Autoridades com cara de retrato falado

Desconfiado, sábio e prudente, o caipira falou para o amigo: “compadre, não confio em ninguém que tem cara de retrato falado”.

No Brasil, há retratos falados espalhados pelo Executivo, Legislativo e Judiciário, em todas as esferas. Os exemplos são abundantes e se espalham por muitas instituições públicas.

No Executivo, dentre muitos casos, houve até presidente da República que se reuniu com um magnata, na calada da noite, nos porões da residência oficial, às escondidas, para cuidar de assuntos que certamente não podiam ser tratados à luz do dia.

No Legislativo, os exemplos são inúmeros e escorregam pelos ralos da desfaçatez e da malandragem. Houve parlamentar que presidiu a Câmara dos Deputados que, de tanto furtar, colocaram-no atrás das grades, não mais na condição de deputado federal, mas de delinquente.

No Judiciário, são tantos os casos! Juízes e desembargadores vendiam sentenças favoráveis aos réus, minuciosamente negociadas antes de prolatadas, por centenas de milhares de reais. Ficaram ricos, opulentos, sem caráter. Pena imposta: foram “punidos” com robustas aposentadorias. O Conselho Nacional de Justiça permite e ampara essa barbaridade, essa excrescência.

Ou seja, além de patifes, os juízes delinquentes ainda foram aposentados à custa dos brasileiros. Neste caso, para juízes corruptos, o crime compensa. É a lei que diz nas entrelinhas, mesmo que não tenha a intenção de dizer. Chama-se Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman).

A pena máxima para juiz corrupto é a aposentadoria vitalícia, robusta, vergonhosa, acintosa. Os brasileiros pagam e eles se locupletam.

Alguém já viu associações de magistrados, ou juízes, isoladamente, pugnando pela mudança da lei?

Todavia, certamente muitos já viram magistrados pregando moralidade, dando lições para pessoas humildes.

Agora, os procuradores da Lava Jato, em Curitiba, estão caindo em desgraça. Resolveram criar uma fundação com R$ 2,5 bilhões da Petrobras para eles próprios administrarem a seu bel prazer. Fato escandaloso, vergonhoso, deplorável.

Deu tempo. A Procuradoria Geral da República impediu a farra, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a fundação no nascedouro e mandou bloquear a fortuna depositada e destinada à instituição. Os procuradores ficaram com cara de galo e, por certo, desmoralizados.

Muito ruim para os procuradores, que se dizem pregoeiros da moralidade e têm o dever de fazer cumprir e fiscalizar a lei.

Pergunta-se: onde está escrito, na Constituição da República ou leis infra-constitucionais, que faz parte das atribuições de procuradores da República instituir fundações com dinheiro público ou privado e gerirem eles próprios os destinos da instituição?

O caipira estava certo.

É bom ter cautela com pessoas que têm cara de retrato falado.

araujo-costa@uol.com.br

Deputados da Bahia estão delirando

“Brasil de ontem e de amanhã! Dai-nos o de hoje, que nos falta” (Ruy Barbosa)

A Comenda 2 de Julho é a mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa da Bahia.

A norma que a instituiu estabelece que são merecedores de tal distinção pessoas que se destacaram na Bahia em alguma atividade e tenham relevantes serviços prestados ao Estado.

A bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Assembléia Legislativa da Bahia apresentou um projeto de resolução concedendo a honraria ao ator José Pereira de Abreu Júnior (Zé de Abreu).

O deputado Marcelino Galo (PT) que adotou a proposta, justifica o projeto alegando, salvo engano, a postura firme do artista em defesa da democracia, da liberdade e da cultura popular.

O deputado só não explicou quais os serviços relevantes que Zé de Abreu prestou ao estado da Bahia.

Ausentes as condições para o ator da Globo receber a honraria, só nos resta a presunção de que a comenda foi desfigurada, perdeu o seu objeto.

Sabe-se que o ator, quando jovem, pertenceu ao grupo de esquerda Ação Popular e deu apoio logístico à organização VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), que combatiam o regime militar valendo-se de ações armadas.

O que isto tem a ver com a Bahia?

Zé de Abreu é bom ator. Isto ninguém nega e não vem ao caso. Ultimamente ele vem fazendo umas patacoadas. Nada demais. Apenas uma recaída de seu tempo de juventude. Com uma diferença: as patacoadas de hoje são mais ridículas.

Jacó da Silva, outro deputado estadual do PT da Bahia, quer conceder o título de cidadão baiano ao invasor de propriedades Guilherme Boulos, ex-candidato a presidente da República pelo PSOL, puxadinho e apêndice extremado do PT.

O deputado, até por ser neófito e sem experiência, também não consegue explicar quais os serviços que Guilherme Boulos prestou aos baianos para merecer tamanha distinção.

Como se vê, os deputados petistas da Bahia estão delirando, talvez em razão da ociosidade.

Querem apequenar a Bahia.

Com deputados desse naipe, o Brasil de hoje está nos faltando.

araujo-costa@uol.com.br

O prefeito e o presidente

O zoólogo, pesquisador e compositor Paulo Vanzolini (1924-2013), autor de Ronda, talvez a música mais tocada na noite boêmia paulista, costumava contar o caso de um prefeito do interior do Nordeste.

Um repórter quis saber se era verdade que o prefeito havia nomeado o filho para importante cargo na Prefeitura, mesmo sem ostentar nenhum conhecimento técnico para a função.

A resposta do prefeito foi clara.

– É verdade. Nomeei meu filho e vou nomear os filhos dele, os netos dele e, se puder, os bisnetos dele.

O repórter insistiu.

– Por quê?

O prefeito esclareceu.

– Porque em minha família quem manda sou eu. E chispe daqui.

E o repórter chispou.

O presidente Jair Bolsonaro tem três filhos com mandato eletivo: vereador, deputado federal e senador. Presume-se que cada um deve atuar em sua casa legislativa e pronto. O povo os escolheu para isto.

Entretanto, um deles, que é vereador no Rio de Janeiro, parece que se ocupa mais com as redes sociais e vem dando pitaco em assuntos do governo federal, o que não é bom. Trata-se de intromissão descabida. Ele não faz parte do governo, não exerce função no governo. Pior: fala em nome do pai-presidente e sai, por aí, distribuindo opiniões polêmicas fora de contexto.

O diabo é que o presidente vem concordando com os pitacos do filho em assuntos estritos do governo, o que tem causado razoável incômodo no Palácio do Planalto. E parece que o presidente não aceita ponderações de outros auxiliares quanto à ingerência do filho em assuntos de governo.

Isto faz lembrar a história contada por Paulo Vanzolini.

Parece que o presidente da República entende que quem cuida de sua família é ele.

Quando pensar de modo diferente – se vier a pensar – poderá ser tarde.

Há muitos exemplos de famílias que arruinaram governos.

araujo-costa@uol.com.br

Memória dispersa de Curaçá: Tote e seu tempo

“Abandonado pelos poderes públicos, que só cuidam das necessidades dos não necessitados, o povo curaçaense segue impávido, com fé de um beneditino e as esperanças dos que não esmorecem” (João Matos, historiador curaçaense, em conferência no centenário de Curaçá)

Curaçá, 1980. O prefeito Aristóteles de Oliveira Loureiro (Tote), de família tradicional da sede, reinava solenemente, como convém aos chefes políticos do interior. O vice-prefeito era o ilustre Dr. Hélio Coelho Oliveira, de Barro Vermelho.

Aristóteles Loureiro comandou o município de Curaçá em dois períodos: 1977-1983 e 1989-1992.

Nas duas oportunidades, Tote sucedeu o amigo e aliado político Theodomiro Mendes da Silva, filho de Patamuté, que também havia governado o município por dois períodos: 1973-1977 e 1983-1988.

Em 1980, a Câmara Municipal compunha-se de nomes respeitáveis: Ismael Cariri dos Santos, Dr. Pompílio Possídio Coelho, Manoel Pires de Menezes, João Brandão Leite, José Soares Félix, Artur Carlos do Nascimento, Onofre Hipólito de Araújo, Antonio Marques de Jesus, Themístocles Duarte Sobrinho, João Costa do Nascimento e José Luiz dos Santos Filho.

Na ocasião, o Poder Judiciário em Curaçá era representado pelo Dr. Benedito José Carvalhal de Souza, juiz de direito da comarca, que também foi titular da comarca de Chorrochó.

Os feitos realizados pelos prefeitos daquele tempo não eram lá coisas que se possa dizer de grande destaque, tendo em vista as peculiaridades locais e a escassez de recursos. Os prefeitos reinavam mais politicamente e menos administrativamente.

Todavia, já na primeira administração, Tote listava como feitos de sua iniciativa, dentre outros: implantação dos bairros São Benedito e São Francisco, na sede, assim como a construção do prédio do Colégio Municipal Professor Ivo Braga, em convênio com o Estado e construção do prédio Escolar José Amâncio Filho, em convênio com o Ministério da Educação.

No distrito de Patamuté, Tote incluía a construção do Posto de Saúde; em Barro Vermelho, a construção de uma praça; em Poço de Fora, recuperação do prédio escolar da fazenda Esfomeado; e, em Mundo Novo, a ampliação do tanque público.

Como uma coisa puxa outra, segundo os mais velhos, lembro que outro dia lideranças reivindicaram atenção do município quanto a algumas deficiências da escola do Saco da Canoa, na região de Riacho Seco. O prefeito parece que já resolveu ou está resolvendo.

Pois é. O prédio escolar do Saco da Canoa foi construído na primeira administração de Aristóteles Loureiro, o que faz pressupor que faltou atenção das administrações subsequentes, inclusive para mantê-lo em pé.

Como estou falando de memória e não de política, propriamente, cito uma curiosidade: na prestação de contas que Aristóteles Loureiro fez em 1980, constava a compra de dois mimeógrafos para a Prefeitura.

Geringonça muito útil, inclusive na vida de estudantes, Curaçá deve ter preservado alguns para registro da história.

Por aí se vê, que a geração mimeógrafo realmente existiu.

araujo-costa@uol.com.br

Política de Curaçá, tempo e lembrança

“A gente gasta a juventude na ilusão de transformar o mundo. Quando se dá conta, já não sobra tempo para se adaptar a ele” (Sérgio Granja)

A reforma partidária de 1979 extinguiu o bipartidarismo (ARENA e MDB), que vigorou durante quase todo o regime militar de 1964 e permitiu, em consequência, o surgimento de novos partidos políticos.

A ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido oficial de sustentação do regime e totalmente submisso às ordens dos governos militares era conhecido como partido do “sim, senhor”.

O MDB (Movimento Democrático Brasileiro), autorizado a existir pelos militares, que representava a oposição, era conhecido como partido do “sim”.

A década de 1980 foi efervescente na organização de agremiações partidárias, tendo em vista o cansaço vivido em anos de restrição da liberdade e a expectativa de novos rumos para o Brasil.

Em Curaçá, valem o registro histórico e a lembrança de quantos se empenharam na luta democrática, depois de anos de obscurantismo e incompreensão política. O bipartidarismo vigorou de 1966 a 1979.

Salvador Lopes Gonsalves/Reprodução perfil facebook

O cenário da redemocratização pressupôs a anistia de pelo menos 5 mil brasileiros, dentre exilados e empurrados para a clandestinidade. A redemocratização consolidou-se com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que carregava a estrutura da oposição, se organizou no município de Curaçá com a participação valiosa de abnegados lutadores, todos com o objetivo de mudar, de livrar-se  da mesmice, da submissão, do desencorajamento.

Figuras proeminentes que lutaram para adequar a nova realidade curaçaense ao cenário partidário nacional: Salvador Lopes Gonsalves e Omar Dias Torres (Babá), dentre outros, como se vê abaixo.

Omar “Babá” Torres/Brasil de Fato/Petrolina

Os ventos assopravam para o alvorecer de novas ideias, antes sufocadas. Em Curaçá surgiram lideranças políticas e alguns sonhadores que foram ficando pelo caminho.    

A mudança deu-se aos poucos. Curaçá ainda não mudou como sonhavam aqueles curaçaenses de então. Alguns morreram sem alcançar a mudança, outros estão aí, certamente esperançosos e com novas perspectivas de mudança, ainda.

Em 1986, a organização do PMDB de Curaçá compunha-se dos seguintes nomes, todos empenhados no alvorecer de novos tempos.

Diretório Municipal:

Omar Dias Tores, delegado à convenção regional

Emanuel Matos Torres

Mílton Nunes de Araújo

Salvador Lopes Gonsalves

Wolmar Dias Torres

Aderaldo Ferreira da Silva

José Antonio dos Santos

Deroaldo Franco de Andrade

José Newton de Araújo

Paulo Cezar Dias Torres

Antonio Félix dos Santos

José Reis Brandão

Antonieta Galdieri, suplente de delegado à convenção regional

Lindovaldo Ferreira Rêgo

Paulo Roberto da Mota

Durval Santos Torres

Maria Valdecy de Aquino Souza

Lia Suzuki

Roberval Dias Torres

José Alves de Sena

Manoel Gonçalves Buriti

Durval de Aquino Filho

Eulália Gonçalves de Souza

Jaélio Ribeiro da Silva

Suplentes:

Maria Elizabeth Dias Torres

Eleutério Bahia da Silva

Raimundo Mendes Varjão

José Clodonildo Duarte de Andrade

José da Silva Gama

Mário Cézar Torres da Silva

Valdemar Batista do Nascimento

João Gonçalves dos Santos

Comissão Executiva:

Emanuel Matos Torres, presidente

Omar Dias Torres, vice-presidente

Mílton Nunes de Araújo, secretário

Salvador Lopes Gonsalves, tesoureiro

José Reis Brandão, suplente

Deroaldo Franco de Andrade, suplente

Curaçá sempre foi celeiro de boas ideias, de bons exemplos. Continua sendo.

Se as tempestades carregaram a disposição da luta, mantiveram os sonhos, a esperança e a ilusão de transformar o mundo.

Como disse Barrymore (1882-1942), “o homem nunca será velho se os seus lamentos não tomarem o lugar de seus sonhos”.

araujo-costa@uol.com.br

 

Lula: a dor não é ideológica e nem partidária

Estúpidos de algumas partes do Brasil debocharam da massacrante dor que Lula da Silva está passando com a morte do neto.

Lula está fragilizado pelas agruras do cárcere, além da morte da esposa, não muito distante, do irmão e, agora, do neto.

Qualquer pessoa mentalmente sã não desdenha da dor de outrem, seja adversário político ou mesmo inimigo pessoal e, muito menos, por quaisquer razões, ideológicas ou partidárias.

O mundo está em franca degenerescência. É assustador o número de pessoas que se tornaram cruéis, insensíveis, idiotizadas, patetas, estúpidas.

Caso semelhante aconteceu na campanha presidencial de 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro levou uma facada na cidade mineira de Juiz de Fora. Um grande número de pessoas se manifestou, não para prestar solidariedade ao candidato esfaqueado, mas para demonstrar satisfação pela ocorrência do fato criminoso. Uma insanidade que resvalou para o estímulo à violência .

Agora, com Lula, dá-se outra insensatez. Pessoas se manifestaram nas redes sociais de forma repugnante, como se a morte do neto do ex-presidente fosse um fato que se devesse comemorar.

Um momento triste desses na vida de qualquer pessoa dilacera a alma, desmorona-lhe a estrutura emocional e, sobretudo, dá-lhe a sensação de desamparo absoluto.

Durante o velório do neto, em São Bernardo do Campo, Lula recebeu telefonema do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, prestando-lhe condolências.

A ligação foi recebida no telefone do ex-ministro e amigo pessoal de Lula, Gilberto Carvalho, que a passou para o ex-presidente. Lula chorou, como aconteceu durante todo o tempo em que esteve no funeral do neto. Não era pra menos.

Imbecis de plantão certamente dirão barbaridades contra o ministro Gilmar Mendes por conta desse gesto de grandeza.

Lula saiu da prisão para o funeral do neto com algumas condições delineadas pelas autoridades, dentre elas a de ficar em local fechado e não falar em público, tampouco à imprensa. Ele concordou.

Mas, aconteceu um fato que somente pode ser atribuído à condição de Lula enquanto animal essencialmente político.

Ao deixar o cemitério, Lula cumprimentou as pessoas que o aguardavam na saída, militantes petistas, admiradores, curiosos.

Um agente federal da escolta o repreendeu:

– O senhor sabe que não devia ter feito isto.

Lula respondeu:

– O senhor sabe que eu devia.

De qualquer forma, é estarrecedor que parte de nossa sociedade esteja trilhando o caminho da intolerância.

Deleitar-se com a morte de uma criança, simplesmente por ser parente de Lula, mais do que ato repugnante, chega a ser doença ou, no mínimo, desvio de caráter.

A dor não é ideológica e nem partidária.

Lula tem direito de chorar.

araujo-costa@uol.com.br

A miopia do Poder Judiciário

Em 24 de janeiro, um sensato juiz federal de Ituiutaba, interior de Minas Gerais, em decisão sábia, restringiu o auxílio-mudança dos deputados federais e senadores. Proibiu que o auxílio fosse creditado a deputados e senadores reeleitos que não precisam sair de Brasília.

O auxílio-mudança consiste no seguinte: cada parlamentar recebe no fim e no começo do mandato um salário a mais, que hoje corresponde a R$ 33,7 mil. Ou seja, em janeiro o parlamentar recebe em dobro, além das demais e robustas verbas que embolsa.

A justificativa dessa mamata é o eventual pagamento das despesas de mudança do parlamentar para seu estado de origem ou dele para Brasília.

Agora em fevereiro, um juiz federal de Sergipe, em decisão não muito sábia, mandou a Câmara e o Senado pagarem o auxílio-mudança aos parlamentares, em caminho contrário à decisão judicial do colega mineiro.

Amparada na decisão do juiz sergipano, a Câmara dos Deputados imediatamente já depositou na conta de 477 deputados. Total do desperdício: R$ 16 milhões, mais precisamente, R$ 16.104.951,00.

Há notícia de que cerca de 30 parlamentares abriram mão do benefício.  Ainda bem.

Pior: o juiz de Sergipe mandou depositar, inclusive, na conta dos parlamentares que foram reeleitos e, portanto, não têm mudança a fazer, porque continuam em Brasília.

Ora, se o deputado federal ou senador continua morando em Brasília, qual a justificativa do auxílio-mudança?

O juiz sergipano disse que não viu “qualquer ilegalidade” no pagamento do auxílio-mudança, mesmo para quem não precisa mudar.

Certamente não há ilegalidade mesmo, mas imoralidade.

É que o juiz sergipano não sabe onde aperta o sapato do pobre, quando o pobre tem sapato. E mandou esbanjar o dinheiro público.

Sua Excelência não frequenta corredores de prontos socorros e hospitais públicos que não têm leitos, remédios, médicos, equipamentos para fazer exames, atendimento decente, etc.

Sua Excelência não frequenta os mesmos lugares que os pobres frequentam e, portanto, não conhece o desamparo em que vivem.

Sua Excelência não sabe o que é fome, que o Brasil tem 12 milhões de desempregados, que famílias inteiras não têm o que comer.

Mas há uma possível explicação para tudo isto: em alguns casos, o Poder Judiciário sofre de miopia ao proferir decisões que atingem a população.

Talvez o juiz sergipano precise fazer uso de lupa. E verá o tamanho da imoralidade que contém a medida, embora seja legal.

O Brasil está às moscas.

O Poder Judiciário, que a sociedade ainda acredita, poderia coibir os desmandos com o dinheiro público, mas é o primeiro a escancarar as porteiras da insensatez.

araujo-costa@uol.com.br

O sigilo da fonte é proteção constitucional

É conhecido o episódio envolvendo o ex-presidente Jânio Quadros e um estudante universitário.

Jânio ministrava palestra numa instituição. Terminada a preleção, foram franqueadas as perguntas.

Um estudante fez a primeira pergunta, utilizando palavras inapropriadas para se dirigir ao ex-presidente da República.

Jânio o ouviu com atenção, perguntou o nome do interlocutor, remexeu-se na cadeira e disparou:

– “Abraham Lincoln, que o senhor deve saber quem é, dizia que intimidade gera filhos ou aborrecimentos. Como não quero ter nenhum dos dois com o senhor, me respeite e coloque-se no seu lugar”.

Adepto da frase “Jânio é um louco que se julga Jânio”, o jornalista Gilberto Vieira de Souza diz que esse fato se deu em entrevista com uma jornalista. Pode ser que Jânio tenha repetido a frase em mais de uma ocasião.

Jânio em público era ríspido, formal, fazia questão de manter distância de jornalistas e intrusos, principalmente de intrusos.

Em casa era outro, mudava o rumo da conversa, esticava o papo, gostava de prosear.

Frequentei a casa de Jânio Quadros quando ele morou na Rua do Estilo Barroco, em Santo Amaro, capital paulista. Ele tinha diversos endereços.

Em casa, Jânio sabia se metamorfosear: diferente, informal, elegante, curioso, por vezes brincalhão, mas respeitador, sempre respeitador. Por isto a máxima “Jânio não tinha amigos, mas admiradores”.

Conto um desses encontros com Jânio no meu livro Fragmentos do Cotidiano, de 1987.

Bem informado, Jânio Quadros tinha muitos amigos jornalistas. Os jornalistas o respeitavam como fonte de informação segura e respeitável e jamais publicavam qualquer coisa contrária aos princípios do ex-presidente.

Estou dizendo tudo isto, porque em data recente publiquei um texto neste blog que incomodou algumas pessoas de certo município baiano.

Meus textos não têm o intuito de ofender ninguém, tampouco de melindrar quaisquer pessoas. São pontos de reflexões. Só isto. Nada mais do que isto.

Entretanto, fui surpreendido com o contato de um senhor insinuando que eu revelasse a fonte de minhas informações sobre aquela matéria.

Mandei cantar noutro terreiro.

Há pessoas que misturam política com politicagem.

Há pessoas que não sabem a diferença entre debate de ideias e tendência política, ideológica e eleitoral.

Quase me valho da frase de Jânio sobre a intimidade, mas me contive.

O sigilo da fonte é garantia e proteção constitucionais.

Mas nem todo mundo sabe.

araujo-costa@uol.com.br

Curaçá: o limite entre o sonho e a ética

“Ao rei tudo, menos a honra” (Calderon de La Barca, teatrólogo madrileno do século XVII).

O conceituado jornalista Maurízio Bim, honra e glória de Curaçá, conta que Donizete Nunes Franco, curaçaense de boa cepa, senhor honrado e respeitado, dizia que Raul Coelho comprou um rádio lá para as bandas de 1920 ou próximo disto.

Segundo Donizete, “o povo indo se admirar, assistir o bicho falador. O dono o botava na janela de sua casa para o povo ouvir. Uma mulher teimou e teimou, queria ver o homem que estava dentro da caixa”. (Maurízio Bim, História da Imprensa de Curaçá, primeira edição, página 10).

O ínclito sociólogo Esmeraldo Lopes, que sabe tudo de Curaçá, também conhece a história.

À semelhança daquela mulher, os curaçaenses devem estar ansiosos para ver o interior da caixa onde está o monumental desenvolvimento experimentado pelo município de Curaçá na atual administração, conforme apregoa a assessoria de Sua Excelência o prefeito Pedro Oliveira.

Nesses tempos de redes sociais, fake news e outros terrenos perigosos do mundo virtual, nem tudo que se lê ou se ouve deve ser levado a sério. A cautela recomenda sopesar, analisar, checar, ponderar, conferir.

Entretanto, juro que captei num grupo de WhatsApp que, somente em 2019, Curaçá terá 300 empregos diretos oriundos do setor privado até junho, com carteira assinada e mais 2.000 empregos diretos provenientes do setor público, estes presumivelmente até o final do ano.

Isto equivale, segundo a praxe estatística que Curaçá terá, pelo menos e aproximadamente, 6.900 empregos indiretos, somente em 2019.

Como se vê, Curaçá será um oasis de desenvolvimento neste Brasil de desemprego e desesperança.

Já era madrugada quando tive conhecimento do milagre curaçaense.

Confesso que me deu uma vontade danada de telefonar para meus amigos empresários paulistas mais chegados, acordá-los e dizer, orgulhosamente: estão vendo! São Bernardo do Campo, que faz parte de uma metrópole, está padecendo por falta de empregos, mas em meu caatingueiro município baiano de Curaçá, nas barrancas do São Francisco, só este ano de 2019 haverá vagas para 2.300 empregos diretos.

É muito emprego. Em proporção à população de Curaçá, até as formigas de lá estarão empregadas.

Do alto de minha insignificância, não estou duvidando da informação veiculada no grupo de WhatsApp, mas Curaçá deve ser o único município brasileiro onde o dinheiro está rolando adoidadamente. Isto é animador.

Como sou homem de fé, atribuo o milagre curaçaense às bênçãos de São Benedito e do Bom Jesus da Boa Morte.

Mãe Sérgia (Sérgia Maria da Conceição), que tanto amou Curaçá e seus filhos deve ter ajudado os santos a elevarem Curaçá às alturas do desenvolvimento.

As associações de municípios, prefeitos, governos estaduais e governo federal são unânimes em dizer que os municípios estão financeiramente quebrados, muitos até com dificuldade de cumprirem a folha de pagamento.

Em Curaçá, não é bem assim, a julgar pelas informações veiculadas pela assessoria do prefeito Pedro Oliveira. O município parece que se transformou num canteiro de obras, em todos os setores.

Não há crise, deduz-se.

Todavia, essa bonança apregoada pela assessoria do prefeito ainda não chegou ao setor que cuida do desenvolvimento rural do município. Pelo menos é o que me informam pessoas que solicitam apoio da Prefeitura e não são atendidas sob a alegação de falta de equipamento necessário para suprir as necessidades do homem do campo.

Curaçaense que sou, com muito orgulho, torço que Curaçá se desenvolva nos moldes delineados pela assessoria da Prefeitura, mas ainda não cheguei à fase de acreditar em Saci-Pererê.

Entendo que os sonhos não podem ultrapassar o limite da ética. E a ética recomenda, no mínimo, prudência.

A população tem o direito de ser informada e o Poder Público tem o dever de informar. Mas com serenidade e sem exageros.

araujo-costa@uol.com.br

O PT e as manchas do comunismo

1961. Em Cuba, o ditador Fidel Castro mandou prender 20 sacerdotes da Igreja Católica Apostólica Romana e, ato contínuo, determinou que fossem fuzilados.

O papa João XXIII pediu ao Núncio Apostólico no Brasil, D. Armando Lombardi, que pedisse ao presidente Jânio Quadros para interceder junto à ditadura cubana no sentido de evitar o fuzilamento dos padres.

Jânio Quadros agiu rápido. Conhecia Ernesto “Che” Guevara (1928-1967), que exercia função equivalente à de ministro da Economia de Cuba e, por intermédio dele, evitou o fuzilamento dos padres que o sanguinário Fidel Castro havia determinado.

Em seguida, os padres foram expulsos de Havana e mandados para a Espanha. O Vaticano ficou grato a Jânio.

A participação de “Che” Guevara é conhecida na revolução cubana e na consequente derrubada do presidente Fulgêncio Batista.

A implantação da ditadura cubana deu-se com a decisiva participação de “Che” Guevara, esteio do pensamento comunista da época que ajudou a implantar na “Ilha” dos Castro.

Hoje, seis décadas depois, é estarrecedor que ainda existam admiradores contumazes dos métodos de Fidel Castro. Quem o admira, em consequência, admira também suas práticas nefastas.

Na Venezuela, o ditador Nicolás Maduro está dizimando o país.

Seguidor do pensamento de Fidel Castro, Maduro é insensato e cruel.

Maduro já prendeu opositores, fechou órgãos de imprensa, forjou pleitos eleitorais e, hoje, de forma cruel, está impedindo o ingresso na Venezuela de ajuda humanitária consistente em gêneros alimentícios e remédios para os venezuelanos.

Noutras palavras: Maduro está matando parte da população de fome e suprimindo as condições mínimas de sobrevivência de seus nacionais venezuelanos. Coisa de ditador.

No Brasil, dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) endeusam as ditaduras, mormente algumas africanas e outras como Cuba e Venezuela.

Em data recente, a radical presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, especialista em assuntos asnáticos, provocou um racha no partido. Decidiu sozinha ir à posse do ditador venezuelano e lá o enalteceu perante o mundo. Um vexame, num mundo e numa época em que os ditadores e as ditaduras estão em baixa.

Muitos petistas sensatos não aprovaram o comportamento da presidente nacional do partido, cientes da quadra do tempo em que vivemos. Ainda estão se engalfinhando internamente por causa dessa atitude tresloucada da presidente do partido.

Todavia, o que Gleisi Hoffmann faz e diz é questão de psiquiatria. Só especialistas na ciência entendem seu destrambelhamento.

Mais: Gleisi Hoffmann ainda não explicou quem pagou as despesas com o deslocamento dela e de sua equipe até a Venezuela, incluindo assessores, hotéis, traslados, et cetera, vez que ela mesma apregoa que o dinheiro do PT acabou e o partido está quebrado, em penúria.

Sua Excelência precisa explicar de onde veio o dinheiro para essas despesas feitas simplesmente com o intuito de endeusar o ditador venezuelano.

Gleisi rebaixou o PT perante o mundo.

Aliás, relativamente ao PT, a situação é histórica.

O ex-ministro José Dirceu de Oliveira e Silva, que foi presidente nacional do partido e ministro plenipotenciário de Lula da Silva, quando exilado fez curso de guerrilha em Cuba e lá se valeu de cirurgia plástica para mudar suas compleições físicas e voltar ao Brasil clandestinamente sem ser reconhecido. Deu certo.

Zé Dirceu voltou, casou-se e morou no Paraná durante anos sem ser reconhecido, teve filho e somente revelou a identidade para e esposa após a anistia de 1979. Segredo que só um guerrilheiro bem preparado consegue guardar durante tanto tempo.

Mas, voltando ao comunismo, seus seguidores costumam deixar manchas cruéis.

O Brasil precisa ficar atento com a conduta de alguns políticos “sem noção”.

araujo-costa@uol.com.br