carvalho, realizará significativo evento na Câmara Municipal de Chorrochó, neste 08 de dezembro, ocasião em que serão homenageados importantes nomes da região.

A data é significativa. O calendário de Chorrochó ficou enriquecido com esse evento que se reveste de grande importância social para toda região.

Chorrochoonline é uma valiosa iniciativa de Edimar Carvalho que deu certo, está dando certo e, certamente, continuará dando certo. E porque está dando certo, adquire credibilidade perante os segmentos sociais dos municípios baianos de Abaré, Chorrochó, Macururé, Glória, Paulo Afonso, Rodelas, Uauá, Canudos, Curaçá e região circunvizinha, inclusive em Pernambuco.

Salvo omissões de minha parte, que desde já peço escusas, recebem o troféu Destaque do ano de 2018 em Chorrochó, láurea criada pelo Chorrochoonline, as seguintes personalidades:

José de Assis Teles (Zezinho de Salomão), soteropolitano, filho de Salomão Tolentino Teles, ícone da história política de Abaré;

Marcos Alves, professor da rede pública da Bahia e de Pernambuco, com graduação em História;

Gregório Santa Rosa dos Santos, empresário;

José Raimundo Torres Monte Santo, líder atuante na área social em Macururé;

Dr. Edevaldo Paiva, advogado;

Cid de Tonhá, empresário e líder político em Macururé;

Marcos David, engenheiro, com considerável folha de serviços prestados ao município de Rodelas;

Pascoal Almeida Lima Tercius (Tércio de Fafá), vereador e presidente da Câmara Municipal de Chorrochó;

Naldinho Beira Rio, cantor e dirigente do Blog Beira Rio Notícias;

Cleiton Darlan Pires Sertão, vereador de Chorrochó;

Jerson José de Souza (Jerson Florimel), vereador de Abaré;

Jonas Alves, vereador de Macururé;

Joedson Ribeiro de Oliveira, cabo da Polícia Militar e vereador de Rodelas;

Maria do Socorro Silva Paiva, líder em Macururé, defensora de comunidades carentes;

Everaldo Carvalho, prefeito de Macururé, filho de político, seu pai Edvaldo Soares do Nascimento (Vadinho), também foi prefeito do município;

Delísio Oliveira da Silva, líder político, ex-prefeito de Abaré;

Marcos Oliveira, locutor, conhecido em toda região;

Luiz Alberto de Menezes (Beto de Arnóbio), vereador de Chorrochó;

Humberto Gomes Ramos, prefeito de Chorrochó;

Cleilson José Vericimo dos Santos, sindicalista de Abaré;

Wagner Almeida Soares, empresário;

Eloy Netto, radialista e blogueiro;

Silma Eliane, ex-prefeita de Macururé, filha de Silvino Alves do Nascimento, que também foi prefeito por diversos mandatos;

Oscar Araújo Costa Neto, empresário e secretário municipal de Chorrochó;

Sheila Jaqueline Miranda Araujo, secretária municipal de Chorrochó;

Dr. Érico Evilasio de Carvalho Paiva, advogado;

Aluisio Almeida, empresário;

Flamber Feitosa, líder político no município de Curaçá;

Dr. José Carlos Rodrigues do Nascimento, Juiz de Direito designado para responder pela comarca de Chorrochó;

Bergue de Josias, líder político no município de Macururé;

Lívio Fonseca de Souza, líder político no município de Chorrochó;

Como se vê, o troféu Destaque do ano de 2018 abrange diversos setores da vida social da região e, em consequência, tem o mérito de mostrar à sociedade como andam e o que fazem suas lideranças.

É uma avaliação, um parâmetro, um dizer sobre a conduta de cada um.

Parece razoável entender que a iniciativa do Chorrochoonline não é somente uma premiação às pessoas que se destacaram em 2018. É também uma forma de dizê-las que a sociedade está atenta à atuação de seus líderes, sejam eles políticos ou de qualquer outro segmento.

De qualquer forma, os homenageados têm méritos, qualidades e, sobretudo, inquestionável experiência.

Não fosse assim, não teriam sido escolhidos para receberem essa honrosa homenagem.

araujo-costa@uol.com.br

 

Rui Costa não consegue explicar

“A reeleição é mais uma oportunidade que o povo dá ao político para ele errar de novo” (José Cavalcanti, Patos-PB, 1918-1995)

Com o passar do tempo e o consequente avanço da idade, algumas coisas vão surgindo em nosso dia a dia. No meu caso, cresceram-se a barriga e a incapacidade de engolir asneiras de políticos demagogos.

O governador reeleito da Bahia, Rui Costa (PT), culpou os governadores anteriores ao primeiro governo de seu padrinho político Jaques Wagner pelo déficit da previdência estadual.

Conforme o governador, o déficit da previdência gira em torno de R$ 4,8 bilhões. Em 2022, a projeção é que alcance R$ 8 bilhões. A saída, ainda segundo o governador, é aumentar a contribuição dos servidores já a partir de março de 2019, se a Assembléia Legislativa aprovar ainda este ano.

Se o governador pedir, a Assembleia Legislativa aprova. Ele conta com 43 dos 63 deputados que ganham, em média, R$ 157 mil por mês e certamente não estão muito preocupados com déficit previdenciário de servidores.

Rui Costa até se valeu das catacumbas e lá foi buscar o falecido ex-governador Antonio Carlos Magalhães para culpá-lo pela quebradeira da Bahia.

Sua Excelência disse que “o estado tira da receita corrente para pagar o déficit”.

Ora, se Jaques Wagner encontrou o caixa da previdência com saldo zero, como Rui diz, e “o estado tira da receita corrente para pagar o déficit”, a lógica faz pressupor que o déficit foi gerado nos governos petistas e teria diminuído nesses anos de “eficientes” administrações petistas.

Mais: se o caixa estava zero quando o PT assumiu e hoje tem déficit de R$ 4,8 bilhões, significa entender que os governos anteriores não podem ser responsabilizados pelo déficit ou, no mínimo, os governos petistas nada fizeram para contê-lo ou evitar.

O governador assegurou que Jaques Wagner pegou o caixa da previdência com saldo zero, mas não explicou porque nesses 12 anos ininterruptos que ele e Jaques Wagner administraram a Bahia – ou fingiram que administraram – não conseguiram mudar ou, pelo menos, melhorar a situação.

Pelo jeito, Rui Costa vai precisar de um plantio gigantesco de peroba.

À semelhança de dona Dilma Rousseff nas eleições de 2014, Rui Costa fez a campanha eleitoral da reeleição mostrando somente as supostas qualidades de seu governo e escondendo a realidade da Bahia, que agora, depois de reeleito, começa a mostrar. Está cheirando – ou fedendo – malandragem política.

O governador Rui Costa foi reeleito em outubro, no primeiro turno, com 75,5% dos votos válidos. Ele convenceu mais de cinco milhões de eleitores que a Bahia vai bem.

Todavia, não há surpresa em Rui Costa convencer os baianos que a Bahia virou um paraíso com o PT no governo. Surpresa é saber que os baianos acreditarem nele.

Salvo engano, Rui Costa falou essas baboseiras todas em entrevista ao radialista e ex-prefeito de Salvador Mário Kertész, na rádio Metrópole, mesmo espaço onde Lula da Silva disse que basta dar dez reais a um baiano, que ele sai por aí, alegre, pulando, votando a torto e a direito.

Uma tremenda sacanagem do Lula com os baianos. De qualquer forma, a Bahia continua sendo um feudo petista.

Sou baiano e vivo numa pindaíba danada, mas – convenhamos – Lula pegou pesado com a gente.

araujo-costa@uol.com.br

Memória de Patamuté: Maricota, uma vida de simplicidade

“A gente pode ter orgulho de ser humilde” (D. Hélder Câmara)

Incluo-me entre aqueles que cavam as lembranças e se enternecem com as perdas. Elas têm sido muitas.

As construções precisam de esteios e de cumeeiras para se sustentarem diante da ação do tempo. Assim os lugares, assim Patamuté.

Os esteios de Patamuté estão se  ruindo com a passagem do tempo. É natural que seja assim.

O tempo atreve-se a colunas de mármore, imaginemos o que é capaz de fazer com a fragilidade humana.  Desmoronam-se as colunas, mas ficam as lembranças, os exemplos.

Registro o falecimento da professora Maria da Silva Vital, a sempre querida Maricota, coluna  de uma geração que Patamuté se orgulha de tê-la em sua construção. Professora de vida simples e generosa, admiravelmente generosa.

À semelhança do pai Francisco Ferreira Vital, Maricota cultuava as coisas simples, como convém aos sábios. Simples, mas profundas e essenciais. Acaso não é profunda a capacidade de ser humilde?

Maricota é do tempo em que os jovens respeitavam os mais velhos, alunos admiravam professores e se espelhavam em seus exemplos de vida. Ainda acredito que a sabedoria dos mais experientes é a melhor escola da vida.

Maricota viveu a ensinar caminhos durante grande parte de sua vida. Deixou lições de sabedoria e de humildade. Indicou horizontes, mostrou a melhor estrada que conhecia.

A professora Maricota era uma referência em Patamuté quanto ao delineamento de vida simples e benevolente..

Nestes tempos modernos, exemplos de vida são raridades, principalmente nesta quadra do tempo em que o mundo se transformou em indiferença, egoísmo, superficialidade, interesses.

Somos nós que fazemos as somas de  nosso tempo, de nossa vida. A professora Maricota faz parte das somas da História de Patamuté.

Deixo pêsames extensivos a todos da família de Maricota.

Que Jesus Cristo, redentor do mundo, dê-lhe o amparo na eternidade.

araujo-costa@uol.com.br

 

Quando a notícia não é importante

Ainda jovem, o jornalista baiano Raimundo Reis trabalhou no Diário de Notícias, em Salvador.

Um dia foi escalado para entrevistar o governador Otávio Mangabeira (1886-1960), no Palácio Rio Branco, então sede do governo da Bahia, na Praça Tomé de Sousa.

O jornal agendou com o Palácio dia e hora da entrevista.

O oficial de gabinete encaminhou o jovem jornalista ao governador.  Raimundo Reis se apresentou e, ato contínuo, recebeu das mãos de Otávio Mangabeira um envelope e a observação clara, sem rodeios:

– Estão aqui as perguntas e as respostas. Está dispensado. Gosto muito de facilitar o trabalho de vocês.

Raimundo Reis contava que lhe faltou chão. Retirou-se. Não fez sequer uma pergunta ao governador, porque não lhe foi permitido. No dia seguinte, o Diário de Notícias publicava extensa entrevista de Otávio Mangabeira concedida a Raimundo Reis.

O jornalista sergipano Joel Silveira, apelidado “víbora” da reportagem, honra e glória da imprensa brasileira, que trabalhou nos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, contava que foi entrevistar o general Góis Monteiro, líder e fiador do Estado Novo, como era conhecida a ditadura Vargas.

O general deu a ordem:

– Vá escrevendo o que vou lhe dizer. Confiei demais na “memória” dos jornalistas e sofri muito com isto.

E ditou a “entrevista” na íntegra. Joel apenas datilografou (naquele tempo não existia computador, era máquina de escrever).

Os grandes líderes às vezes agiam assim. Ditavam o que os jornais deviam publicar sobre eles ou o governo a que pertenciam. A imprensa os obedecia e respeitava, porque esses líderes interessavam aos jornais. Eram notícias diárias.

A rigor, não mudou muito. A publicidade que os governos pagam à grande imprensa dita a linha de pensamento das publicações, consideradas as exceções de praxe.

Hoje é comum autoridades desmentirem, através das chamadas notas, o que os jornalistas publicam, mesmo que informações colhidas em entrevistas gravadas. É uma forma de duvidarem da “memória” dos jornalistas, como dizia o general Góis Monteiro.

Um exemplo: antes de definidas as candidaturas presidenciais de 2018, a jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo, publicou que a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, havia dito que o partido não apoiaria Ciro Gomes, “nem que a vaca tussa”.

Ciro Gomes se sentiu traído por Lula e ficou magoado. Continua uma fera.

Depois das eleições, em entrevista à TVT, a senadora Gleisi Hoffman desmentiu Mônica Bérgamo. “Nunca falei isso”, disse a senadora.

Tarde. O estrago político já tinha sido feito e Ciro Gomes ainda esbraveja contra o PT.

A notícia nem sempre tem importância.

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