Os mineiros de antigamente – não sei se ainda hoje – usavam a palavra escorubiúda para significar coisa confusa e estranha.
Amigos telefonaram da bela e sanfranciscana Curaçá questionando minha suposta falta de atenção e a razão de não ter ido à 1ª Feira Literária de Curaçá (FLIC) que se realizou na cidade entre 21 e 23 de novembro último, evento muito badalado que enriqueceu o município e a região.
Primeiro, porque as boas regras de etiqueta e civilidade dizem que não se deve meter o bedelho onde não foi chamado.
Segundo, porque a 1ª Feira Literária de Curaçá (FLIC) foi coisa de gente grande e eu, diante de minha pequenez, circunscrevo-me a mim mesmo, tão somente este escrevinhador pendurado ao acaso do cotidiano de cronista. Como tal, sou desconhecido dos curaçaenses, embora orgulhoso filho de Patamuté.
Terceiro, porque mesmo se eventualmente tivesse sido convidado, não poderia comparecer, tendo em vista o turbilhão de afazeres que tenho que dar conta todos os dias, em razão de vínculos e amarras profissionais.
Outro amigo fez um sucinto, criterioso, sensato e isento relato do evento literário, que muito me lisonjeou, mas não me fez nenhuma pergunta e obrou ele muito bem.
Na realidade, quando tive conhecimento da FLIC ela já estava acontecendo e isto se deve, unicamente, a um descuido meu com as coisas que se passam em minha terra. Às vezes relapso, outras tantas abelhudo como agora.
Parafraseando Mílton Carlos e Isolda – e por extensão, Roberto Carlos – este é o meu “jeito estúpido” de amar Curaçá.
Entrementes, deixo aqui minha paupérrima e insignificante avaliação do evento.
A FLIC, sem dúvida, foi um evento histórico, seguramente enriquecedor da cultura de Curaçá, necessário para sacudir as estruturas do pensamento de sua intelectualidade e da geração que está se formando em direção ao desconhecido.
Um dos textos da Assessoria de Comunicação da FLIC diz, com propriedade, que o evento cultural tinha o propósito de contar “com a participação de escritores, professores, memorialistas, artistas locais, regionais e nacionais”, além de “lançamentos de livros, performances artísticas, oficias, exposições e sebos”.
Por aí se vê, que a FLIC despontou com segura robustez de propósito, tal como a oportunidade oferecida a “estudantes da rede estadual de ensino que terão oportunidade de apresentar suas criações artísticas”.
O professor doutor Josemar Martins (Pinzoh), honra e glória de São Bento e curador da FLIC, sinalizou que “o evento tem também como objetivo consolidar o município como pólo cultural da Bahia”.
Louvável a iniciativa, admirável a disposição.
O governo do Estado direcionou recursos, por intermédio de alguns órgãos oficiais. A FLIC teve patrocínio e apoio, ademais, de outras instituições, inclusive da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), e isto certamente contribuiu eficazmente para assegurar o êxito do evento.
O Acervo Curaçaense, que já se firmou como defensor incontrastável da cultura e da História do município, teve fundamental importância na organização da FLIC.
O Acervo Curaçaense é uma instituição séria, sólida, bem estruturada e bem dirigida e tem à frente abnegados vigilantes e defensores da História e da cultura de Curaçá. Alhures, em artigo, citei os nomes de todos os integrantes do Acervo, que passei a admirá-los.
A coisa escorubiúda da FLIC ficou por conta de que algumas pessoas que contribuíram ou contribuem para a cultura de Curaçá ficaram de fora, inclusive do povoado de Mundo Novo e, parece, até de Barro Vermelho.
Pedindo venia pela crítica, talvez atabalhoada, acho que faltou um levantamento preliminar de todos quantos contribuíram ou contribuem para a história literária de Curaçá, de modo que todos fossem contemplados pelo evento que, a rigor, é literário.
De outro turno, chega a ser estapafúrdio sob qualquer aspecto, a FLIC ter deixado à margem, salvo engano, quaisquer referências à memória de Herval Francisco Félix, um dos esteios da intelectualidade de Curaçá.
A contribuição de Herval por si só é suficiente para sustentar um monumento à decência e à dignidade da história literária de Curaçá.
Quiçá, neste caso, o adágio popular se fez inarredavelmente presente: “Santo de casa não faz milagre”.
Mutatis mutandis, é razoável presumir que o modelo da FLIC se espelhou noutras feiras literárias alheias à realidade de Curaçá e, por óbvio, toda cópia deve ser entendida com reservas.
Não sou filósofo, mas costumo me interessar com a origem das coisas. Neste diapasão, parece razoável entender o seguinte: o que menos foi evidenciado na FLIC foi o LIVRO, sustentáculo de qualquer feira literária.
O LIVRO, qualquer que seja a quadra do seu tempo, merece um pedestal para agigantar-se e espalhar luz em direção à cultura, ao saber, às gerações, ao mundo.
De qualquer modo, a FLIC merece nossos aplausos e reconhecimento, independentemente de sermos filhos ou não de Curaçá.
araujo-costa@uol.com.br
Olá!
Acompanho com muita atenção quase todas as publicações do senhor e fico, alegre ao ver o senhor fazer registros importantes sobre Curaçá e seu povo.
Embora o senhor não tenha estado presente na FLIC de Curaçá, o que seria uma satisfação em conhecer pessoalmente. Na exposição da acervo, tínhamos livros de autoria do senhor e fazia sempre questão de destacá-los, por sua vez eu fiquei responsável em apresentar o espaço da acervo na Flic, nosso presidente e demais membros estava na incumbência em outras atividades do evento. Esperamos enquanto instituição podermos encontrar-lo pessoalmente em breve.
Atenciosamente, Sivaldo Manoel da Silva
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