Raimundo Reis/Foto da contracapa do livro Malhada do Sal, de sua autoria, Salvador, 1986
Em Santo Antônio da Glória, antiga Vila de Santo Antonio da Glória do Curral dos Bois e, mais tarde, simplesmente Glória, as águas da barragem engoliram a pacata cidade, suas tradições e sua história centenária.
Lá, seu filho ilustre, Raimundo Reis de Oliveira (1930-2002), neto do lendário Petronilo de Alcântara Reis, conhecido como coronel Petro, resolveu sair do lugar para estudar em Sergipe.
Na hora da despedida, o pai lhe disse, com ar professoral de legítimo sertanejo defensor de sua honra:
– Vá. Cuidado com a vida. Seja homem!
Raimundo Reis foi e evoluiu. Estudou o primário em Aracaju e o secundário no Colégio Santanópolis, em Feira de Santana. Cursou Direito, foi advogado, jornalista, deputado estadual pelo antigo PSD da Bahia (1959-1963), radialista da Rádio Sociedade da Bahia, cronista, escritor e boêmio incorrigível.
O antigo PSD da Bahia foi a maior escola política, filosófica e partidária do período 1946-1964.
Inteligente e espirituoso, apaixonado pelo sertão e por Macururé, que ajudou a tornar município, escreveu muita coisa ao longo de sua existência de intelectual.
Raimundo Reis e João Carlos Tourinho Dantas, colegas na legislatura de 1959-1963, foram os responsáveis pela aprovação da lei que, em 1962, elevou Macururé à categoria de município, emancipando-o de Glória.
Um dia, já experimentado pelos tropeços do dia a dia e lembrando as palavras do pai, Raimundo Reis sentenciou, irônico:
– Cuidar da vida até que tem sido fácil. O difícil é ser homem.
A expressão “seja homem”, para o sertanejo do século passado, significava ter bom caráter, ser cumpridor de seus deveres e da palavra empenhada, tornar-se respeitado na sociedade.
Post scriptum:
Vista pela turma do politicamente correto, essa idiotice criada nos dias de hoje, a expressão “seja homem” pode soar como reprovável, inconveniente. Aqui o contexto é histórico, outra quadra do tempo, outra sociedade.
“Opinião é uma coisa que a gente dá e, às vezes, apanha.” (Max Nunes, escritor e roteirista, 1922-2014)
Guilherme Boulos (PSOL), candidato de Lula da Silva a prefeito de São Paulo, não surpreende, em nada, quanto ao jeito desonesto de fazer política, de resto comum em parte do lulopetismo.
Explica-se.
Milhares de imóveis em São Paulo estão sem energia elétrica há alguns dias, em razão de forte temporal que atingiu São Paulo na sexta-feira, 11/10/2024.
A concessionária ENEL (Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S.A), conhecida pelo péssimo serviço prestado, não consegue resolver o problema (resolveu parcialmente) e vem deixando a população ao deus dará.
Mas a ENEL é eficientíssima ao fazer as cobranças de contas de consumo e ao cortar o fornecimento de energia quando os consumidores atrasam o pagamento.
A concessão da distribuição de energia elétrica em São Paulo é regulada pelo governo federal e a fiscalização feita pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), autarquia federal que cuida do assunto.
Logo, a Prefeitura de São Paulo nada tem com isto e nada pode fazer, exceto podar árvores que dificultam os fios elétricos e cobrar, como qualquer outro consumidor, a pronta distribuição da energia.
Mas há um problema. Nem todas as árvores a Prefeitura deve podar sem a participação da ENEL que, em muitos casos, precisa desligar a energia para possibilitar o trabalho dos servidores municipais, sem risco de acidentes.
Noutros casos, cabe à ENEL fazer a poda ao identificar potenciais riscos, independentemente da Prefeitura.
É isto que a ENEL nem sempre faz e, em caso de fortes temporais, como este de agora, o caos instala-se e passa a ser geral.
Pois bem.
O deputado federal Guilherme Boulos é candidato de Lula da Silva e líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), um penduricalho do PT, com histórico de invasão de propriedades, inclusive públicas.
Boulos está se servindo da tragédia por que passam os paulistanos, em razão da falta de energia, para dizer que a “culpa é do prefeito” e assim está tentando jogar a população contra o adversário Ricardo Nunes (MDB) na disputa eleitoral. São Paulo terá 2º turno da eleição municipal.
Desonesto e maldoso o deputado Guilherme Boulos se vale do jeito estúpido, sujo e abjeto de fazer política.
Boulos sabe que a culpa pela falta de energia em São Paulo não é do prefeito Ricardo Nunes, mas se aproveita da situação com o intuito de beneficiar-se eleitoralmente da situação.
Político pequeno, abominável, uma lástima.
Sequer o mentecapto deputado-candidato explica honestamente à população que a fiscalização da concessionária é de responsabilidade da autarquia federal ANEEL, assim como qualquer decisão que venha punir a ENEL ou lhe fizer exigências legais e previstas no contrato de concessão pública.
Por exemplo, a palavra final quanto eventual decretação da caducidade da concessão, é do Ministério de Minas e Energia.
Boulos sabe disto sobejamente, mas não diz por uma razão muito simples. O governo federal é comandado por seu guru e padrinho político Lula da Silva.
Um pernóstico desse naipe ainda se diz apto para governar a pujante, respeitável e maior cidade do País.
Em tempo:
Não voto na capital de São Paulo. Portanto, não torço por Boulos nem por Ricardo Nunes.
Professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes/Arquivo de Wagner Gomes
Neste dia do professor – 15 de outubro – rendo homenagem à memória da professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes, de Patamuté.
Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes foi professora do Departamento de Educação Primária da Secretaria Estadual de Educação da Bahia. Portanto, um esteio da educação em Patamuté.
Podia deixar pra depois, mas não deixo.
Já ultrapasso idade septuagenária, de modo que não sei se terei tempo de ainda ver alguma coisa útil construída em Patamuté por nossos trôpegos governantes e se me resta tempo para absorver as críticas que continuamente me fazem.
Murilo Bonfim, prefeito eleito de Curaçá em 2024, é do mesmo partido do governador do Estado, o Partido dos Trabalhadores (PT), que construiu um feudo na Bahia e uma legião de súditos.
É de conhecimento público que, em campanha – e eu não estava lá – Murilo Bonfim prometeu mundos e fundos a Patamuté, tanto que o povo acreditou e ele foi bem votado lá.
Então, embora ainda não empossado, deixo, por antecipação, um pedido ao prefeito Murilo Bonfim (PT) no que tange à Escola Estadual de Patamuté que foi demolida e transformada em escombros, vergonhosos escombros, vexaminosos escombros.
Não sei qual a razão do descaso indigno e tampouco o autor da ideia, o que pouco importa agora.
Do alto de minha insignificância, deixo um pedido. É simples, muito simples, mas quase um desafio.
O pedido é no sentido de que o prefeito Murilo Bonfim envide esforços junto ao governo do Estado com vistas à construção de um Colégio em Patamuté e corrija o vergonhoso vácuo deixado pelos governos anteriores, que pisotearam o distrito e sua gente.
Deixo a sugestão: que o nome do Colégio seja batizado de Professora Beatriz Gonçalves dos Reis Gomes.
Já que os governos anteriores foram ociosos, que doravante a história de Patamuté não seja.
Senador Otto Alencar, PSD da Bahia/Crédito: Senado Federal
O presidente estadual do PSD da Bahia, senador Otto Alencar, despejou R$ 60 mil do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas – Fundo Eleitoral, que é dinheiro público, nos cofres de uma candidata a vereadora de Eunápolis, sul do Estado.
A candidata de Otto Alencar teve somente 5 votos, mas segundo a imprensa noticiou, gastou R$ 7,5 mil de “criação de peças publicitárias” e R$ 40 mil para “serviço de militância na campanha eleitoral”, tudo pago a uma mesma empresa de marketing digital.
Ainda em Eunápolis, outra candidata a vereadora de Otto Alencar, gastou R$ 40 mil e teve 11 votos e outra gastou R$ 40 mil e teve 48 votos.
Eunápolis tem 120 mil habitantes.
No Nordeste, há um provérbio que retrata bem o comportamento de Otto Alencar: “Quem atira com pólvora alheia não toma chegada”.
O dinheiro é público, extirpado dos brasileiros que passam fome para financiar candidaturas de políticos parasitas, sanguessugas, aventureiros e também para custear o luxo de dirigentes e líderes partidários que se dizem defensores do povo.
Logo, Otto Alencar não tomou a cautela necessária ao distribuí-lo a torto e a direito para seus apaziguados.
Há outros casos gritantes de desperdício de dinheiro público do Fundo Eleitoral na Bahia. Chegam a 236, segundo a imprensa publicou. A bem da verdade, nem todos protagonizados pelo senador Otto Alencar.
Em 6 de outubro, o PSD de Otto Alencar elegeu 115 prefeitos na Bahia, de um total de 417 municípios.
Sua Excelência Otto Alencar é o mesmo senador arrogante que se achava o suprassumo da correção na CPI da Covid.
Correto ele deve ser, não se questiona aqui sua hombridade. Todavia, Sua Excelência deve cuidar melhor do dinheiro público.
Procurado pela imprensa para explicar o disparate de Eunápolis, o senador Otto Alencar foi irônico: “Quem calcula é a urna, não sou eu”.
O senador tem razão. A urna calcula os votos, mas o dinheiro público destinado ao PSD da Bahia quem distribuiu – e para quem distribuiu – foi ele.
Da esquerda para direita, D. Lalu, Edelzuíta, Lídio e Elizabete/Crédito álbum de Laura Fonseca
Lídio Manoel dos Santos, senhor de boa linhagem e reputação exemplar, era comerciante em Patamuté.
Lá por volta 1930 comprou uma bodega de Eduardo Gomes dos Reis (Dudu), pai do escritor Silobaldo Gomes dos Reis e a manteve durante décadas, espécie de referência do acanhado comércio de Patamuté.
Homem de hábitos simples, Lídio se ocupava com suas tarefas modestas de comerciante e, eventualmente, criava caprinos.
Tinha uma clientela fiel constituída de pequenos lavradores e pecuaristas das cercanias de Patamuté que se amontoavam ao redor do balcão de sua venda, aos sábados, bebendo, conversando, contando “causos” da vida difícil e pacata das fazendas, entre uma talagada e outra.
Lídio era austero, equilibrado, caráter irrepreensível, respeitador, cumpridor de seus deveres. Falava muito bem, acomodando as palavras nos lugares certos, articulando-as adequadamente.
O folclore de Patamuté dizia que ninguém sabia a idade de Lídio – nem ele dizia – mas a história registra que nasceu em 1.906, mesmo ano de início da construção da Igreja de Santo Antonio.
Lídio casou-se com D.Laura Prado (Lalu), senhora distinta e prestativa de estirpe tradicional. D. Lalu faleceu em fevereiro de 2011. Com ela constituiu família numerosa, que se espalhou por aí, de Patamuté a São Paulo, cavando a vida.
Minha esburacada memória ainda retém os nomes de Edelzuíta, Glorinha, Aderlinda, Carmelita, Nidinho, Edinho, Nilzanete, Elizabete e Jackson, todos filhos desse casal tradicional, que também construiu a história de Patamuté.
Eventuais omissões de nomes ou grafia errada ficam por conta de minha juventude distante. Foi lá, bem distante no tempo, que os conheci em Patamuté, jovens, espirituosos e alegres.
Comecei esta crônica citando o nome de Silobaldo Gomes dos Reis, que saiu de Patamuté em junho de 1944 com 14 anos de idade.
Quase cinco décadas depois, em 1991, Silobaldo me contou em São Paulo, que era muito grato a Lídio Manoel dos Santos, porque lhe deu o primeiro emprego em sua bodega em Patamuté e também uma carta de referência, quando saiu de lá. Uma carta de referência significava muito na época.
Estes fragmentos da memória de Patamuté nos lembram as características de alguns de seus filhos que já se foram. Cada um, a seu modo, ajudou a construir a história do lugar.
Lídio Manoel dos Santos também o fez, quer dando exemplo de caráter, quer ostentando sua ilibada reputação. Conheci-o assim, circunspecto e respeitador. Patamuté deve muito a ele.
Silobaldo Gomes dos Reis, já falecido, filho de Eduardo Gomes dos Reis e Tertuliana de Alcântara Reis nasceu em Patamuté em 1930.
Eduardo e Tertuliana, além de Silobaldo, tiveram os filhos Osmar Gomes dos Reis, Lourival Gomes dos Reis, Maria José Gomes dos Reis e Antonia Gomes dos Reis Palmejani.
Ilustre filho de Patamuté das famílias Gomes e Reis mudou-se para São Paulo, depois de trabalhar na bodega de Lídio Manoel dos Santos.
Em São Paulo, trabalhou e constituiu família. Escreveu dois livros: “Eu (baiano) venci em S.Paulo”, lançado em 1988 e “Peripécias e Alegrias de um Turista Baiano” lançado anos mais tarde.
Sobre o primeiro livro, Silobaldo me disse em 25/06/1991: “é uma mensagem de otimismo para nossos conterrâneos que às vezes recuam no primeiro tropeço de vida e desanimam”.
Silobaldo era casado com Maria Nazareth dos Reis com quem teve as filhas Carmen Gomes dos Reis e Marta dos Reis Marioni.
Em 1988 chegou a participar da Bienal do Livro de São Paulo.
Silobaldo, conhecido entre os amigos mais próximos como “Silô”, viveu as últimas décadas no Jardim São Paulo, elegante bairro da capital paulista, mas sua paixão era a Vila Nova Mazzei, local que se instalou quando chegou da Bahia, segundo ele “fugindo da seca” de Patamuté.
Lídio e Silobaldo fazem parte da história de nosso distrito.
Post scriptum:
Deixo de colocar a foto de Silobaldo Gomes dos Reis, por razões técnicas.
“Eu venho de campos, subúrbios e vilas, sonhando e cantando, chorando nas filas, seguindo a corrente sem participar.” (Dom e Ravel)
As urnas de Curaçá elegeram prefeito Murilo Bonfim (PT) para o próximo quadriênio, com expressivos 54,56% dos votos.
Adriano Araújo (Pode), candidato do prefeito, alcançou 45,44%. A diferença entre ambos chegou a 2.145 votos, menor que a abstenção de 2.781 eleitores que deixaram de votar e suficientes para ajudarem o candidato do prefeito a, pelo menos, diminuir a diferença.
Os votos nulos e brancos somaram 775.
Calejado por tropeços em campanhas eleitorais e acostumado com análises políticas, entendo que abstenção, assim como votos brancos e nulos, exceto por questões formais, retratam a descrença dos eleitores em seus líderes.
Considerando o tom da campanha salvacionista do petista Murilo Bonfim, é razoável entender que a maioria dos eleitores entregou ao prefeito eleito a esperança de horizontes mais alvissareiros para Curaçá nos próximos quatro anos e, quiçá, no período subsequente, se o prefeito souber corresponder às expectativas dos eleitores manifestadas nas urnas.
Como se vê, o prefeito Pedro Oliveira não conseguiu colocar o município em sintonia com os anseios da população ou não teve condições de robustecer seus argumentos no sentido de demonstrar o que fez nesses aproximados oito anos.
O contexto autoriza a presumir que, sendo Adriano Araújo vice do atual prefeito e de quem foi secretário, a responsabilidade pelos erros e acertos das gestões das quais fez – e faz parte – é solidária e não somente do prefeito.
Parafraseando a dupla Dom e Ravel nos tempos da ditadura, “você também é responsável”, de tal modo que os feitos, quaisquer que sejam, devem ser creditados ao conjunto da administração.
Talvez aí esteja a dificuldade do candidato Adriano Araújo em erigir-se capaz de mudar Curaçá, recado que a população absorveu suficientemente para tirar-lhe a oportunidade de vitória.
O prefeito eleito Murilo Bonfim deve sustentar uma razoável mudança de rumos em Curaçá, de modo que suas espalhafatosas promessas de campanha não sejam arranhadas pelo descaso, de resto, comum na atual administração.
A impressão que se tem é que Curaçá amargou uma quadra do tempo desconforme os anseios da população, fato que arrancou a expectativa de continuidade do atual grupo político.
Qualquer sociedade que perde a esperança em seus líderes faz emergir inequívoco desejo de mudança, com ou sem percalços pelo caminho, mesmo que a mudança enverede pela estrada da decepção.
Os recursos carreados para Curaçá são generosos, segundo os registros oficiais. Talvez tenha faltado ao alcaide capacidade de priorizar demandas e não, propriamente, escassez de recursos.
Quiçá o prefeito adotou um estilo de governar acomodado e capenga que acabou deixando a maioria da população insatisfeita.
Viam-se reiteradas reclamações relativamente às estradas vicinais abandonadas, transporte escolar deficiente, ambulâncias danificadas e, sobretudo, descuido com reivindicações prementes e elementares de munícipes que, em certas situações, precisam da intervenção e ajuda da Prefeitura.
Como se vê, Curaçá está aquém no que tange às exigências da população e naquilo que se espera da atuação do Executivo com vistas aos anseios do povo. E isto não é de agora.
Ao prefeito Murilo Bonfim não cabe acumular equívocos em sua administração, que todos desejamos profícua e exitosa.
O histórico de apatia que Curaçá experimentou nos últimos anos não pode persistir.
O prefeito deve aproximar-se de todas os grupos sociais do município e saber conviver com os antagonismos.
Mais do que isto: governar com sabedoria e ficar atento às necessidades da população.
Um parêntese e uma lembrança:
Há algum tempo um caatingueiro de Patamuté comentou com este escrevinhador que a última vez que a Prefeitura mandou uma máquina limpar sua minúscula barragem foi no governo do prefeito Carlos Luiz Brandão Leite (Carlinhos Brandão), que lhe deu muita atenção por intermédio de José Valberto Matos Leite.
Não procurei saber se à época José Valberto era ou não vereador, nem isto vem ao caso agora. Basta a atuação em favor do munícipe.
Portanto, faz muito tempo. Aquele sertanejo da caatinga, segundo ele, não conseguia ter acesso ao prefeito ou ao secretário da área que cuidava do assunto, se é que à época havia secretário da área que cuidava do assunto ou outra pessoa que se lhe dignasse dar atenção.
Espirituoso, o sertanejo acrescentou:
– Toda vez que vou à Prefeitura de Curaçá procurar o prefeito ele nunca está e um funcionário informa que o “prefeito foi a um enterro”. Vou deixar de ir. Se eu continuar indo lá e o prefeito continuar indo “a um enterro”, ele vai enterrar muita gente e eu não quero isto.
Comentou aquele munícipe, ainda. Ao reivindicar água através de um caminhão pipa, o responsável pelo setor o aconselhou a consumir água da chuva colhida do telhado, o que de todo não estava errado, se a água não fosse para o consumo humano.
Entretanto, o sertanejo de Patamuté argumentou: não era ocasião de chuva e, se fosse, não estaria pedindo ajuda à Prefeitura; e a água do telhado continha impurezas tais que a tornariam imprópria para o consumo humano.
Mas o ilustre senhor, que entendia tudo de água, de Prefeitura e certamente de seu emprego, ponderou que também morou na zona rural e consumiu água semelhante.
Não sei se na última eleição de 06 de outubro esse caatingueiro votou, se votou, no candidato do prefeito ou em seu opositor.
Mas, convenhamos, com uma assessoria assim e esse nível assustador de atendimento ao munícipe, fica difícil qualquer prefeito eleger seu sucessor.
Contudo, a alternância de poder é democrática, saudável e necessária.
“Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição.” (Mário de Andrade, poeta e romancista paulista, 1893-1945)
Dilãn Oliveira/Reprodução facebook
As urnas de Chorrochó elegeram Dilãn Oliveira com votação expressiva: 80,23% dos votos válidos que, em 2024, foram 7.243 no universo eleitoral do município.
Em quadro assim, parece razoável entender que a maioria dos eleitores entregou ao prefeito eleito a esperança em novos horizontes para Chorrochó, a partir de 01/01/2025 e, sequencialmente, nos próximos quatro anos, embora o novo alcaide integre o mesmo grupo político que, no poder, não conseguiu colocar o município em trilhos razoáveis que os levassem a desembocar em melhores dias para a população.
Neste cenário, também é razoável conjecturar que, sendo Dilãn Oliveira integrante do mesmo grupo político do prefeito Humberto Gomes Ramos, a responsabilidade pelos erros, deficiências, equívocos e acertos das gestões das quais fez e faz parte é solidária e não se dilui estritamente na figura do prefeito atual.
Este um senão a ser considerado e que pode orientar e sustentar uma correção de rumos na gestão do novo prefeito. Correção para melhor, por óbvio.
Chorrochó se deve perguntar por que, em aproximadas duas décadas, não saiu do mesmo lugar sob o ponto de vista do desenvolvimento.
Chorrochó não soube escolher? E se não soube, por que a persistência nas escolhas?
A impressão que se tem é que Chorrochó amargou uma quadra do tempo angustiada e desesperançosa, com percalços no caminho que ofuscaram os sonhos da população.
O marasmo não se deve à falta de recursos do município que são generosos, segundo os registros oficiais, mas em razão da ausência de capacidade de priorizar demandas.
Talvez um estilo de governar capenga, acomodado, opaco, ocioso.
O prefeito eleito Dilãn Oliveira é descendente de família bem estruturada: filho de Antonia Possidônio e Antonio Bosco de Oliveira.
Lá para trás, já se vão algumas décadas, conheci Bosco ainda um tanto jovem. Frequentávamos, por vezes, os mesmos ambientes.
Bosco era responsável, sempre ocupado com seus afazeres, aparecia de repente, conversava pouco, contava alguma coisa de sua luta e ia-se embora.
Bosco não era de “alisar banco”, como se diz no Nordeste, demorar-se muito, mas se revelava cordial e atento a tudo que acontecia em Chorrochó. Respeitoso e respeitado, era observador, atento, reflexivo.
Bosco constituiu família honrada e decente.
O prefeito Dilãn certamente tem alguns traços do caráter do pai. Talvez aí resida a esperança de Chorrochó: as boas referências da família ilustre.
Dilãn Oliveira é uma das boas revelações políticas que Chorrochó produziu.
Em Chorrochó, estamos atrasadíssimos no que tange às exigências da administração pública e naquilo que se espera da atuação do Executivo com vistas aos anseios da população.
Mas o município tem uma característica louvável: o convívio entre a situação e a oposição, embora sempre pífia, tornou a campanha eleitoral deste pleito civilizada. Não houve destrambelho, disparate, exageros.
A vitória do prefeito Dilãn Oliveira é alcançada sobre alicerces políticos bem conhecidos, mas isto não significa prova de não desmoronamentos.
A campanha eleitoral acabou. Chorrochó volta à normalidade e dissipa os atropelos, as críticas normais da campanha. Surgem as expectativas, o olhar para o futuro, a esperança de um prefeito dinâmico, trabalhador, voltado para à causa dos mais necessitados, principalmente.
Ao prefeito Dilãn Oliveira não cabe acumular equívocos e erros em sua administração, que todos desejamos profícua e exitosa.
O histórico de apatia que Chorrochó tem experimentado nos últimos anos não pode persistir. Um disparate, se continuar.
Cabe-lhe respeitar os 80,23% dos votos, aproximar-se de todas os grupos sociais do município e saber conviver com os antagonismos. Mais do que isto: governar com sabedoria e ficar atento às necessidades da população.
Ou servir de lição para as novas administrações de Chorrochó.
Post scriptum:
Deixo reverência elogiosa a Eloy Pacheco de Menezes Netto que deu o primeiro passo em direção a novos rumos para Chorrochó.
A surpresa desta eleição de Chorrochó é a não reeleição do vereador petista Luiz Alberto de Menezes (Beto de Arnóbio), político reconhecidamente atuante em diversos mandatos na Câmara Municipal.
“Talvez a velhice seja um naufrágio.” (Milton Hatoum, escritor amazonense)
Quando a ditadura militar corria solta, estudantes, escritores, jornalistas, intelectuais de toda ordem e um sem número de antagonistas do statu quo mantinham seus redutos de boemia, muitos dos quais ficaram famosos.
Intelectuais reunidos tergiversam e incomodam.
Estávamos, por óbvio, nos anos de chumbo, propriamente: governos Costa e Silva, Garrastazu Médici e parte do governo Geisel.
A ditadura, embora una, indivisível, teve períodos mais escabrosos que outros.
O temido Serviço Nacional de Informações (SNI) se infiltrava até em botequins e lá auscultava se havia ou não a presença de subversivos que pudessem incomodar o governo.
Lá, nesses redutos, se discutia e falava-se mal do governo, das pessoas do governo, dos amigos do governo e de todo mundo que não comungasse as mesmas ideias sustentadas naqueles ambientes.
De tanto beberem cerveja e rum, a direita os apelidou de “esquerda diurética”.
Essa esquerda – ou o que sobrou dela – quando alcançou o poder nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, passou a ser chamada de “esquerda caviar”.
É a esquerda deslumbrada e elitista que adora lambuzar-se no dinheiro público e gosta de dizer que cuida dos pobres.
Quando fora do poder, a esquerda critica as mordomias, os exageros das mordomias. Quando chega lá, incorpora-as, acintosamente, ao seu cotidiano de glamour. Os exemplos pululam.
Mas esta é outra história e só faz parte desta crônica porque muitos dos meus amigos daquela época, que também contestavam, já morreram. Sobraram poucos, alguns, que estão por aí cavando a persistência da vida, tropeçando no caminho do tempo, ainda com força de sacudir a poeira.
A velhice chega, mas os sonhos, embora trôpegos, não vão embora. Ela se vem anunciando como uma brisa agradável e depois se vai abancando como uma tempestade. Em muitos casos chega a ser um naufrágio.
Com frequência, chegam notícias de amigos que se foram, alguns inesperadamente, porque não estavam doentes.
Um amigo, dentre os poucos que me restam, gozador e espirituoso, me provocou:
– Não se impressione. Sua vez vai chegar. Não tenha pressa.
Disse-lhe que não tenho pressa de cair nos braços da finitude.
De qualquer modo, embeveço-me de lembranças e vou dando seguidos pontapés nas notícias ruins, que são muitas e chegam aos borbotões.
Prefiro dar espaço às lembranças dos redutos boêmios contestatórios, quando nossos sonhos eram utópicos, ingenuamente utópicos.
É uma forma de achar que ainda irei longe, mesmo que seja uma forma duvidosa.
Como diz a liturgia católica no Prefácio dos mortos, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da futura imortalidade consola, de modo que a vida não é tirada, mas transformada.
Devo terminar esta crônica incoerente e desconexa, lembrando que ainda há horizonte, alvorecer e esperança. E vontade de prosseguir na caminhada, apesar dos tropeços e da escuridão.
Como disse o filósofo idealista Hegel, “a coruja levanta voo com o crepúsculo”.
“É fundamental que existam diversas opiniões, inclusive contrárias à minha.” (Leandro Karnal, historiador e escritor gaúcho).
Os candidatos a prefeito de Curaçá, altaneiro município baiano à margem do São Francisco, tentam engazopar o povo, a todo custo, neste apagar das luzes da campanha eleitoral.
Adriano Araújo, candidato da situação, esgoela-se para herdar o espólio do atual prefeito, com seus méritos, equívocos e descasos à frente dos destinos de Curaçá durante aproximados oito anos, período razoavelmente suficiente para qualquer administrador público, se tiver vontade, ajustar-se ao desejo de soerguimento social de sua gente.
Adriano Araújo/Reprodução facebook
Murilo Bonfim, candidato da oposição e do Partido dos Trabalhadores (PT), coadjuvado pelo apoio do governador, que visitou o município e prometeu mundos e fundos à população, tenta galgar a administração municipal dizendo-se apto e ciente de que vai consertar Curaçá.
Murilo Bonfim/Reprodução facebook
Deus lhe proteja nessa empreitada, se for eleito. Desejo o mesmo ao seu adversário nessa disputa eleitoral.
Aprendi com os mais velhos, nos barrancos curaçaenses do Riacho da Várzea, que “nem tudo que reluz é ouro”. Logo, o cumprimento de promessa de político feita em ano eleitoral não é confiável, no mínimo deve ser vista com reservas.
Todavia, o que impressiona este escrevinhador é o sofrível nível da campanha eleitoral de Curaçá e a deselegância destilada em redes sociais por apoiadores apaixonados dos dois lados, muitos deles sem nenhuma noção do que sejam disputas eleitorais sadias que engrandecem o debate democrático.
Talvez esses apoiadores desconheçam que discordar e antagonizar de forma civilizada são fortes pilares de sustentação da democracia.
O confronto de ideias não deve submergir à pequenez das incompreensões e aos empecilhos das interpretações.
Contudo, os candidatos a prefeito têm-se mantido de forma civilizada, o que é louvável.
Beira ingenuidade a expectativa que apoiadores dos dois candidatos dizem esperar do futuro prefeito a ser eleito neste mês de outubro.
Os feitos do atual gestor foram ofuscados pelas críticas dos adversários, nem sempre sustentáveis, de modo que o candidato do prefeito – que participou da administração e mesmo assim – se vê incapaz de desmontá-las.
Das duas, uma: ou falta robustez de argumentos para justificar os feitos do prefeito ou sobra incapacidade de argumentar.
De outro turno, indubitável é que uma das qualidades do PT, dentre poucas, é entender de campanha eleitoral e inflar o ambiente político com supostas expectativas de vitória, incluídos aí delírios e lorotas.
O PT tem militância aguerrida, habilidade e métodos capazes de convencer os incautos de que seus candidatos são os melhores. O problema é quando o PT chega ao poder, mas esta é outra história.
Os dois lados da disputa de Curaçá fizeram muito barulho nesta campanha.
Entretanto, barulho não ganha eleição, mesmo que amparado em generoso fundo eleitoral, dinheiro público jogado às traças e ao lixo das ruas, por força de nossa generosa legislação.
Contudo, o pára-choque fundamental para coibir desmandos e orientar eficazmente a atuação do gestor, qualquer que seja ele, é a escolha dos membros da Câmara Municipal.
Se forem eleitos vereadores sérios e responsáveis – e Curaçá, neste particular, tem bons candidatos – a população estará segura de que haverá vigilância e fiscalização aos atos do Executivo, independentemente do prefeito escolhido nas urnas.
De qualquer modo, na condição de curaçaense de Patamuté, resta-me esperar que a voz das urnas se decida por um prefeito que corresponda aos interesses prementes da população. Assim, relativamente à escolha dos vereadores.
De todo modo, vamos nos curvar ao dizer das urnas, que são soberanas.
Minha esperança é que o distrito de Patamuté, desta vez, passe a ser bem representado na Câmara Municipal.
“O PT é um partido de trabalhador que não trabalha, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam”. (Roberto Campos, economista, escritor e diplomata, 1917-2001)
As expectativas quanto às eleições municipais de outubro próximo já estão indicando fragorosa derrota do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como em 2016.
No primeiro mandado de Lula da Silva, o PT elegeu prefeitos em 9 capitais e elevou o patamar para 411 prefeituras.
Em 2020 o número despencou para 183 prefeitos e nenhuma capital de estado.
Em 2016 o vexame foi maior.
Neste 2024, as pesquisas sinalizam que o lulopetismo vai perder as eleições na região do ABC paulista (7 municípios), berço político de Lula da Silva, de modo que nem em São Bernardo do Campo há esperança do morubixaba de Caetés ganhar a Prefeitura.
O PT chafurdou na lama dos escândalos de corrupção, petrolão e mensalão, por exemplo, dentre outros e tapetou o caminho com arranhões morais tais que inviabilizaram a seriedade do partido.
Um partido que tem Gleisi Hoffmann (PT-PR) como presidente nacional não pode ser um partido sério.
Aliás, falta de seriedade não é característica ou privilégio somente do PT. Nossos partidos políticos são excrescências, trampolins para dirigentes partidários ganharem dinheiro e fatias de poder nos governos de plantão.
A presidente nacional do partido distribuiu vídeo em data recentíssima, falando em nome do PT, dizendo que a culpa pelas queimadas e desmatamentos é do ex-presidente Bolsonaro.
Inacreditável. Lula da Silva e o PT estão no governo desde 01/01/2023, até aqui não conseguiram governar e cumprir as promessas da campanha eleitoral e, mais de um ano e meio da posse, ainda culpam o presidente anterior pelos desmandos que não conseguem controlar e/ou extirpar.
O PT não conseguiu descer do palanque de 2022 e está fazendo o que sempre fez: procurar culpados e empurrar para seus adversários os erros que continuadamente comete. Trata-se do “nós e eles”, idiotice criada por Lula da Silva.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, ferrenha crítica do governo Bolsonaro, simplesmente desapareceu, escafedeu-se. Aparece somente em situações protocolares, exatamente porque não tem como justificar a derrocada da atuação do Ministério que comanda ou não tem condições de comandar.
A ministra Marina Silva agora quer dividir a responsabilidade do governo com a sociedade. Segundo ela, “tudo o que precisava ser feito, a gente está fazendo. Agora, é preciso que a gente entre em uma lógica de a sociedade também se responsabilizar.” (entrevista ao UOL, 11/09/2024).
Sua Excelência está visivelmente constrangida e sem rumo.
Parêntese: estão calados os artistas brasileiros que tumultuaram o governo Bolsonaro alegando descaso com os índios yanomamis, desmatamento, queimadas e garimpos ilegais, dentre outras acusações.
A explicação é simples: esses artistas hipócritas estão pendurados na lei Rouanet, que o governo Lula escancarou em benefício deles e desfrutando as benesses do governo petista. São partes dos sanguessugas do lulopetismo.
Segundo a Agência Brasil, 63 artistas foram cantar na posse de Lula e paparicá-lo. Não há lei Rouanet que resista a tantos encantos e a tantos hipócritas.
Mas o assunto central deste artigo é Rui Costa, ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil de Lula da Silva.
Rui Costa e Jerônimo Rodrigues/Crédito PT Bahia
Ao apagar das luzes de seu governo, Rui Costa (PT) comprou uma cinematográfica fazenda na região de Itagibá e Ipiaú avaliada em R$ 1,5 milhão.
Ato contínuo, “o governo da Bahia gastou 3,9 milhões de reais para recuperar o aeródromo de Ipiaú, cidade localizada a 360 quilômetros de Salvador, onde Rui Costa adquiriu uma fazenda entre o final de 2022 e o início de 2023”, segundo publicou o UOL.
A Secretaria de Infraestrutura do Estado (SEINFRA) cuidou da obra.
“A obra foi iniciada em 2022, último ano de Rui Costa como governador, e concluída em junho de 2023, já sob a gestão de seu sucessor, Jerônimo Rodrigues” (O Antagonista, 18/09/2024).
Com muita eficiência, o que não é comum nos governos petistas da Bahia, o sucessor Jerônimo Rodrigues (PT) deu continuidade à reforma do aeroporto de Ipiaú, vizinho à fazenda do chefe e já o inaugurou, salvo engano em 11/09/2024.
Como diz o ditado, “as águas só correm para o mar”. Desta vez, para o mar de Rui Costa.