Política de Chorrochó e Curaçá, tempo de ouvir conselhos

“Agora estou ouvindo tudo, até conselhos.” (Heitor Dias, 1912-2000, prefeito de Salvador no período de 1959-1963).

Os prefeitos de Curaçá e Chorrochó eleitos em 2024, se quiserem ser bem- sucedidos (e é possível que queiram) precisam ouvir conselhos, muitos conselhos.

Não conselhos de amigos chegados, apoiadores próximos e assessores bem remunerados, mas conselhos de quem mais entende de abandono: o povo.

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam e bajulam, porque me corrompem”, provérbio atribuído a Santo Agostinho.

Mas os políticos costumam ouvir os bajuladores e não os críticos.

É o povo que sofre e deve ser ouvido. Não tem estradas, não tem transporte escolar decente, não tem serviço de saúde digno, não tem ambulâncias suficientes e seguras, para ficar nestes poucos exemplos.

Desvalido e incompreendido, o povo desses municípios carece de prefeitos com tirocínio aguçado para vislumbrarem e resolver as prioridades exigidas pela população.

É razoável presumir que, se houve prefeitos com tirocínio apurado, eles devem ter mandado as prioridades às favas e, por extensão, também a população.

As últimas administrações municipais de Chorrochó e Curaçá foram capengas, ineficientes, opacas, cochilantes.

Os prefeitos estão ancorados no passado, atuam como se vivessem no tempo do mandonismo político e apresentam os feitos à população como se fossem favores das Prefeituras e não direito dos munícipes e dever dos prefeitos.

Por exemplo, prefeitos que têm visão de gestão pública devem instituir zeladorias eficientes para cuidarem, diuturnamente, da limpeza das ruas, recolher o lixo, primar pela higidez do serviço público.

Isto é tão elementar quanto mínimo e óbvio. E faz parte do dever do alcaide.

A propósito, são comuns nas atuais administrações, imagens deprimentes de lixo acumulado ou espalhado nas ruas, mormente nas sedes e até, em algumas ocasiões, esgoto a céu aberto.

No mundo de hoje, com tantos recursos à disposição das Prefeituras, isto chega a ser uma agressão à população e um risco à saúde de todos.  

A população destes dois municípios – Chorrochó e Curaçá – se vê às voltas com prefeitos  politicamente ultrapassados, que ainda fazem política na base de promessas mirabolantes, tapinha nas costas, abraços, festas, muita hipocrisia e nenhuma empenho de dedicação à causa pública.

Esses prefeitos instituíram uma espécie de ópio – festas e adjuntos inúteis – para suavizarem as omissões e deficiências de suas gestões.

Por aí se vê, claramente, que não há planejamento direcionado ao caminhar destes municípios, de modo que imperam a mesmice, o comodismo e o indiferentismo relativamente às necessidades da população.

Dá a impressão que os prefeitos governam para si próprios e para seus apaniguados.

De todo modo, os novos  prefeitos precisam olhar no retrovisor do tempo para saber o que precisa mudar e o que não se deve repetir.

O prefeito eleito Dilã Oliveira (Chorrochó) se elegeu na esteira da liderança do atual Humberto Gomes Ramos, condutor das condições sociais e políticas do município durante longo período.

A vitória de Murilo Bonfim (Curaçá), ao contrário, decorreu da esgarçadura do modo de governar do atual prefeito Pedro Oliveira e de seu grupo político por ele capitaneado.   

Daí surgiu a esperança de um novo olhar manifestado nas urnas.

A capacidade de absorver as críticas e disposição de ouvir conselhos pode ser o caminho para aperfeiçoamento das administrações nestes municípios.

Em Curaçá, quem acredita em Papai Noel diz que haverá mudança com o novo prefeito, expectativa compreensível, em razão do alcaide ser aliado e do mesmo partido do governador do Estado.

Em Chorrochó, mesmo quem acredita em Papai Noel diz que não haverá mudança. O prefeito eleito é do mesmo grupo político do prefeito que sai em 31 de dezembro e, neste caso, é razoável presumir que, se não concordou, pelo menos ficou silente diante dos vícios da gestão que se expira.         

Entretanto, se estes prefeitos que tomarão posse em 2025 não tiverem vigilância diuturna das respectivas Câmaras Municipais – o que é difícil ter – provável que tudo deva continuar como antes.

Nesta quadra do tempo, em Curaçá, Chorrochó ou em qualquer outro município, não há mais espaço para vereadores acomodados e  subservientes à vontade dos prefeitos.

Hoje – parece – parte da sociedade está mais vigilante, inclusive sobre a atuação dos vereadores.

araujo-costa@uol.com.br

Senador Ângelo Coronel, a raposa e o galinheiro

Senador Ângelo Coronel (PSD-BA). Crédito Senado Federal

Na Bahia, aconteceu o que se pode chamar de enrosco.

O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), baiano de Coração de Maria, é o relator do Orçamento da União de 2025.

Coube a Sua Excelência, em consequência, apresentar o projeto de lei complementar que discutiu a regulamentação dos pagamentos das emendas parlamentares que haviam sido suspensas pelo Supremo Tribunal Federal.

O STF quer rastreabilidade e transparência do dinheiro das emendas parlamentares, mormente as destinadas via PIX, ou seja, o caminho do dinheiro até o destino e em que está sendo empregado. Neste particular, o STF está correto.

Ângelo Coronel mandou, em emenda PIX, R$ 3,2 milhões para seu município de Coração de Maria e o dinheiro foi repassado para uma ONG com o sugestivo nome de Instituto de Saúde e Educação do Nordeste (ISEN).

Se é do Nordeste não é de Coração de Maria, propriamente, tanto que a dita ONG tem sede no Caminho das Árvores, em Salvador, mesmo bairro do escritório político do senador.

Essa ONG desenvolve parceria com outras prefeituras, inclusive de Alagoas e do Maranhão. É o que diz a imprensa.

Como foi parar em Coração de Maria e qual o labirinto que percorreu até chegar lá é difícil saber.

A impressão é que o município não sabe cuidar de sua educação e precisa valer-se de uma ONG para desenvolver seus projetos. A principal atividade dessa ONG é educação infantil.

Consta que a ONG tem um termo de colaboração com a Prefeitura do município com o intuito de trabalhar num projeto de nome Educaê e que o dinheiro se destinava a gastos com “material de consumo, bens e serviços, combustíveis e eventos culturais no município de Coração de Maria”.

O senador Ângelo Coronel disse à imprensa que não transferiu dinheiro à ONG, “nem para nenhuma outra no estado da Bahia” (UOL, 25/11/2024), mas a Controladoria Geral da União (CGU), através de auditoria, constatou faturas mensais de R$ 1,4 milhão, previstas em contrato, entre a ONG e a Prefeitura, por conta da emenda parlamentar indicada pelo senador.

“Chamou a atenção dos auditores o fato de as faturas mensais cobradas pela ONG da Prefeitura não terem relação com o plano de trabalho previsto na parceria e serem maiores do que o valor previsto inicialmente.”(UOL, 25/11/2024).

O senador Ângelo Coronel cuida do Orçamento da União de 2025 e cuidou da regulamentação das emendas parlamentares que ele mesmo se beneficia. Aliás, tais emendas beneficiam todos os parlamentares e não somente ele.

Parece caso de raposa cuidando do galinheiro.  

araujo-costa@uol.com.br

Chorrochó e o cutucar da História

Quando José Evaldo de Menezes faleceu em 2020, citei nalgum lugar, em sua homenagem, uma frase do escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890) que agora reproduzo: “O coração, cofre de um tesouro, era material: desfez-se. Ficou o tesouro incorruptível e sagrado: a honra”

No ano seguinte, faleceu seu irmão João Bosco de Menezes (Joãozito), aumentando o vazio da família, o que nos fez muito refletir sobre nossas fraquezas, a efemeridade da vida, a certeza da morte e a importância da fé.

José Evaldo de Menezes e João Bosco de Menezes/Arquivo da família

Em junho deste corrente ano de 2024, faleceu Maria do Socorro Menezes Ribeiro, o esteio que restava da construção de Izabel Argentina de Menezes (D.Biluca) e Dorotheu Pacheco de Menezes.   

Maria do Socorro Menezes Ribeiro/Arquivo da família

A frase do escritor português ajusta-se aos três. Honrados, honestos e respeitados, Socorro, Evaldo e Joãozito souberam construir ao seu redor, o que de mais precioso se pode deixar para familiares e amigos: a honra e a retidão de caráter.

Deixaram mais: uma universidade gigante e indestrutível, a universidade que ensina a construir amizades.

Sou grato aos três – Socorro, Evaldo e Joãozito – por me terem acolhido na juventude, em situação muito difícil.

Sou grato a Maria do Socorro Menezes Ribeiro, minha distinta comadre, por tudo que fez em meu benefício. E grato também a Virgílio Ribeiro de Andrade, seu esposo e meu admirável compadre, distinto compadre.

Confesso admirador de todos, enquanto viveram e, hoje, in momoriam, relembro essa admiração que não se acaba, não pode acabar, nunca vai se acabar.

Jamais a gratidão pode se esvair no tempo, mesmo em razão da morte, mesmo em razão de nossas fraquezas humanas.

Post scriptum:

Em 23/11/2024 – salvo engano e se a agenda não mudar – o governador da Bahia junta-se aos políticos de Chorrochó e, segundo consta, reinaugura dois valorosos símbolos que Dorotheu Pacheco de Menezes idealizou, fez realidade e deixou:

O Colégio Estadual de Tempo Integral São José. A nova instituição construída manteve o nome Colégio São José que teve como embrião o Ginásio Municipal Oliveira Brito.

O Mercado Municipal da sede, antigo Centro Comercial Municipal de Chorrochó, que o governo estadual achou um bonito nome para deixar as marcas da gestão atual do município e do Estado: requalificação.

Por uma questão de respeito à História de Chorrochó, o cerimonial das inaugurações deve citar, no mínimo, o nome de Dorotheu Pacheco de Menezes, vez que tem sido omitido noutras ocasiões. A conferir.  

araujo-costa@uol.com.br     

Muares e militares mentecaptos

O general João Batista Figueiredo, último presidente da ditadura militar, safra de 1964, quando se referia a indivíduos de pouca inteligência, não os chamava de burros, mas de asnáticos.

Talvez não quisesse ofender os burros, embora se tratassem de substantivos correlatos.

A Polícia Federal investiga e a imprensa vem publicando atabalhoadamente, que alguns militares, inclusive um general da reserva do Exército – quatro foram presos – arquitetaram a morte de Lula da Silva e de seu vice Alckmin, eleitos em 2022 e também a eliminação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, à época presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

É possível duvidar da inteligência desses militares. A investigação diz que o plano foi delineado e impresso e até circulou nalguns palácios de Brasília.

A Polícia Federal diz que está estribada em provas sustentáveis e robustas, embora as investigações continuem.

Então, se a Polícia Federal estiver certa, resta perguntar:

Como um plano desses, condenável em todos os aspectos, podia dar certo, se os próprios idealizadores espalharam o roteiro, nomes dos alvos, locais, armas que seriam utilizadas e até hipótese de envenenamento?

Há uma parte  mais hilária, se trágica não fosse. Alguns desses militares saíram para executar parte do plano, mas desistiram em meio do caminho, “abortaram a operação”, em linguagem técnica.

Nunca, na história do Brasil, passando pelo Império e República, houve episódio tão grave, condenável e repugnante.

O Brasil enfrentou ditaduras fortes, a exemplo da ditadura Vargas (1937-1945) e a ditadura militar (1964-1985) e nunca assassinou presidentes, vices, ministros do Supremo, etc.

Das duas uma, ou esses militares sofrem de alguma enfermidade mental ou viviam absortos em algum tipo de droga que lhes suprimiu a sanidade e os levou ao delírio.

É estarrecedor que o Exército mantenha, em seus quadros, mentecaptos como esses, integrando suas forças de elite.      

Não devemos compará-los aos burros. É uma ofensa aos muares.

Fica a impressão que o Exército do Brasil não está sendo vigilante com suas próprias entranhas.

De qualquer forma, resta concluir que nosso Exército vai mal, muito mal. Isto respinga nas Forças Armadas como um todo.

Não pode ser assim.

araujo-costa@uol.com.br

Sertão de Chorrochó, becos e cabras

Há algum tempo, leitor de origem nordestina me cobrou um artigo que leu nalgum lugar em que falo de becos e cabras.

Confesso não me recordar.

Minha memória esburacada tropeça aqui e acolá, de modo que nem sempre encontro o que procuro em meio à bagunça de meus alfarrábios, papéis desatualizados e arquivos desorganizados.

Todavia, presumo que o leitor se referia ao artigo versando sobre o povoado de São José, município de Chorrochó, sertão da Bahia.

Já se vão mais de onze anos da publicação que se deu em 23/04/2013. Por aí se vê, que o tempo desalinhou o andar da memória, de modo que até a realidade do lugar pode ser outra e não aquela lembrada em 2013. 

O texto fala da realidade da época, que hoje deve ser diferente e, portanto, desconforme aquela quadra do tempo.

Ou seja, o desenvolvimento pode ter chegado por lá, desfigurando o que eu havia contado em 2013, porque, afinal, presumo que o prefeito de Chorrochó deve primar pelo quesito trabalho e respeito às tradições de sua gente.  

O povoado de São José cresceu – ou tentou crescer – com a ajuda possível de seus próprios recursos, advindos, unicamente, do trabalho suado do homem do campo.

Evento (sem data) do Colégio Estadual Maria Dias Sobrinho/Crédito professora Necy Gomes de Sá

Pequenos agricultores que viviam, como ainda hoje, da cultura de subsistência, plantando feijão, milho, abóbora, melancia e batata doce, para criar seus filhos, desesperançados, mas firmes, em razão da pobreza do lugar.

A labuta era complementada com a criação de pequenos rebanhos de caprinos e ovinos, quase sempre dizimados pelas constantes secas.

Hoje São José tem poucas centenas de habitantes, causticados pelo sol escaldante, porque o clima lá é cruel, quente, semiárido, extremamente difícil de enfrentar.

Evento (sem data) do Colégio Estadual Maria Dias Sobrinho/Crédito professora Necy Gomes de Sá

Comum entre seus becos empoeirados, mais do que pessoas, eram o caminhar das cabras e o tilintar de seus chocalhos, assim como porcos e galinhas.

O povoado tinha um líder político que sempre lutou por sua gente: Boaventura Manoel dos Santos.

Boaventura foi vereador por diversos mandatos, com altivez e extrema dedicação, contou sempre com o apoio incondicional de seu povo, que o mantinha na Câmara Municipal de Chorrochó para ser sua voz, seu refúgio, sua retaguarda. E ele, no que pôde, cuidou de São José, diuturnamente.

Para isto, Boaventura teve a ajuda e solidariedade de outro líder político de Chorrochó, Dorotheu Pacheco de Menezes. Ambos viabilizaram para lá a professora “formada”, como se dizia à época, Maria Dias Sobrinho, dando-lhe oportunidade para morar no povoado, ensinar, abrir o caminho para as crianças seguirem em direção ao futuro em busca de novos horizontes.

Maria Dias era uma criatura humilde, reflexiva, responsável. Deixou a semente para a juventude de hoje e o exemplo de luta.

Em 2016 o Colégio Estadual Maria Dias Sobrinho perdeu sua caracterização como instituição. Hoje é um anexo do Colégio de Tempo Integral São José, da sede, mas a semente germinou e ficou a esperança dos jovens de São José, estímulo para o prosseguimento da caminhada e, sobretudo, o fundamento para a construção do caráter, espinha que deve nortear a vida de todos nós.

Nenhum horizonte será possível se faltarem a persistência e a vontade de seguir avante.

Só a escola é o caminho certo. Só a educação formal e familiar é a luz para clarear o caminho em direção ao futuro.

Conheci Maria Dias Sobrinho, nascida na caatinga, como eu, ainda na juventude, início da labuta com vistas ao exercício de sua profissão de mestra, enfrentando dificuldades de toda ordem, até mesmo para receber o salário.

Ainda assim, lutou, sofreu, ensinou, enfrentou a solidão do lugar e adquiriu o respeito da população de São José.

Salvo engano, o Colégio foi fundado em 1981 e, após trancos e barrancos, autorizado a funcionar somente em 2005.

Contribuíram tenazmente para a realidade do Colégio Maria Dias Sobrinho, dentre outros: Júlia Marques (diretora), professores Manoel Belfort, Edleide Conceição, Cilene Cristianne, Clécia Cristiane de Carvalho, Maria do Socorro Ribeiro, Luciana Dias e, ainda, cada uma em sua respectiva função, Adelina Marques Batista, Brasilina, Maria de Lourdes Arnaldo, Odete Marques, Júlia Dantas, Joelma Dantas, Meire, Maria de Lourdes dos Santos e Rose Cleide.

A professora Necy Gomes de Sá exerceu seu mister no Colégio por dez anos, inclusive na condição de diretora.       

São José é um povoado de pessoas humildes, dignas, resistentes ao tempo e às intempéries.

Lá tive algumas amigas que não moram mais lá e o tempo afastou, Almira Marques Ribeiro, Eremita Marques Ribeiro e Antonia Marques Ribeiro.

Demais, são fragmentos da juventude que, mesmo sendo fragmentos, continuam enfeitando a saudade do tempo e do lugar.  

São José ainda é um conjunto de casas simples e rodeado pela vegetação da caatinga.

Contudo, São José tem a semente para germinar o idealismo dos jovens que se deslocam todos os dias até a sede do município para estudar, enfrentando riscos da estrada difícil e, sobretudo, o descaso das autoridades.

Post scriptum:

A professora Necy Gomes de Sá contribuiu com esta matéria no que tange ao crédito das fotos, à citação dos nomes de colaboradores e atualização de algumas informações do então Colégio Estadual Maria Dias Sobrinho que me faltavam.

Eventuais erros e omissões, inclusive quanto aos nomes, são exclusivamente deste escrevinhador.  

araujo-costa@uol.com.br

O palavreado impróprio da primeira- dama do Brasil

Em evento transmitido para todo o mundo durante o chamado G20 Social, neste sábado, 16/11/2024, a deslumbrada primeira-dama do Brasil externou, sem nenhum motivo, palavras impróprias e vergonhosas, incompatíveis com a posição que ocupa.

Janja da Silva/Crédito Fernando Frazão, Agência Brasil

Mais do que isto, Janja da Silva foi deselegante com o senhor Elon Musk, escolhido por Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, para ocupar função de relevo no próximo governo americano.   

A diplomacia brasileira não gostou do destempero de Janja da Silva e avalia que o palavreado que ela usou dificulta o entendimento com o novo governo americano.

A declaração de Janja “irritou diplomatas de alto escalão da chancelaria brasileira e coloca em risco a tentativa deliberada do Palácio do Planalto e do Itamaraty de não abrir uma frente de tensão com o novo governo americano”, segundo Jamil Chade, correspondente do UOL na Europa há duas décadas, mantém escritório na sede da ONU em Genebra (UOL, 17/11/2024).

“Sem quê e sem pra quê”, durante um discurso vazio que pronunciava, a primeira-dama disse, referindo-se a Elon Musk: “fuck you”. Em tradução livre, a expressão é impublicável.

Inconveniente, a primeira-dama Janja confunde linguagem de botequim com a liturgia da presidência da República, de Estado e de Governo.

Convenhamos, no mínimo trata-se de despreparo e falta de respeito. Este é o discurso do ódio que o PT e o lulopetismo tanto criticam, com razão, mas atribuem somente à direita. Está aí Janja da Silva provando que o discurso do ódio também está impregnado nas estranhas do PT.

Aliás, a primeira-dama já aprontou outros destrambelhos noutras ocasiões.

A primeira-dama procurou “alcançar alguma relevância política durante o governo do marido, tentou cavar um cargo sem sucesso e representou o governo Lula em evento da ONU sobre mulheres, quando chamou mais atenção pelos sapatos que usava do que pelo que disse.” (O Antagonista, 16/11/2024).

O quiproquó criado pela primeira-dama respingou no Itamaraty que vai precisar desfazê-lo de imediato.

O presidente Lula da Silva, em discurso posterior ao da primeira-dama, tentou corrigir o deslumbramento da mulher, mas o estrago diplomático já estava feito. “A gente não tem que ofender ninguém. Nós não temos que xingar ninguém”, disse Lula.

Janja da Silva passa longe da humildade de D. Marisa Letícia da Silva, primeira-dama nos primeiros governos do petista Lula, de D. Ruth Cardoso, elegante primeira-dama de Fernando Henrique Cardoso e de D. Eloá Quadros, digníssima esposa do presidente Jânio Quadros.

Talvez seja o caso de tirar o microfone de D. Janja da Silva. Ela adora holofotes.

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O guarda e o advogado

Deixei meu carro velho, que chamo carinhosamente de mustang, no local de trabalho.

Peguei um ônibus em direção ao centro da cidade, que fica “logo ali”, como dizem os mineiros.

Um amigo me disse que sou mais conhecido na região por ter um carro velho e não por ser advogado. Confesso que não sabia disto.

Fui resolver algumas coisas que, a rigor, o carro não seria necessário.

No ônibus, já de volta, sentei-me ao lado de um senhor velho como eu, cabelos brancos como eu, feio como eu.

Conversador, puxou assunto e quis saber onde eu trabalhava.

– Num escritório ali à frente, alguns pontos adiante, devo descer logo. 

Vendo-me de paletó e gravata, deduziu à sua maneira, mais afirmando que perguntando.

– Você é guarda da empresa, né?

Para não desapontá-lo, confirmei. Disse-lhe que sim, trabalhava há muitos anos, desde que o patrão se instalou no local.

O patrão é muito sovina, mão de vaca e ruim, não permitia nem que eu fosse de carro ao centro da cidade resolver minhas coisas.

Ficamos alguns minutos falando cobras e lagartos do meu patrão, que sou eu.

Na verdade, mereço.

Quem mandou deixar minha bela caatinga do sertão da Bahia e vir para São Paulo lutar, sofrer e chegar à velhice ainda com disposição de falar essas coisas do patrão?

Quando desci do ônibus, deu-me uma crise de riso. As pessoas que passavam por mim certamente me achavam com cara de besta. Ou de idiota, o que dá no mesmo.

Acho que sou.

Advogado septuagenário, com mais de quarenta anos no exercício da profissão, que não ficou rico e nem famoso, tem mesmo é que ficar por aí, dando explicações a curiosos dentro de ônibus.

Como sempre me preocupo com o significado das coisas, fiquei matutando. Acho que a lógica daquele senhor é esta: o sujeito velho, de terno e andando de ônibus é guarda ou porteiro de prédio.

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O salão de beleza e a farra do Tribunal de Contas da União (TCU)

“Se tens lágrimas, chora. Se só tens riso, ri-te. É a mesma coisa.” (Machado de Assis, in Quincas Borba)

Os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), que fiscalizam as contas públicas – ou deveriam fiscalizar – têm 60 dias de férias e ganharam mais 10 dias por mês.

Tribunal de Contas da União/Reprodução Google

Na prática, os ministros do TCU podem ficar 180 dias de férias remuneradas no ano: 120 dias por ano (10 x 12 meses) + 60 dias que já têm direito.

Salário?

Pouco: Média de R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais) por mês, mais as mordomias.

Esses senhores fiscalizam o uso de dinheiro público.

Todavia, há o teto constitucional, ou seja, nenhum servidor público pode ganhar mais de R$ 44 mil por mês, em valores de agora. Noutras palavras, não pode ganhar mais do que um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Conversa para boi dormir.

O pior veremos adiante.

A imprensa noticiou, exaustivamente, que este mesmo Tribunal de Contas da União (TCU) permitiu a abertura de um salão de beleza dentro do Tribunal, isto mesmo, em suas dependências, para atender a fina flor da elite que fiscaliza as contas públicas.

Dentre os serviços prestados pelo salão estavam massagem e depilação íntima para servidores e suas Excelências os fiscais do dinheiro público.

O escândalo, com detalhes, veio à tona por intermédio do jornalista Claudio Humberto, que entende tudo dos meandros de Brasília.

Segundo o jornalista, depois que a imprensa publicou o escândalo, o ministro Bruno Dantas, presidente do Tribunal, “revogou a contratação de serviços de salão de beleza em sua sede, previsto até 2034, incluindo “depilação íntima de contorno” e massagens relaxantes, tudo em pleno horário de trabalho.

A notícia preocupante foi Dantas admitir que não sabe o que acontece no tribunal que preside, afirmando em seu despacho haver tomando conhecimento da bizarrice “pela imprensa” (Diário do Poder, 09/11/2024).

Então, tá.

Interessante é que Suas Excelências se preocupam com “depilação de contorno”, o que é por demais esquisito, quando deveriam estar preocupados com outro contorno, a fiscalização do emprego do dinheiro público que se propõem a fazer.

A hipocrisia abunda no serviço público, o que não chega a ser nenhuma novidade.

Mas depilação íntima e massagem dentro do TCU é demais. 

Fontes:

Matéria de Júlia Affonso (UOL de 04/11/2024)

Diário do Poder, 09/11/2024.

araujo-costa@uol.com.br

A cultura de Marlindo Pires Leite

Marlindo Pires Leite/Crédito: Blog de Joselia Maria

Guardo o envelope de 31/10/1995, amarelado pelo tempo, com o selo do correio, a antiga ACT.

Já se vão, por aí, 29 anos. A passagem dos anos não olvidou a lembrança.

O rico conteúdo vinha da Avenida Coronel Jerônimo Pires na bela cidade de Belém do São Francisco, em Pernambuco.

O remetente ilustre, Marlindo Pires Leite. O envelope continha um exemplar do livro Fazenda Panela D’Água, de sua autoria, lançado em 1994 e resultado de alentada pesquisa sobre a genealogia dos séculos XVII-XX.

Marlindo Pires Leite anda por volta dos 70 anos, completados em 03 de outubro. Além de Fazenda Panela D’Água, publicou, dentre outros, Belém, Uma Cidade no Vale do São Francisco, A Arte Belemita – 160 anos e Igrejas, Capelas, Santos e Santas.

Gigante da cultura e das artes, mormente da arte pernambucana, Marlindo Pires Leite se especializou em fotografia, desenho, escultura, pintura e, sobretudo, destaca-se como abalizado historiador, referência quando se trata de conhecimento da história dos ancestrais.

É historiador e pesquisador com Licenciatura em História, dentre outros títulos.

Viajado, na contracapa de Fazenda Panela D’Agua há uma foto do autor, de 1986, no Principado de Mônaco.

Em razão de sua contribuição à cultura belemita, Marlindo Pires Leite recebeu do Legislativo Municipal a Medalha do Mérito do Centenário. É autor, salvo engano, do Brasão do Município de Belém do São Francisco.

Fazenda Panela D’Água foi dedicado ao professor Alípio Lustosa de Carvalho, ícone da cultura e da educação de Pernambuco, que escreveu a orelha do livro.

Em 1971, o professor Alípio Lustosa idealizou a fundação da Faculdade de Formação de Professores de Belém do São Francisco. A Faculdade foi instituída em 1975 no prédio da histórica Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio.

A Faculdade de Formação de Professores foi o embrião do CESVASF (Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco), respeitável estabelecimento de ensino sanfranciscano.  

Marlindo é filho de Hermelinda Pires Leite e Mário Horácio Leite e, acrescenta ao meu pífio conhecimento uma informação valiosa: descende, longinquamente, pelo lado materno, dos fundadores de Curaçá, Bahia, meu torrão e minha referência.  

Nome por todos reverenciados, Marlindo Pires Leite enriquece a cultura da região.

Posto scriptum:

Li, por aí, e confrontei com registros de Marlindo Pires Leite que “Panela D’Agua era uma antiga fazenda de gado situada ao leste da Serra do Arapuá no Sertão do Pajeú, arrendada em 1756 ao morgado da Casa da Torre na Bahia, e pertencente a Francisco Garcia D’Avila Pereira e Aragão proprietário destas terras na Província de Pernambuco, pelo português Manoel Lopes Diniz e posteriormente comprada pelo seu filho Manuel Lopes Diniz”.

Aí – ou lá – nasceram as pesquisas de Marlindo Pires Leite que resultaram no livro Fazenda Panela D’Agua, indubitável referência da cultura regional.

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Conversa de parabenizar

De começo, lembro a data, 30 de outubro, aniversário de Jorge Jazon.

Jorge Jazon e Deniz Menezes/Álbum da família

Esta minha referência ao aniversário de Jorge Jazon, que já passou, daria para encher (e talvez dê) meu mundo de admiração por ele.

O desleixo pelo atraso faz parte de meus atributos de relapso, que beiram à gafe e os amigos mais próximos suportam, de modo que não sou chegado a formalidades, mas a considerações.

É por todos sabido que Jorge Jazon Cordeiro de Menezes dispensa apresentações. É muito conhecido, amado e reverenciado por amigos, familiares e conterrâneos aos quais me incluo.

Seu caráter é referência, modelo e luz para os jovens de hoje que pretendem ocupar lugar de decência e grandeza em qualquer tipo de sociedade e primar pela robustez da conduta.

Jorge Jazon vem de família tradicional de Chorrochó.

Professora Maria Ita de Menezes, a mãe/Álbum da família

As raízes seguras de Jorge Jazon ficam-se na estrutura familiar Menezes, Pacheco e Cordeiro, honra e glória do lugar e espécie de modelo cultural da sociedade local.

A mãe Maria Ita de Menezes, dentre outras qualificações, é professora, mestra na arte de ensinar, esteio da educação de Chorrochó, exemplo de algumas gerações.

O pai José Jazon de Menezes, também de família tradicional, foi serventuário da Justiça estadual da Bahia e um dos pilares da honradez da sociedade chorrochoense.

José Jazon de Menezes, o pai/Álbum da família

O ilustre aniversariante Jorge Jazon é casado com Deniz Reis dos Santos Menezes. Constituiu família bem estruturada e exemplar, educada nos moldes do bom proceder advindo dos berços materno e paterno.   

Declino de mencionar os títulos que Jorge Jazon ostenta, que são muitos e respeitáveis, mas incluo nestes parabéns minhas homenagens à professora Maria Ita de Menezes e a José Jazon de Menezes, in memoriam, referências exemplares que o aniversariante carrega.

Deixo afetuoso abraço e parabéns a Jorge Jazon.

araujo-costa@uol.com.br