Curaçá e o papel da SCAB

Vista parcial da Sociedade Curaçaense Artística e Beneficente (SCAB). Foto sem data. Crédito: Luciano Lugori

A Sociedade Curaçaense Artística e Beneficente (SCAB), que ainda mantém sua história imponente e valiosa, se formou como um clube da sociedade local mais à moda e aos modos da elite interiorana do Nordeste.

Em minha juventude – já vai longe no tempo – chegava a ser difícil frequentá-la se não envergasse credenciais abonadas por pessoas integrantes de famílias fincadas em raízes tradicionais locais.

Houve um tempo em que era preciso recorrer a Adair Brandão Aquino e Maria Valdelice Aquino, elegantes e distintas senhoras da sociedade curaçaense, que tinham segura participação e influência sobre a administração do clube, todo vez que se reivindicava o local para a realização de quaisquer eventos.

Ainda assim, nem sempre era possível o intento.

Entretanto, anos mais à frente, a SCAB abrigou, com nobreza e elegância, seminários e movimentos da juventude da época, capitaneados por irrequietos jovens curaçaenses, a exemplo de Roberval Dias Torres, José Carlos (Pinduka), Dodó e tantos outros.

A SCAB entendeu aquele momento efervescente e acolheu a rebeldia própria da juventude, atributo da mocidade utópica e sonhadora, que balançava as estruturas do pensar curaçaense.

Esses e outros tantos jovens daquela Curaçá da primeira metade da década de 1980 acabaram construindo um movimento cultural enriquecedor que desembocou em ideias louváveis e grandiosas como a CURAÇARTE, voltada para a produção artística e intelectual, desejo de revitalização do Teatro Raul Coelho, primeira semana cultural, et cetera.

Surgia, com ênfase, a “geração mimeógrafo” que já vinha se formando e produziu intelectuais a exemplo de Josemar Martins (Pinzoh), nascido em meio aos cactos de São Bento e espécie de referência quando se trata de defesa da cultura regional sanfranciscana.

Não é exagero, nem demais pontuar, que a semente desse período rico de ideais em Curaçá atapetou o caminho para o surgimento de iniciativas como a banda Bichos Escrotos e, mais recentemente, o Acervo Curaçaense, que abriga louvável e reconhecida desenvoltura com vistas à sedimentação da história de Curaçá.

Na esteira dessa forma de tentar compreender a alvorada daquela quadra do tempo, Curaçá produziu uma geração de intelectuais que engrandece a história do município.   

Os exemplos são diversos e conhecidos, sem, por óbvio, desprezar os mais antigos, sempre de meritórias referências.

Livros como História da Imprensa de Curaçá e Barro Vermelho-Memória e Espaço, do jornalista Maurízio Bim e Enquanto Enlouqueço, do também jornalista Luciano Lugori fazem parte do resultado desse novo pensar da cultura de Curaçá.

De todo modo, a SCAB contribuiu com as artes e o dizer de Curaçá e representa, sem dúvida, a perene história do município. 

araujo-costa@uol.com.br                                                

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